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Selfie

Assistindo a uma sessão interminável de cliques de uma neta que pousava para a câmera de seu celular, procurando seu melhor ângulo e sorriso, tive um estalo:

Selfie é a solução para todos (ou quase todos) os problemas do mundo!

Seria um antídoto para muitos males; uma força para mover entraves e equacionar os mais intrincados conflitos do planeta.

Antes de revelar como descobri esse mistério, cabe uma explicação semântica:
Selfie deriva de self, cuja tradução mais direta é “si mesmo”.

A psicologia tratou de complicar o significado, criando teorias sobre o self (o eu), expandindo-o sobre as características e aspectos que se combinam para formar a identidade central do ser.

Tem também suas derivações combinadas. O self-made man, por exemplo, ilustra alguém que se fez por si próprio, em função de seu esforço e boas qualidades.

Mas o self redentor da humanidade – e tema desse enredo – ganhou as vogais ie e virou “fotografia digital que uma pessoa tira de si mesma”. E tem tantas e extraordinárias funções que (como disse e repito) tem potencial para resgatar o homem pós-moderno de seus infortúnios e redefinir o curso da história humana.

Ok, estou exagerando. Mas – acredite – nem tanto.

Pois se é verdade que um sorriso abre portas, a largura dos que se ostentam diante das câmeras do celular pulverizariam toda e qualquer porteira.

E onde há selfie, há sorriso!

Já viu alguém tirar selfie de cara amarrada?

A criatura pode estar vivendo um dia infernal – discutiu no trabalho, tem uma pilha de contas para pagar, quebrou o salto do sapato. Mas quando vira a câmera para si e aperta o play, estará armando seu melhor sorriso.

Esse sorriso, o legítimo (e falso, porém largo) sorriso selfie neutralizaria desde conflitos conjugais até as paixões desmedidas das torcidas de futebol. Uniria nações. E tornaria realidade o que Lennon imaginou na sua célebre canção.

Das miudezas às grandezas, o sorriso selfie faria a diferença.

Já imaginou chegar em casa com ele estampado na cara, deixando um mundo de problemas do lado de fora da porta? Ou enxergá-lo no rosto de sua esposa quando ela pergunta com quem você está conectando no WhatsApp?

Não estou brincando. Selfie é a solução para sobrevivermos ao século XXI.

Penso até que deveria ser incluído nas grades curriculares das escolas, preparando as futuras gerações para um mundo muito melhor (risos – ou melhor: kkkkkkk… como costumam expressar nas redes sociais, habitat natural das selfies).

Pois nada – nada mesmo – tem o efeito tão instantâneo de encerrar discussões e dilemas quanto a bendita selfie.

Você já deve ter testemunhado a cena: o casal está com cara de poucos amigos, certamente está enfrentando algum problema conjugal. Mas a um pedido de uma selfie, tudo evapora. A mulher sorri de canto a canto; o marido idem.

Verdadeiros ou ensaiados, sorrisos selfies me fazem bem. E confesso que, ultimamente, estou carente deles.

Quero – pra mim e pro mundo – o que só se ostenta para as lentes dos celulares. E também (como não?) todas aquelas caras e bocas – trejeitos e expressões cuidadosamente ensaiadas para sair bem na selfie.

Claro que alguns desprivilegiados seriam excluídos desses superpoderes.

Sou, por feiura própria, absolutamente avesso a selfies (solitárias ou em grupos).

Estou, com alguns desafortunados, contido naquele grupo que veio para ser influenciado, e jamais influenciar, o mundo regido pelas leis da selfie.

Fazer o que? É a vida!

Que, com selfie, sempre será mais alegre e mais bonita.

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