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Refer?ncias

Uma nação tem que ter suas referências. E estes modelos, inspiradores de um povo, precisam ser fundamentados naquilo que é meritório.

É mais do que válido – na verdade é norteador para as gerações (pretéritas, atuais e futuras) referenciar artistas, atletas, políticos, pensadores, cientistas.

Mas quando uma nação tem um Neymar como referência isolada e priorizada, significa que este País está – no mínimo – fora de foco.

O craque do Barcelona que pouco emprestou seu talento a Seleção Brasileira é, porém, o ícone que flutua no imaginário da maioria da juventude brasileira neste 2014. Ele e alguns dos seus pares.

Alias, jogadores costumam habitar o top of mind da população nacional. Muitos brasileiros conseguem a façanha até de escalar times inteiros.

Mas pergunto: esses mesmos jovens podem citar um time de cientistas? Ou de escritores?

Eles serão capazes de lembrar de Miguel Nicodelis e Manuel Bandeira? Carlos Chagas e Augusto dos Anjos?

Ao contrário do que julga nossa vã filosofia futebolística, esse acervo científico-cultural é grande e abrangente.

Na surdina, esse time que efetivamente joga a favor do Brasil, driblou nossa ignorância – e pouco caso – para construir um País mais moderno.

É ou não é uma grande distorção que, para parcela substanciosa da população, um Neymar e seus “chapéus” valham mais do que os conceitos que fundamentam a economia brasileira, formulados por Celso Furtado?

Ou que o corpo parrudo de Hulk ocupe espaço infinitamente maior em nossas mentes do que o primeiro reator nuclear brasileiro, desenvolvido pelo físico Marcelo Damy dos Santos?

Infelizmente, estamos muito concentrados em coisas fúteis. E quem poderia de fato nos inspirar na construção de um gigantesco Brasil está deletado de nossa memória e de nosso foco.

O endeusamento de atletas e de artistas de folhetins eletrônicos não apenas nos distrai: compromete nosso desenvolvimento e fragiliza o País.

A Alemanha, que nos impingiu a mais humilhante derrota dos cem anos de história da Seleção Brasileira, tem o futebol como um complemento; um mero hobby.

Não é, definitivamente, nosso caso. Os dias perdidos de trabalho para assistir os jogos da Seleção Brasileira provocaram abalos na dinâmica financeira do País. Somente no Rio de Janeiro, o ônus ultrapassou a meteórica cifra de 4,4 bilhões. O comércio já amarga redução de pelo menos 20% nas vendas. E até a balança comercial pende de forma desfavorável.

Enquanto isso, a mídia nacional exibia como grande feito a paralisia – cidade após cidade – do País.

Mas se há algum saldo positivo nestas paralisações é a possibilidade de juntar toda a nação para assistir, em conjunto, o vexame da Seleção Brasileira. E capitular, da pior forma possível, a insignificância do futebol.

É inegável que se trata de um patrimônio imaterial do País. Mas teria que ficar circunscrito ao que realmente é: apenas um jogo, um lazer, uma distração. E não ter potencial de influir nos destinos da nação e em sua performance político-econômica.

Tomara que este seja o entendimento a prosperar enquanto digerimos, de braços cruzados, o desfile vexatório da seleção de Felipão.

Que esta humilhação histórica não seja em vão.

Pois se é verdade que dinheiro e pisa só não resolvem quando são aplicados em doses modestas, valeu a surra alemã.

Temos agora pelo menos sete bons motivos para repensar essa paixão.

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