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Olhar de despedida

Em meados dos anos 70, quando o mercado imobiliário de João Pessoa ainda engatinhava e a construção civil ainda era bastante incipiente, ele era a principal referência para a locação, administração e venda de imóveis. Ninguém alugava casa ou apartamento se não fosse por intermédio da Organização Bonfim, comandada por Hermógenes Bonfim , um cara alto, magro, espadaúdo, que tinha como característica a prestimosidade. Atendia a todos com afetividade, conquistando de imediato a confiança do cliente.

Era o caminho para todos que buscavam onde morar ou onde investir. Foi nessa época que mantivemos o nosso primeiro contato quando o procurei para alugar um apartamento no edifício Caricé, o meu primeiro endereço depois que me casei e ganhei o meu primeiro filho.

Fui recebido com tanto carinho que nos tornamos amigos e embora tivéssemos acabado de nos conhecer, dispensou-me o avalista na hora da assinatura do contrato de locação. “Tá doido rapaz, o teu aval é o nome do teu pai e da tua família”, disse-me na ocasião, comovendo-me com o gesto.

A partir daí mantivemos uma longa convivência através dos anos. Ele cresceu com a cidade e transformou-se numa das mais fortes lideranças do setor. Sempre pensando no coletivo, foi fundador do Conselho Regional de Corretores de Imóveis da Paraíba, o Creci-PB, órgão que hoje mantém mais de 10 mil profissionais habilitados ao exercício da profissão . É dele a carteira de numero 001 daquela entidade que promove a valorização de uma atividade que antes dele, praticamente, não existia.

Atingido pelo Mal de Halzheimer, uma doença degenerativa que ainda hoje desafia a ciência mundial, Hermógenes Bonfim desapareceu do circuito social. Afastado dos amigos que, como eu, não sabiam do seu paradeiro e nem das suas condições de saúde, restrito aos cuidados da familia, muito pouco lhe resta do homem que já foi.

Esta semana vinha pela praia dirigindo o meu automóvel quando o avistei caminhando na calçada, levado pelas mãos seguras de sua mulher, Herotildes, que o acompanha em todo esse calvário. Não resisti. Parei o carro e fui até ele.

Não me importa que não tenha me reconhecido. Só queria lhe mostrar o meu olhar e lhe dar um carinhoso abraço de despedida.

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