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Quebra de compromisso

Nem bem nos recuperamos do primeiro turno, já começa o segundo round. E aos que há quase dois meses vivem sob bombardeio intenso de estratégias de marketing, é pertinente inquirir:

Quem ainda consegue acreditar em promessa política?

De postulantes à Presidência da República à legislativos municipais, o pacote de ações e projetos prometido é de uma coincidência constrangedora.

Só mudam as embalagens, formatadas nas pranchetas dos marqueteiros. Dependendo da competência deles, algumas promessas podem até parecer críveis.

Mas a jurisprudência eleitoral mostra que a maioria dos discursos não passa de palavras ao vento, soprado pela esperteza inerente ao DNA político e pelas estratégias de marketing que cercam esse metiê.

Os episódios de quebra de compromisso são numerosos e rumorosos na cena paraibana. Em função do período eleitoral, deixo de nominá-los.

E nem preciso. Pois sei que, para meu leitor, meia palavra é oração completa. E as reticências (explícitas ou implícitas) bastam.

Os danos que as quebras de compromissos provocam sobre a Paraíba e restante do País, porém, não são nada reticentes.

Cito dois exemplos ilustrativos e emblemáticos – situações em que a quebra de promessa já promove ou promoverá muito em breve estragos com potencial para extrapolar as fronteiras e desconstruir a imagem brasileira perante a comunidade internacional.

O primeiro deles começou a ser forjado há cinco anos.

Em 1º de outubro de 2009, o Brasil conquistava o direito de sediar os Jogos Olímpicos. E friso o conquistar porque disputamos com muitas nações a escolha pelo Comitê Olímpico Internacional. Elaboramos projetos sedutores, empenhamos nossa palavra.

Nessa mesma época, estendemos as promessas a Copa do Mundo de Futebol. No campo, tivemos um belo torneio, é verdade. Mas boa parte das obras de infraestrutura e mobilidade prometidas não foi cumprida.

Algumas foram iniciadas e não concluídas. Outras sequer saíram do papel.

Meia década depois de comemorar a conquista da Olimpíada, relatórios sinalizam que estamos enveredando para o mesmo desfecho da Copa.

Resistiremos a mais pisada de bola?

Estrago semelhante – ou até pior –está sendo construído aqui ao lado, em Pernambuco.

O governo pernambucano, que tanto comemorou a atração da mais moderna fábrica da Fiat no mundo – que, para nossa sorte, fica próximo a divisa da Paraíba -, ainda não deu sua contrapartida no investimento de bilhões de dólares.

Entre os compromissos assumidos pelo governo local constam dois estratégicos e essenciais para o funcionamento da fábrica. E, acredite ou não, a Fiat chega à fase conclusiva de sua instalação sem condições de operar porque não dispõe de nada mais nada menos do que energia elétrica. A rede de alta tensão prometida jamais foi materializada, deixando a montadora sem fornecimento estável e confiável de energia.

A Fiat não dispõe, também, de um anel rodoviário que lhe foi prometido, contornando toda a zona oeste da região metropolitana do Recife e viabilizando o acesso direto ao Porto de Suape.

O dano logístico que a fábrica enfrentará será colossal caso tenha, realmente, que escoar milhares de veículos no congestionado trânsito da BR 101 e na destruição asfáltica que recepciona motoristas a partir de Abreu e Lima.

Não exagero, portanto, ao sinalizar que nossa imagem será tremendamente arranhada caso o País não consiga cumprir suas promessas. Assim como também não exagero ao contabilizar, em faturas negativas gigantescas, os danos que as promessas de campanha provocam sobre o dia a dia dos brasileiros.

E não se trata de vaidade. Assim como nas relações interpessoais as palavras vacilantes e comprometidas por fragilidades de caráter causam prejuízos aos seus pronunciantes, efeito semelhante – só que em escala infinitamente maior – são sentidos em nações e estados que não inspiram confiança.

Os danos são tão severos e plurais que deveria ser crime hediondo macular a imagem do País.

Assim como também deveria existir punição rigorosa para governos e seus gestores políticos que prometem, iludem e – eleição pós eleição, mandato pós mandato – jamais cumprem suas promessas.

Merecem, portanto, uma penitência a altura desse pecado.

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