A longevidade tem algumas vantagens.
Uma delas é o aprendizado sobre tolerância.
O tempo – com todas as experiências que proporciona e a paciência que impõe – exerce uma pedagogia realmente efetiva.
Ensina, por exemplo, o sujeito a respeitar as individualidades, as crenças particulares e as peculiaridades (tão distintas) desse animal complexo e estranho que é o homem.
Um aprendizado que passa pela consciência plena de que a verdade é relativa.
Incluindo neste pacote a consciência política (assim com as teorias econômicas e tantos outros valores que cultivamos).
E que bom que assim seja! Que nada (ou quase nada) entre o céu e a terra tenha o poder do absolutismo!
Pois não tenho a menor dúvida que uma das principais ferramentas de sobrevivência da humanidade – o que nos trouxe quase sãos e salvos até aqui – é a flexibilidade.
Você deve estar perguntando: onde a tolerância, mais a relatividade das coisas e a flexão das ideias encontram com a cegueira enunciada no topo?
Sem elas, a convivência ideológica seria uma missão impossível.
Especialmente porque nem sempre elas são manifestas de forma pura.
Não estou – claro – incluindo os alienados no debate (pois estes devem ficar onde originalmente vivem: à margem da prosa, da poesia e da história).
Refiro-me especificamente aqueles que exercem de forma consciente suas ideias políticas neste instante brasileiro tão delicado.
Sou de um tempo em que era mais fácil identificar e separar o joio oportunista do trigo da convicção.
E, diga-se de passagem, a maioria dos ideólogos que fazia parte da minha convivência tinha – de fato – pureza de ideias. Eles acreditavam no que defendiam, sem interesses outros além da fidelidade as suas crenças.
Hoje eles são minoria.
A imensa maioria joga um jogo que me surpreende, decepciona e enoja.
Esses “ideólogos”, que supostamente possuem embasamento moral e intelectual, parecem ter feito pacto irremediável com a imoralidade.
Não importa o que (nem quem) defende. Porque, no final das contas, estão defendendo seus próprios interesses.
E este é um jogo de vale tudo:
Vale se abraçar com a indignidade.
Vale mitificar deuses enlameados.
Vale beatificar criminosos.
Vale beijar as vestes imundas da corrupção.
De que outra forma pode ser entendida a decisão de cidadãos cultos – bem informados e bem formados – de abraçar personagens políticos comprovadamente envolvidos em tudo quanto é desmando descortinado nos bastidores do poder público?
Poderíamos apostar na cegueira política.
Mas aí nós é que estaríamos cegos.
Porque esta opção tem nome e sobrenome:
Um deles é oportunismo.
O outro é mau-caratismo.