Sempre imaginei a cena: uma pessoa que morou no Altiplano Cabo Branco no início dos anos 2000 e, por algum motivo teve que se ausentar da Paraíba, volta ao bairro 14 anos depois.
Não é preciso ter muita imaginação para prever a reação…
Perplexidade. Choque. Surpresa.
Onde foi parar o Altiplano que estava aqui na década passada?
Não existe mais. O boom imobiliário alterou profundamente a fisionomia da região, substituindo o bucolismo das pequenas granjas pela imponência de torres de alto padrão – algumas com mais de 50 andares – que bafejam ares de modernidade e pujança.
Sentimento análogo de surpresa me invadiu no meu retorno à China, exatos catorze anos depois da primeira visita.
A transformação é impactante. E a pergunta é inevitável: onde foi parar a China rural?
Já era. O País passa pela maior transformação urbana de sua história. Cidades inteiras são planejadas, ampliadas e construídas para acomodar a população que se desloca dos campos para os grandes centros.
Quinhentos milhões de chineses (mais de dois brasis) dizem adeus aos campos e migram para as cidades. E eles vão para suas versões do Altiplano.
Numa viagem de mais de mil e 500 quilômetros entre Beijing (Pequim) e Shanghai, em um trem bala que se move a 300 km por hora, contemplei centenas de novos núcleos urbanos.
A grandeza do que se vê é realmente impactante.
São torres gigantescas, que abrigam centros comerciais e residenciais. Dos dois lados da ferrovia, não existem mais espaços vazios.
Admiro a pujança chinesa. Assim como admiro a modernização do Altiplano.
Mas da mesma forma que amigos sempre me questionam sobre a capacidade econômica de João Pessoa de sustentar o boom imobiliário do nosso bairro mais dinâmico, também questiono o enriquecimento surpreendente e rápido dos chineses.
Esse crescimento está mesmo sendo sustentado pelo desenvolvimento econômico?
Parece que não.
Pequim tem recorrido a empréstimos massivos para impulsionar sua modernização urbana. O resultado disso, segundo levantamento feito pelo Financial Times, é um processo de endividamento brutal.
Além de gigante, a dívida chinesa se acumulou rapidamente – quase dobrando de valor em menos de uma década. Saiu de 148% em 2007 para o patamar recorde atual de 237% do Produto Interno Bruto do País.
E não é pouco dinheiro – são 163 trilhões de Yuans (US$ 25 trilhões).
Crescimentos demandam – sempre – contas a pagar.
Os chineses pagarão a deles?
O Altiplano se pagará?