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Professor Trindade

O historiador Wellington Aguiar sempre reafirmava pela imprensa da Capital, segundo ele baseando-se em documentos históricos, que a Paraibana Branca Dias jamais existiu.

Para aquele historiador, que cita, entre outros, Horácio de Almeida, o mito foi criado pela imaginação do senhor José Joaquim de Almeida, registrado na obra O Livro de Branca, de 1905, e reafirmado por Carlos Dias Fernandes, na novela O Algoz de Branca Dias, de 1922. Ainda de acordo com Wellington, a única Branca Dias que existiu foi uma mulher comum; uma professora, e que vivia em Pernambuco.

Não refutemos a verdade histórica, pois que baseada em elementos científicos; e ciência não se contesta.

Mas que seja dado ao cronista o direito de sonhar. Para o cronista aqui, uma das coisas mais bonitas da Paraíba é a lenda de Branca Dias, desconhecida pela maioria da população. Segundo essa lenda, tão importante quanto a da Yara ou qualquer outra, Branca Dias nasceu na capital da Paraíba, em 15 de julho de 1734, filha de Simão Dias e dona maria Alves Dias, tendo morrido, para alguns, em Portugal, “no lugar onde demora o limoeiro”, às seis horas da tarde, em 20 de março de 1761.

Por que Branca Dias morreu?

Segundo Ademar Vidal, em Lendas e Superstições, ela teria morrido por manifestar recusa à paixão do PadreBernardo, jesuíta, em pleno auge das perseguições da Santa Inquisição no Brasil. O padre, ferido em seu orgulho de homem, entrega Branca ao Tribunal, que lhe obriga à morte na fogueira, como acontecera, também, a JoanaD’arc.

Porém, o mais bonito da história de Branca está registrado, sem dúvida, na peça O Santo Inquérito, de Dias Gomes. Nela, encontramos uma Branca Dias humana, livre, pura, e de um sentimento de amor ao próximo, fora do comum. Influenciada pelo noivo, Augusto, Branca tem como lema cultivar sempre a verdade; aprendera com ele, para quem “por uma causa qualquer alguém tem que sofrer, porque nem de tudo se pode abrir mão, nem mesmo em troca da liberdade, nem mesmo em troca do sol” a sempre defender seus princípios; aquilo que considerava certo.

Na peça de Dias Gomes, segundo o autor totalmente fiel à lenda, o único crime de Branca foi salvar o padre Bernardo, jesuíta que, não fora ela, morreria afogado nas águas do rio Paraíba. Para salvá-lo, a moça da várzea teria praticado até respiração boca a boca; o padre, inconscientemente apaixonado, persegue-a, até entregá-la ao Tribunal da Santa Inquisição, após ter torturado o pai da moça e matado o noivo dela, Augusto.

Estamos com Dias Gomes. O que vale não é a verdade histórica, mas “a verdade humana e as ilações que dela possamos tirar”.

Que me perdoe o amigo Wellington Aguiar (in memoriam), mas, para mim, Branca Dias sempre existiu e “em noites de plenilúnio, quando o Nordeste sopra na copa das árvores”, vejo-a andando pelas ruas silenciosas de João Pessoa, “em busca do noivo, prisioneiro e torturado no convento de São Francisco”.

(Publicado, originalmente, no jornal O Momento, em 1986; aqui, com as atualizações e adaptações necessárias).

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