O tempo e o vento moldam o caráter e as percepções; alteram a anatomia do coração e até da alma. Em mim, esculpiu a capacidade de preservação – que me protege emocionalmente do impacto dos grandes sentimentos.
Aprendi a administrá-los. E só permito que eles se instalem quando estão relacionados aos realmente próximos. São as dores inevitáveis. Desafortunadamente, o inevitável ocorreu mais vezes do que gostaria em minha vida.
De fato, não fui poupado de dores gigantescas: a partida em dose dupla de meu pai e da minha mãe em plena noite de Natal; o trágico assassinato do meu primo Paulinho; a despedida recente da minha única irmã, Celina.
Sem dúvida foi esse histórico que me conduziu ao adestramento d’alma, que me faz tentar passar ao largo da tragédia alheia. E confesso que tenho tido sucesso.
O último grande choque político ocorreu na adolescência, ao testemunhar o brutal assassinato de John Kennedy, alvejado nas ruas de Dallas, em 1963, durante a campanha a reeleição a Presidência dos Estados Unidos.
De lá para cá, venho mantendo minha (pseudo) fortaleza – estrutura insuspeitamente frágil, incapaz de me escudar, ontem, do choque imposto pela morte trágica de Eduardo Campos.
Chorei Kennedy e, a despeito de todos os escudos erguidos ao longo do tempo, não consegui não chorar Eduardo.
A morte nunca é bem vinda. Com ela ninguém se acostuma. Mas, caprichosamente, as vezes ela consegue ser ainda mais dura e inaceitável.
Essa é a vez. E por uma infinidade de razões: Eduardo era jovem e saudável, tinha cinco filhos e uma esposa que escolheu ainda aos 15 anos, era um bravo e destemido nordestino, tinha ousadia e exalava a confiança daqueles que têm convicções incrustadas na alma.
A última vez que o vi, senti orgulho de nordestino e pernambucano. Na sabatina que os presidenciáveis se submeteram na Confederação Nacional da Indústria, há doze dias, ele foi o único efusivamente aplaudido.
No meio da multidão de empresários, prevaleceu a cordialidade ao me saudar pelo nome.
Nem precisava dedicar tanta atenção. Ele já havia conquistado meu voto. Pois simbolizava a mudança que eu desejo para meu País e minha região.
Estes sonhos serão sepultados junto com ele? Tenho certeza de que as coisas não acontecem por acaso. Deus não o levou no mesmo dia da morte de seu avó, Miguel Arraes, sem propósito. Certamente esta despedida prematura deixará marcas.
E seus sinais logo estarão visíveis. É só aguardar.