A gente costuma falar assim:
– Você vem, não vem?
– Não, eu não vou deixar de ir.
Quando deveria falar assim:
– Você vem?
– Sim, vou.
Os não que pronunciamos em profusão não estão aí por acaso. Todas as negativas que expressamos diariamente, mesmo quando a lógica pede a afirmação, é tão somente um dos termômetros que medem a nossa colossal predisposição cultural ao pessimismo.
Em outras culturas, bem mais otimistas, o não é um adereço linguístico para ser evitado.
Uma delas, que eu considero referência da excelência, é o Japão. Lá, mesmo quando nega, o povo acena a cabeça positivamente.
E eles estão certos: o positivismo é mola propulsora de uma vida feliz – seja na esfera profissional, seja nos relacionamentos interpessoais.
Na contramão dessa tendência, o pessimista parece condenado ao fracasso. E provoca um efeito contaminante em todo o tecido social em que se insere.
Como é ruim, por exemplo, trabalhar com uma pessoa negativa. Ou ter um governo com perspectiva pessimista.
No Japão, toda uma filosofia é colocada em ação, milenarmente, para se afastar da cultura do não e do negativismo.
E foi lá no Japão que se desenrolou o enredo que relato a seguir, ilustrando como o positivismo é estrategicamente cultuado na terra do sol nascente.
Um executivo precisava que a empresa funcionasse durante o final de semana. Então chamou seu gerente de produção para comunicá-lo sobre a expectativa de que a carga de trabalho seria esticada e incumbí-lo das providências necessárias. As ordens foram acatadas positivamente.
Dois dias depois, voltou a chamar o gerente para, desta vez, confirmar a necessidade de funcionamento da empresa no final de semana. Ao fazê-lo, perguntou sobre as providências solicitadas. Prontamente, o gerente garantiu que todas as ações foram tomadas.
Ficou decidido que na sexta-feira haveria uma reunião, onde de fato seria batido o martelo sobre o funcionamento da fábrica no final de semana.
No dia, o executivo deu o comando final, revalidando o prolongamento do expediente no sábado e domingo. O gerente, mais uma vez, afirmou que todas as providências foram tomadas para que os turnos extras entrassem em operação. Ao que o executivo perguntou: o senhor também virá?
O gerente então disse que naquele final de semana ocorreria o aniversário de quinze anos de sua filha. Em nenhum momento, porém, disse que não viria.
Mas diante do exposto, mereceu a compreensão de seus superiores e foi liberado.
Qual o moral da história?
Mesmo sabendo do impedimento que o faria se afastar do trabalho, o gerente em nenhum momento obstaculou os planos da direção da empresa ou deixou de agir para que o expediente extra ocorresse. Tampouco disse que não viria, pois em sua cultura é proibitivo tomar essa iniciativa, cabível aos seus superiores.
Esta história foi contada a um empresário paraibano durante viagem recente ao Japão por um alto executivo de uma grande corporação, a quem visitou e – por cortesia – levou um presente. Ao recebê-lo, ouviu a fábula empresarial japonesa.
Quer saber qual era o presente?
A bandeira da Paraíba, ostentando aquele portentoso Nego.
O executivo japonês, claro, recebeu educadamente o presente – que deve agora repousar em alguma gaveta hermeticamente fechada.
E, muito provavelmente, os empresários nipônicos precisem de mais alguns milênios para entender como um povo pode conceber uma bandeira que destaca o não.
Confesso: também não entendo. A Paraíba precisa de um sim.
Não é não?