Quem acompanha o noticiário da grande mídia brasileira acumula sensação de que o Brasil caminha no fio da navalha, sacolejando ao sabor de instabilidades.
Mas onde está, concretamente, essa crise? Onde mora, e quais são os sinais, da propalada fragilidade do País?
Um dos setores mais estratégicos de qualquer economia é o bancário. Afinal, é justamente esse sistema que multiplica a quantidade de dinheiro e, conseqüentemente, a oferta de crédito.
Não é preciso ser expert para entender que criação e manipulação de dinheiro – e oferta de crédito – formam a coluna vertebral da economia, com quem o restante do corpo mantém relação de co-dependência para se manter saudável.
E os bancos brasileiros mostram uma musculatura de dar inveja até aos gigantes americanos.
A rentabilidade média dos bancos no Brasil, por exemplo, foi quase duas vezes maior que a dos bancos dos Estados Unidos em 2011.
Segundo levantamento feito pela consultoria Economatica, enquanto o ganho médio (retorno sobre patrimônio líquido) dos bancos brasileiros ficou em 13,97%, o dos americanos ficou em 7,63%.
Mais do que lucrativos, nossos bancos são mais estáveis. Aqui, assistimos incorporações e fusões. Lá, uma quebradeira de assustar.
Nos últimos sete anos, nada menos que 492 instituições bancárias fecharam as portas na América.
Foram três em 2007, às vésperas da eclosão da grande crise, e mais 25 falências no ano seguinte. Entre 2009 e 2010, o sistema sofreu talvez o maior encolhimento de sua história: 297 bancos fecharam as portas, tornando a bolha financeira ainda mais aguda.
Nem mesmo a retomada do crescimento impediu que os bancos continuassem o processo de encolhimento. Ao passado, 24 instituições fecharam – o menor volume de falências desde o início do processo, há sete anos.
Claro que existem diferenças gritantes entre os sistemas bancários do Brasil e dos EUA. Enquanto lá o perfil é de investimento regional – o que fez o sistema americano acumular mais de sete mil instituições – aqui a configuração é de concentração.
Os dez principais bancos brasileiros, elencados pelo valor de seus ativos, são Banco do Brasil, Itaú, Bradesco, BNDES, Caixa Econômica Federal, Santander, HSBC, Votorantim, Safra e BTG Pactual. Menção honrosa para o Citibank em 11º e para o Banrisul em 12ª.
Fazendo uma simplificação relativamente realista, não é exagero dizer que temos apenas 5 bancos: BB, Itaú, Bradesco, CEF e Santander. Com boa vontade, podemos incluir o HSBC, cujos ativos são quase nove vezes menores que os do BB.
Diversificado ou concentrado, porém, o sistema é – em qualquer perfil – exponencialmente revelador da saúde econômica onde se insere.
E enquanto termômetro, os bancos brasileiros mostram que o cenário real da economia é muito mais estável do que supõe o discurso panfletário.
E que as instabilidades muito provavelmente estejam sendo afiançadas por investidores que têm data certa para sacar seus ativos:
5 de outubro de 2014.