Quem me conhece sabe que sou disciplinado. E extremamente consciente do valor do dinheiro – principalmente com gastos que não estão sob nosso controle.
Minha disciplina e consciência, porém, não têm me protegido dos assaltos eletrônicos que nos aguardam nas estradas do País.
E quem estaria a salvo dessas emboscadas?
O brasileiro perdeu completamente o controle e capacidade mental de assimilar a variação de velocidade imposta pelos nossos órgãos de trânsito – em todas as suas esferas (municipal, estadual, federal).
Uma arapuca tão bem armada que – desconfio – nem Senna sairia ileso.
Não sou nenhum Ayrton, mas imodestamente me considero um motorista acima da média – herança dos meus treinos de kart, onde somos capacitados para tomar decisões rápidas em frações de segundos.
Mas como prever que, na curva adiante, o limite de velocidade das rodovias brasileiras (de 100 quilômetros) baixará subitamente para 80 quilômetros e, ato contínuo, permitirá que a velocidade inicial seja retomada para, nos metros seguintes, determinar que o teto da velocidade estacione na casa dos 30 quilômetros?
Em minhas incursões pela região, anotei nada menos do que sete limites de velocidade – a saber: 30, 40, 50, 60, 70, 80 e 100 quilômetros.
E não se enganem: por traz de tudo isso tem sempre uma empresa, que disputa os serviços a tapa, para abocanhar parte do lucro gerado com multas.
Detalhe: algumas lombadas funcionam em regime de 24 horas; outras são desligadas a partir de determinado horário (sem aviso prévio).
Diante dessa gangorra, nossas prioridades nas estradas mudaram.
Antes, o motorista se preocupava em não bater e chegar são e salvo em seu destino.
Hoje, um percurso entre João Pessoa e Recife, por exemplo, se transformou em um ato de extrema perícia – no limite do impossível – para escapar das ciladas, intencionalmente armadas para tomar dinheiro do cidadão.
Você tira seu carro da garagem, dá umas voltas no entorno e não sabe quanto vai gastar com o périplo.
Ultimamente, na tentativa de escapar das ciladas, tenho usado minha mulher, Sandra, como co-pilota. Eu me concentro no trânsito, ela nas lombadas – inclusive as físicas, quase sempre mal sinalizadas, que já produziram tantas vítimas.
Devo ressaltar que sou defensor da disciplina no trânsito, evitando os excessos de velocidade, responsáveis por inúmeros sinistros.
O que não posso concordar é com essa estratégia deliberada para nos assaltar. Esse verdadeiro “mãos ao alto”, que tem substituído a real missão dos órgãos do trânsito: orientar o brasileiro a manter suas mãos no volante, concentrado no que realmente importa, que é a segurança.
E é isto o que efetivamente me incomoda e revolta: a intenção.
A brusquidão com que os limites de velocidade mudam sinaliza, de forma muito clara, que a última preocupação dos órgãos de trânsito é com a segurança.
O que eles desejam mesmo – e são muito bem sucedidos em suas empreitadas – é arrecadar.
Com um foco desses, não surpreende que o trânsito do País siga enlutando as famílias brasileiras e figurando entre os mais violentos do mundo – enquanto esvazia cada dia com mais voracidade o bolso do cidadão.