Gente inteligente

O poeta tinha razão: beleza é mesmo fundamental. Porém, não há beleza que resista a ausência da inteligência.

E isso o poeta só não escreveu porque não rima. Ou, talvez, por acreditar que estava implícito. Afinal, não há beleza na burrice.

Não há, de fato, formosura que floresça numa alma insossa, temperada pela ignorância. Nem irradiação sexual que dure na ausência do brilho que só neurônios pulsantes conseguem emprestar ao olhar.

Sou do time dos que creem que um belo cérebro é mais fascinante do que um perfil curvilíneo.

Nada contra as curvas (muito pelo contrário), mas a infância na casa do Doutor René, cercado por gênios das ciências sociais como Darcy Ribeiro e Gilberto Freyre, me doutrinou na busca constante pela companhia dos inteligentes.

As mulheres, que são mais inteligentes e menos visuais, sabem em que direção olhar: muitas delas já me confidenciaram que preferem o cérebro ao músculo.

Verdade que essas confidências podem ser tão somente estratégias femininas (muito inteligentes, diga-se de passagem) para iludir os que não foram bem aquinhoados pela natureza.

Mas a jurisprudência amorosa está cheia de casos em que as beldades preferiram estar mais perto do intelecto do que dos galãs.

Será que a inteligência é assim tão atraente?

Pragmaticamente posso afirmar que a inteligência existe sem beleza. A beleza, porém, não sobrevive à burrice. E acredito que foi isso que Vinícius de Moraes quis dizer com seu poema famoso: a beleza é fundamentalmente inteligente.

Mas quando os céus conspiram e unem beleza e inteligência é que, verdadeiramente, a magia acontece.

Sou testemunha, muito afortunada, desse encontro quase sobrenatural. Pois acordo todos os dias para renovar essa mágica realidade, que tem nome e sobrenome: Sandra Moura.

Sua sabedoria elegante; sua altivez de caráter; a curiosa sensualidade de mulher realizadora e realizada profissionalmente; o brilho irradiador da energia que desprende nesse lapidar constante d’alma faz da minha companheira uma mulher de beleza extrema.

Se ela tem beleza e inteligência, tenho em abundância o terceiro melhor predicado que um ser humano pode desejar: a sorte. E Sandra confirma, com o sorriso que continua a sacudir meu coração 20 anos depois, que sou de fato um cara muito sortudo. Saúde!