O Brasil, em crise, amarga recessão com encolhimento do Produto Interno Bruto, certo?
Não nesta parte de cá do País.
O Nordeste caminha – muito provavelmente pela primeira vez em sua história – em uma contramão positiva.
A estagnação econômica, verificada nos eixos mais ricos (notadamente o Sudeste), não atingiu a região.
Pelo contrário.
Debaixo de um amontoado de números negativos, colhidos em 2014, o mercado acabou de descobrir que, enquanto boa parte do País caminhava a passos largos para a retração, o Nordeste – surpreendentemente – registrava crescimento.
Foi exatamente isto o que captou o Índice de Atividade Econômica Regional do Banco Central.
Considerado uma prévia do PIB, o indicador apurou aumento de 3,7% no Produto Interno Bruto nordestino no ano passado em comparação com a performance de 2013. No mesmo período, o Sudeste entrou em recessão, fechando o ano com redução de 0,8%.
Nossas vendas do varejo subiram 2,1%; as do Sudeste caíram 3,5%. Aqui, a produção agrícola cresceu 9%; no restante do País, modesto 1,8%.
Varejo e agricultura (imagina se não tivesse seca?) foram os setores que mais contribuíram para a guinada nordestina.
Até onde não fomos bem – a exemplo da indústria, que registrou queda de 0,3% – o “sul maravilha” conseguiu ser pior: lá, a indústria contabilizou retração de 4,6%.
Foi um duro golpe para o Brasil rico.
Não sem razão, os dados do BC foram acompanhados por uma série de divulgações, subscritas por escritórios de consultoria econômica de quem nunca se ouviu falar, atestando que a recessão de lá em breve aportará no lado de cá.
Até já circula projeção, amplamente divulgada na mídia, que aponta retração de 1,7% este ano na região.
A bola de cristal dos arautos oficiosos da crise nordestina não bate, porém, com os dados oficiais. No escritório técnico de estudos do Banco do Nordeste, por exemplo, se fala em refreamento do crescimento, mas descarta recessão.
O que está posto neste tabuleiro federativo, e com lances cristalinos, é que o Nordeste enfrenta hoje uma nova – e também surpreendente – reação por parte das regiões que sempre lideraram o crescimento do País:
O preconceito cultural dá lugar, paulatinamente, ao preconceito econômico.
Uma acepção que se materializa na forma de previsões catastróficas, em boatos plantados via mídia e em tentativas orquestradas de desestabilização.
O Brasil rico sempre reclamou do Brasil pobre. E nos tratou como uma carga pesada, difícil de arrastar. No momento em que nós deslizamos, porém, tentam nos brecar.
A verdade – difícil de admitir, imagino – é que o Nordeste está destoando e isso gera uma onda de despeito.
Aparentemente, não é aceitável o desenvolvimento dos primos pobres.
Deveriam, porém, estar mais concentrados em seus problemas. Dos quais, diga-se de passagem, não temos parcela alguma de culpa.
E entender, de uma vez por todas, que este Brasil só será o gigante que se autoproclama quando houver um mínimo de equidade regional.
Qualquer entendimento diferente é pura mesquinharia.
E não evitará a profecia dos cantadores:
Não estamos divididos, mas o Nordeste mostra ao restante do Brasil inequívoco potencial para se tornar, enfim, independente.