A consultora de e-commerce Patrícia Maciel comprou dois medicamentos de uso contínuo durante o mês de março para evitar o reajuste do setor, que está em vigor a partir deste domingo (31). Ao todo, Patrícia adquiriu nove caixas de remédios — três de anticoncepcional e seis para tratamento de acne.
Patrícia tinha com objetivo evitar o reajuste anual dos preços dos medicamentos, que chegou a 4,33% e ficou acima da inflação de 2018 — os preços em geral subiram 3,75% no ano passado. O aumento foi aprovado pela Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (Cmed).
Isso significa que um remédio vendido a R$ 50 pode custar R$ 52,16 ao longo do ano. Procurado pela reportagem, o Ministério da Saúde afirmou que o reajuste será divulgado até dia 31 de março.
O Sindusfarma Sindusfarma (Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos) afirma que, no acumulado de 2001 a 2018, a inflação geral somou 203,01% e o reajuste ficou em 169,38%.
O sindicato garante, no entanto, que os preços não são aumentados automaticamente por drogarias e farmácias.
Segundo o presidente executivo do Sindusfarma, Nelson Mussolini, a carga tributária sobre os remédios é o que mais impacta o bolso dos brasileiros. “A queda dos impostos dos medicamentos fará com que famílias e governo gastem muito menos para cuidar da saúde, com efeitos benéficos para toda a sociedade brasileira em produtividade, bem-estar e geração de riqueza”, afirma.
O economista da Fundação Getúlio Vargas (FGV) André Braz afirma que as famílias com idosos são as mais impactas pelo aumento do custo dos remédios, já que são pessoas que costumam precisar de medicamentos específicos de uso contínuo.
Hoje, o reajuste das aposentadorias é determinado de acordo com o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), índice que mede a inflação oficial do país. Portanto, o aumento dos medicamentos acima do indicador da inflação indica que haverá aumento no custo de vida destes brasileiros.
“Se as aposentadorias são orientadas pelo IPCA, vai haver um aumento real. Isso mostra que as famílias vão precisar diminuir algumas coisas superficiais para comprar os remédios”, afirma Braz.
As casas com pessoas mais jovens não sentem tanto o impacto do reajuste, já que este público tende a consumir menos remédios.
Para Mussolini, não há como definir qual grupo social é o mais afetado pelo reajuste dos medicamentos. Para ele, os aumentos não chegam à sociedade de maneira tão imediata e comenta sobre os descontos que as farmácias costumam dar aos clientes, seja pelo cadastro no estabelecimento ou pelos planos de saúde.
“Outra questão importante que se pode levantar é que as pessoas com mais idade são aquelas que mais consomem medicamentos e eventualmente poderiam sofrer um impacto maior, mas nós não acreditamos nisso”, afirma.
Mussolini orienta que o consumidor pesquise preços, já que existem medicamentos com o mesmo princípio ativo e para a mesma classe terapêutica de vários fabricantes e em diferentes pontos de venda.
“Dependendo da reposição de estoques e das estratégias comerciais dos estabelecimentos, aumentos de preço podem demorar meses ou nem acontecer”, afirma Mussolini.
Braz afirma que a concorrência faz com que os produtos sejam encontrados por diversos preços. “[Há concorrência] entre marcas e pontos de venda. Existem grandes grupos que comprar lotes enormes de produtos, o que permite descontos que são repassados ao consumidor”, diz Braz.