Os recifes de corais marinhos da Paraíba estão passando por um gravíssimo processo de branqueamento. Se essa situação perdurar por mais dois meses, representará séria ameaça à biodiversidade do ecossistema, alertam os pesquisadores da Universidade Federal da Paraíba (UFPB).
Segundo o estudo do Laboratório de Ambientes Recifais e Biotecnologia com Microalgas da UFPB, os corais mais afetados no litoral paraibano estão na Praia do Seixas, no Litoral Sul. Das 1,1 mil colônias monitoradas, 93% estão totalmente branqueadas.
No Bessa, na Grande João Pessoa, em monitoramento feito entre março e maio, os pesquisadores observaram que 90% dos corais estavam branqueados. Até janeiro, das 3,6 mil colônias monitoradas, 48% estavam saudáveis, 38% branqueadas e 13% doentes. Ou seja, há aumento vertiginoso do processo de branqueamento.
“Nunca vi algo igual antes. E olha que eu mergulho, estudo e pesquiso os corais da Paraíba desde 1999. É o maior evento de branqueamento de corais registrado para a Paraíba”, alerta Cristiane Sassi, coordenadora do laboratório, professora do Departamento de Sistemática e Ecologia e especialista em cnidários, organismos pluricelulares que vivem em ambientes aquáticos.
Ela explica que o branqueamento dos corais não significa que eles estão mortos, mas que estão debilitados e vulneráveis. “Os corais daqui do nosso estado da Paraíba correm risco de morrer, caso o estresse que provocou o massivo branqueamento perdure por mais de três meses”, alerta a professora.
Situação igual foi registrada nos recifes de Porto de Galinhas e Tamandaré, no Estado de Pernambuco, por professores da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), informa a pesquisadora. Nos recifes da Austrália, em março deste ano, também foi registrado o maior evento de branqueamento dos últimos dez anos.
Segundo a professora Cristiane Sassi, esse evento de branqueamento ocorre ciclicamente, mas agora está se tornando mais frequente, assim como as anomalias térmicas estão ocorrendo com maior intensidade. Como o branqueamento já perdura por cerca de três meses nos recifes paraibanos, os pesquisadores temem que isso dificulte a recuperação dos corais.
Os corais são animais marinhos que fazem associação com as zooxantelas, microalgas que vivem em seus tecidos. Essas microalgas são responsáveis por 70% da alimentação dos corais. Além disso, são a fonte do oxigênio que eles necessitam para sobreviver e são responsáveis por sua coloração, pois o tecido do coral é translúcido.
O branqueamento ocorre quando os corais perdem ou expulsam suas zooxantelas. Com isso, eles perdem sua fonte de alimento e de oxigênio que necessitam para sobreviver, assim como sua coloração.
Responsável pelo projeto “Saúde e conservação dos recifes costeiros da Paraíba e mitigação dos impactos do turismo local”, financiado pela Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, a professora Cristiane Sassi afirma que a exploração descontrolada do turismo natural está entre as razões da degradação dos corais.
De acordo com Cristiane, várias causas são apontadas por provocar o branqueamento: as de origem local, como poluição marinha, alta taxa de sedimentação, pisoteio e outras ações negativas do homem; e as de origem global, principalmente o stress térmico, com elevação da temperatura dos oceanos.
A mortalidade em massa dos corais geralmente ocorre quando o estresse que provocou o branqueamento, seja ele de origem local ou global, perdura por mais de três meses.
“Entendo que somente com mudanças de nossas posturas, reduzindo a emissão de gás carbônico, a fim de atenuar o aquecimento global, e com a diminuição da poluição dos mares, do uso dos plásticos e com o fim das queimadas, podemos contribuir na conservação dos recifes. Além disso, a prática de condutas conscientes ao se visitar esses ecossistemas também é uma ação que auxilia na sua conservação”, explica Cristiane Sassi.
Uma das propostas é a ordenação do turismo com a implantação de um programa permanente de ações educativas para orientar os visitantes quanto à prática de condutas conscientes ao visitarem as piscinas naturais.