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Passagem aérea e gás lideram ranking de inflação desde 1994

Até dezembro de 2023, a alta registrada pela passagem de avião no Brasil foi de 2.728%, enquanto a do gás chegou a 2.370%
Passagens aéreas. Foto: Divulgação/Procon-JP

A passagem aérea e o gás de botijão acumularam as maiores taxas de inflação de um ranking que aponta as variações dos preços de 20 bens e serviços desde o início da circulação do real, há quase 30 anos.

A moeda brasileira passou a circular no Brasil em 1º de julho de 1994. Antes, em 1º de março daquele ano, os preços começaram a ser fixados em URV (Unidade Real de Valor), que fez a transição até a chegada da nova moeda. A URV foi implementada por meio de medida provisória (MP) em 27 de fevereiro de 1994.

Até dezembro de 2023, a alta registrada pela passagem de avião no Brasil foi de 2.728%, enquanto a do gás chegou a 2.370%, segundo levantamento do economista Bruno Imaizumi, da LCA Consultores, a pedido da reportagem.

Aluguel residencial (1.439%), empregado doméstico (1.242%) e taxa de água e esgoto (1.209%) aparecem na sequência. A análise leva em conta dados do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo). Ônibus urbano (1.183%), lanche (1.099%), energia elétrica residencial (1.007%), pão francês (996%) e gasolina (932%) completam a relação das dez maiores altas de preços no acumulado desde julho de 1994.

Imaizumi diz que as variações expressivas, se avaliadas sozinhas, podem transmitir a ideia de um suposto descontrole inflacionário, justamente o que foi combatido a partir do Plano Real.

Segundo o economista, também é preciso levar em consideração que o poder de compra da população brasileira aumentou nas últimas três décadas.

Nesse sentido, Imaizumi aponta que o salário mínimo acumulou alta de 2.359% no período de julho de 1994 a dezembro de 2023, o mínimo fechou o ano passado em R$ 1.320 e subiu a R$ 1.412 no início de 2024.

Dos 20 produtos e serviços contemplados pelo levantamento, apenas a passagem aérea (2.728%) e o gás de botijão (2.370%) subiram mais do que o salário mínimo (2.359%). Na média geral, o IPCA acumulou alta de 690,09% no período do real.

“Com o controle da hiperinflação, que era um problema no Brasil antes do Plano Real, houve um ganho de poder de compra. O salário mínimo cresceu mais do que a inflação de quase todos os produtos e serviços que estão na lista”, afirma Imaizumi.

“Se só falarmos que os preços subiram, parece que tivemos uma tragédia, mas não foi assim. Os salários também evoluíram”, completa.

Os 20 produtos e serviços do levantamento foram selecionados por estarem entre os 30 subitens que mais pesavam no cálculo do IPCA em dezembro de 2023.

Não é possível analisar todos os 30 subitens desde julho de 1994 porque dez não faziam parte da cesta do índice à época ou tiveram mudanças na forma de cálculo desde então –ao longo da série histórica, alguns produtos e serviços foram agrupados ou separados.

No caso da passagem aérea, Imaizumi associa a carestia a questões como o aumento dos preços do combustível usado nos aviões e a baixa concorrência no setor aéreo.

“No gás de botijão, tem o efeito de ele ser um derivado do petróleo. Também tivemos auxílio para compra de gás, subsídios, encarecimento de insumos no ponto de venda. São vários fatores que ajudam a explicar a alta dos preços”, afirma.

Conforme o levantamento, o automóvel usado registrou, desde julho de 1994, a menor inflação entre os 20 subitens analisados. A alta acumulada de preços desse bem foi de 45% até dezembro de 2023.
“Muitos automóveis entraram no Brasil nos últimos 30 anos”, diz Imaizumi, ao indicar que o aumento da oferta pode ter freado a inflação dos carros usados.

A desvalorização desses veículos com o passar do tempo também contribuiu para a variação menos intensa dos preços, acrescenta o economista.

Do lado das menores altas no ranking, outros destaques são motocicleta (132%), automóvel novo (133%) e emplacamento e licença (199%).

Veja mudanças na cesta do IPCA

Divulgado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o IPCA é o índice oficial de inflação do país. O indicador serve como referência para a política monetária do BC (Banco Central).

Desde janeiro de 2020, 377 produtos e serviços formam a lista de subitens pesquisados no IPCA. Essa relação é alterada de tempos em tempos pelo IBGE devido a mudanças no padrão de consumo da população.

O instituto adapta a cesta de produtos e serviços do IPCA a partir dos resultados da POF (Pesquisa de Orçamentos Familiares).

A POF aponta o que as famílias compram e o peso de cada gasto no orçamento. Os dados mais recentes dessa pesquisa são de 2017 e 2018.

Na última atualização da cesta do IPCA, que entrou em vigor em 2020, o IBGE passou a medir a evolução dos preços de subitens como streaming e transporte por aplicativo. São serviços de plataformas como Netflix, Uber e 99, que ganharam espaço no dia a dia das famílias.

Em contrapartida, a atualização de 2020 retirou do cálculo de inflação subitens como CD, DVD e máquina fotográfica, que perderam participação no orçamento dos brasileiros.

A atualização mais recente ainda incorporou ao IPCA alimentos de preparo rápido, como macarrão instantâneo e suco em pó.

Outros exemplos que passaram a fazer parte do cálculo foram serviços relacionados à estética, como os de sobrancelha. Na onda pet, o IBGE agregou, também em 2020, a variação dos preços de serviço de higiene e tratamento de animais domésticos.

Em julho de 1994, quando o real passou a circular, a cesta do IPCA tinha produtos e serviços como toca-fita para veículos e sapateiro.

Cinco anos mais tarde, em agosto de 1999, o IBGE fez uma atualização na lista, que passou a contar com subitens como plano de saúde, microcomputador e TV a cabo.

A cesta do IPCA ainda passou por mudanças em julho de 2006 e janeiro de 2012. Depois, houve a atualização de janeiro de 2020.

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