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Correios

Estou desapontado com os Correios.

Correios com S. Por favor não confundir com Sistema Correio – esse me dá trabalho, mas também muita satisfação.

A empresa centenária mereceu por muitos anos – décadas e mais décadas – o respeito da população brasileira. E até uma carga generosa de afetividade.

Empresas postais, aliás, sempre carrearam sentimentos fraternos mundo afora com suas coleções de histórias pitorescas e até heroicas. E, muitas vezes, históricas.

Dentro do Brasil, os Correios eram imbatíveis. Quase onipresente na vida cotidiana, fazendo parte das histórias das famílias.

Fez parte, com certeza, da minha infância.

Em um cenário de baixa concentração urbana e dilemas sociais sob controle, o carteiro era um amigo, tratado pelo nome. Sua vinda era aguardada com ansiedade. E, não raro, saudada com um bom lanche.

O carteiro era um arauto. Um encurtador de distâncias. Quase uma lenda urbana.

Quantas participações os Correios não tiveram em filmes? Quantos enredos a chegada da carta não permeou?

O carteiro e o poeta (meu preferido) expôs na grande tela a áurea lúdica que envolvia o oficio.

Envolvia. Não envolve mais. Hoje, parte da população contém o ímpeto de soltar os cachorros.

A verdade é que os Correios chegam ao século XXI sem qualquer ludismo. Primeiro porque as cartas (recheadas de notícias dos que estão longe, de declarações de amor e confissões secretas), deram lugar as faturas.

E a maioria delas chegam atrasadas, nos condicionando a uma inadimplência forçada.

Junto com o ludismo escoou a confiança. E a eficiência

Ao longo dos últimos anos, os brasileiros assistiram a saída de cena da mais antiga e querida empresa do País para dar lugar a uma corporação capenga, carente de modernização, ineficiente.

No tempo da troca de informações virtuais, o carteiro já não é mais um mediador de mensagens. A correspondência formal se tornou obsoleta. E a estrutura por traz dele está se desintegrando a olhos vistos.

Parte em função de um sindicalismo monopolista, que nos brinda com greves cíclicas e paralisações – a exemplo desta que atravessamos há pouco.

A continuar nesse ritmo, os Correios permitirão que a história de uma empresa centenária seja lançada na sarjeta.

É preciso mudar conceitos, quebrar monopólio, resgatar o respeito – que não serão materializados, certamente, a partir apenas de mudanças de logomarcas.

Muito pelo contrário. A antiga pelo menos nos remetia a tempos melhores. A nova já nasceu sob o manto da falência.

O que o Brasil pode fazer para restaurar a velha e boa história criada pelos Correios?

Não dá para resgatar o antigo charme. Até porque não podemos nem queremos voltar à tinta e o papel. Mas se o carteiro do novo século só traz compras e contas, que pelo menos seja pontual.

Atue em uma logística eficiente, dentro de um sistema postal antenado com as novas demandas da população.

Pois, entre greves e atrasos, perdas e danos, o carteiro perdeu junto a ludicidade. E virou enredo sem direito a final feliz no dia a dia do cidadão brasileiro.

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