Dificuldades do primeiro passo

Você conhece algum devoto de Nosso Senhor do Bom Começo?

E do Senhor do Bom Fim?

Quem encerra um ciclo, chega ao final de alguma coisa – muitas vezes em conseqüência de um fracasso – tem seu padroeiro para evocar as forças divinas.

Já os que começam…

Nada. Nenhum santo sequer figura no “catálogo” celestial da Igreja para ajudar os que estão saindo da inércia e dando seus primeiros passos.

E até certo ponto esta é uma ausência compreensível.

Em uma primeira análise, os que lidam com o fim demandariam mais apego ao sobrenatural. Pois estão quase sempre desgastados; muitas vezes amargurados com todos os contratempos que redundaram no epílogo.

No outro extremo, sobra euforia aos que estão iniciando uma trajetória – seja de uma vida, de um relacionamento ou de um negócio.

Nos momentos iniciais, especialmente no mundo empresarial, esse excesso de confiança – e até de sucesso antecipado – não poderia estar mais deslocado da realidade.

Pelo que conheço desse metiê, garanto: os que estão enfrentando um início precisam – e muito – de um Senhor do Bom Começo. Pois este é realmente um momento crucial.

Não se consegue vencê-lo sem doses cavalares de perseverança, obstinação e aplicação – sem os quais é impossível resistir aos entraves, aos maus agouros que surgem de todos os lados e até a tentação da preguiça.

Esta semana, testemunhei duas jovens que estão encarando este começo e foi impossível conter o Déjà vu – aquela estranha sensação de “já passei por isso”.

A primeira delas me serviu, às 8 horas da manhã de um domingo, um saboroso café da manhã em seu estabelecimento recém inaugurado. Ela estava lá, pessoalmente, comandando a gestão de seu primeiro empreendimento, montado com suporte do pai.

A outra jovem, que tem loja em João Pessoa e acabou de inaugurar mais duas filiais – ambas em Natal – divide seu tempo entre as duas cidades, enfrentando o desgaste da BR 101.

As duas já perceberam – ainda neste início – que presença e transpiração são dois dos principais ingredientes para uma receita empresarial de sucesso.

Ingredientes que venho utilizando fartamente ao longo da minha vida empresarial – cuja trajetória refiz, em ritmo de flashback, ao me deparar recentemente (por mero acaso) com uma peça importante desse enredo:

Minha primeira declaração de Imposto de Renda.

Era 1968 e o jovem Roberto dava seus primeiros passos em direção ao mundo dos negócios.

Minha caminhada já pode ser considerada longa. Na minha memória, refrescada por minha primeira declaração de IR e pelos exemplos das jovens empresárias, uma lembrança está bem vívida: aqueles primeiros passos foram os mais difíceis de toda a trajetória.

Mas a despeito de todos os percalços; de todos os desafios; de toda a crença que envolve o início de um negócio, posso atestar: no final tudo valerá a pena.