Historicamente, as mulheres foram vítimas de preconceito na literatura brasileira. Basta dizer que no século XIX os livros didáticos ignoravam, solenemente, o nome de mulheres, excetuando-se Francisca Júlia; e, assim mesmo, para destacar que houvera sido ela a única a conseguir colocar em prática a impassividade e impessoalidade dos parnasianos.
Não se justifica, porém, o inadmissível sectarismo da Universidade de São Paulo (USP), ao relacionar, na lista de leituras obrigatórias para as provas do vestibular entre 2026 e 2028, apenas obras escritas por mulheres.
Isso é o cúmulo do absurdo!
Ora, não se pode mensurar a qualidade e a importância do escritor,tomando por base apenas o gênero dele. Há homens e mulheres brilhantes nas letras e que, obviamente, devem ser lido(a)s.
A procura por diversidade nas letras não justifica a exclusão, nas listas de leitura apresentadas aos estudantes, nomes consagrados da literatura brasileira, como, por exemplo, Machado de Assis, nosso escritor maior, reverenciado em todo o mundo.
Os cânones são construções seculares, que podem até mudar, ao longo do tempo, por análises abalizadas da crítica e do mundo acadêmico, mas não por juízos de valor que tomam como base critérios político-ideológicos, em detrimento dos crítico-literários.
Ítalo Calvino, no seu excelente “Para Ler os Clássicos”, destaca a importância do conhecimento estético para o estímulo à imaginação e aperfeiçoamento do indivíduo.
Por que a USP, para contemplar a diversidade, não adotou o justo critério da paridade, como fizeram a UFSC e a UFRGS que adotam 50% de livros escritos por mulheres?
Momento de poesia
“Transviver…
Eu, decerto, a esqueci… Meu sonho, entanto,
jamais a esquecerá. Ela é o motivo
das horas que revivo e em que transvivo
pela imaginação o extinto encanto.
Escolho um astro no Estelário: e enquanto
o astro esplende nos céus, eu penso, e vivo
nesse longo silêncio evocativo
do pensamento, as coisas que descanto.
Algum dia, quem sabe? hei de revê-la,
não para perturbá-la, ou possuí-la,
que é um crime perturbar a luz da estrela.
Mas, para, vendo-a, ver, um só momento,
o contraste de sua luz tranquila
com a chama inquieta do meu sofrimento…”
(Hermes Fontes)