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Paixão

Sou – confessamente – um apaixonado por jornal.

E, não raro, esta paixão entra em conflito com minha formação técnica: o economista querendo fazer as contas dos custos; o leitor voraz insistindo na sobrevivência tátil de seu objeto de afeto.

Estaria esta paixão me cegando?

Venho paulatinamente entendendo que esse afeto não turvou meu feeling.

Pois a profecia de que o papel já era não é mais tão auto-realizável. E quem apressou seu sepultamento – jurando que colocava uma pá de cal numa vítima de morte natural – entende agora que cometeu, na verdade, um suicídio empresarial.

A percepção que se cristaliza aqui e alhures é de que o mercado ruma na direção contrária a esperada e projetada.

Uma das mais fortes sinalizações veio do presidente do Grupo Abril, Walter Longo, que admite: também se deixou confundir pelos sinais e chegou a acreditar que sua missão era levar seu catálogo (onde figuram os mais importantes títulos impressos do País) para o mundo digital.

Uma leitura mais acurada dos cenários, porém, o fez corrigir as coordenadas.

Longo hoje defende que o universo online seja abraçado como adição do impresso – jamais como seu substituto.

Mas que sinais são esses que fazem os principais timoneiros do mercado editorial – o novo dono do Jornal do Brasil, Omar Catito Peres, também planeja o retorno da versão impressa – recalcularem suas trajetórias de investimentos?

O mais seguro deles: o mercado.

Os principais títulos do País experimentaram crescimento de circulação. E aparecem nas bancas recheados de publicidades.

Os sinais de renascimento dos impressos estão, na verdade, em toda a parte.

As vendas de livros em papel subiram 3 por cento nos Estados Unidos, enquanto as de livros eletrônicos caíram.

Que leitura se pode fazer desse fenômeno?

Tomo como um indicador inconteste de que folhear um livro (ou um jornal) é um ritual aconchegante que o leitor resiste a substituir pela frieza tecnológica.

Mais do que sensações táteis, a mídia impressa consolida na era da instantaneidade sua característica mais marcante: a maturidade de suas notícias – trabalhadas e apuradas para aferir a verdade com mais precisão.

Um contraponto seguro em meio à vertiginosa velocidade da web que rende, com impressionante repetição, dados equivocados e até mentirosos.

Palpável e seguro, o impresso prolonga sua vida.

Não sem razão, a maior plataforma de e-books do planeta (a Amazon, dona do Kindle) voltou a apostar nas vendas de livros impressos, abrindo novas livrarias – inclusive no Brasil, onde já responde por 5 por cento das vendas físicas de livros.

Não deixa de ser uma ironia assistir a empresa que domina o mercado de livros eletrônicos – e já foi encarada como algoz definitivo das editoras e cadeias de vendas de livros – se render ao papel.

E esta não foi uma rendição sem luta.

A Amazon e outras empresas do segmento tentaram – e muito – mudar os padrões de consumo.

Gente como eu – e como você, que agora folheia o Jornal Correio da Paraíba – fez a diferença no front desta guerra mercadológica.

Em algum momento, nas gerações futuras, o papel pode vir a ser definitivamente aposentado.

Mas não é para aqui e agora. Não é para já.

Neste instante de corrida tecnológica, o pulso do impresso, definitivamente, ainda pulsa.

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