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Psicologia explica o que pode causar crimes entre familiares

A Psicologia, ao longo dos anos e da história, tentou achar razões e motivos que levam as pessoas a agredirem as outras. Desde os primórdios, alguns psiquiatras faziam estudos até com o tamanho da testa dos agressores, como o italiano Cesare Lombroso, que acreditava que, pelo diâmetro do crânio e principalmente na parte frontal da testa, existia ou não uma predisposição naquele sujeito para cometer crimes.

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Após o aprimoramento dos estudos psicológicos, esse pensamento foi deixado de lado, pois não existia essa analogia, principalmente quando eram tratados assuntos específicos, como por exemplo, o caso da jovem Suzane von Richthofen, uma garota de classe média alta, que não apresentava nenhuma característica ligada ao tamanho de seu crânio ou sua testa. Na ocasião, Suzane tramou a morte de seus próprios pais, com a ajuda de seu namorado e um amigo.

De acordo com a psicóloga Fabiana Souza, mestra em Neuropsiquiatria, o que está assustando os profissionais da área, e consecutivamente, trazendo à tona com mais impacto o assunto, é a recorrência desses atos de violência envolvendo pessoas próximas, como familiares.

“O que tem assustado a nós, pesquisadores e estudiosos da área, é que muito precocemente, as pessoas têm cometido atos de agressão contra outras pessoas e o que está inquietando a ciência, é que isso vem acontecendo com pessoas cada vez mais próximas, como pais e filhos e parentes de segundo grau etc”, disse a psicóloga Fabiana Souza.

A especialista relatou que a Psicologia ainda não encontrou uma resposta exata para solucionar essa questão, porém, falou na individualidade de cada caso, encontrando prováveis causas isoladas para os mais variados crimes cometidos entre entes queridos e próximos.

“Em se tratando do crime em família, algumas correntes da Psicologia e da Psicanálise sugerem a interpretação de que nós não temos um estudo fechado que leve a esse tipo de conclusão, mas a cada caso, que é único e que é estudado, temos a interpretação de cada um”, disse.

Sobre as motivações de cometer um crime contra um familiar, a psicóloga Fabiana Souza falou sobre a percepção do agressor, elencando prováveis fatos ou acontecimentos que marcaram a infância dessas pessoas, como um trauma para o futuro, sendo sarado apenas da pior forma possível, a morte.

“Existe também o outro lado da moeda, as motivações para o sujeito cometer tal crime. O que leva um filho a matar um pai? Que tipo de abuso esse menino ou essa menina sofreu na infância? Não só abuso sexual, mas abuso de autoridade, abuso de poder, e essas crianças vão crescendo com esse sentimento de matar e aniquilar isso, e que se a morte for a forma simbólica de acabar isso, então eles cometem tal crime, pelo que eles fizeram de registro, aonde muitas vezes nem os pais têm conhecimento”, relatou.

Linguagem adotada

Os estudos da Psicologia demonstram que alguém comete um crime por existir uma pré-disposição para isso. Antes de o sujeito existir como pessoa, ele é um sujeito da palavra, constituído pela linguagem. De acordo com o psicanalista Jacques Lacan, o que nomeia o sujeito vai dando forma a ele, então quando não existe uma palavra que nomeio ou que faça isso de forma equivocada, ele será um transgressor.

Já de acordo com o também psicanalista e pediatra Donald Winnicott, quando o sujeito é privado de algum afeto, isso pode levá-lo a uma atitude de delinqüência, então são várias as interpretações para solucionar os casos citados, porém, a individualidade do ato e as características de cada um, demonstram a preocupação da Psicologia para tentar definir e solucionar cada caso em separado, sem demonstrar algo universal.

“A gente precisa entender que cada caso precisa de um olhar específico. O que leva um sujeito a cometer um crime contra um familiar é plural. Não é uma razão específica, não é algo unilateral. Então são várias razões que podem levar esse sujeito a cometer tal crime, sendo necessário analisar cada caso de uma forma específica”, comentou a psicóloga Fabiana Souza.

Religião

Já para o lado religioso, as respostas, para os cristãos, são encontradas na Bíblia. O padre Egídio Carvalho, explicou que fatos como esses já são narrados no livro sagrado, como em Gênesis, na história dos irmãos Caim e Abel, que conta um fato envolvendo violência entre familiares.

“Do ponto de vista religioso, somos chamados a olhar para a Bíblia, e no livro de Gênesis, vemos a história de Caim e Abel, um irmão que matou outro, história que ainda persiste nos dias de hoje, mas por que um matou o outro? Por inveja, por querer ser melhor que o outro”, disse.

De acordo com o religioso, a indiferença tem sido uma das principais causas da crescente recorrência de crimes envolvendo familiares. Para o padre Egídio, as pessoas estão se tornando cada vez mais indiferentes umas com as outras.

“Cada vez mais estamos nos tornando indiferentes com a vida das outras pessoas. E as outras pessoas aqui incluem também aqueles que são muito próximos de nós, que fazem parte de nossas famílias”, relatou o religioso.

O religioso conclui lembrando das pessoas esquecidas pela sociedade, aquelas que estão vivendo nas ruas, em abrigos, excluídas até pelos próprios familiares. Padre Egídio convoca os cristãos a fazerem uma autocrítica e uma reflexão para o futuro das pessoas, alertando sobre o risco desses crimes se proliferarem.

“Quantas pessoas estão abandonadas em abrigos? Quantas crianças abandonadas em orfanatos? Tudo isso é uma grande violência de um ser humano contra o outro. E aqui fazemos uma auto-análise sobre que tipo de cidadãos estamos formando na nossa sociedade? Se não fizermos essa autocrítica, corremos o risco de ver crimes muito piores do que esses que estamos assistindo atualmente”, disse o padre Egídio.

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