Fui um Roberto diferente na juventude. Naquela época, pedra era pedra; pau era pau – e nada diferente disso me comovia.
Admito, era radical. E muito frequentemente intransigente na defesa de minhas ideias.
O diferente me causava espanto e rejeição – e isso em todas as esferas da vida (ideológica, religiosa, profissional…).
Felizmente, o tempo fez seu trabalho – poliu o coração, lapidou a alma, multifacetou a mente.
E, sobretudo, foi pedagógico.
No amadurecer da minha vida (vem aí os setentinha) não apenas aceito, mas efetivamente me enriqueço com o contraditório.
Penso, de verdade, que jamais se deva negar a convivência com o diferente. Pois independente das distâncias que nos separam, das contradições que nos afastam, sempre há contribuições que nos aproximam.
Ouvindo quem pensa diferente, faço acréscimos preciosos. E – perdoem a imodéstia – também devo acrescentar aos que pensam diferente de mim.
Digo, sem medo de errar, que nessa equação a operação fundamental é a soma. Ainda que seja modesta.
Considero que a quebra do diálogo é a ruptura da razão. E a perda da razão significa, em última análise, a desclassificação do pensamento.
Sai a ideia, entra o músculo.
Ou, para ser fiel aos dias atuais, entra a cusparada.
Falta argumento? Cuspe!
Perde-se a tolerância? Cuspe!
Quanta saliva desperdiçada!
O diálogo está no chão. Ou escorrendo por alguma face perplexa – alguém que, ainda que tão diferente e indiferente, poderia ser inoculado (mesmo que minimamente) pela força das ideias.
Expelir a intolerância não é apenas agressivo, é pouco inteligente.
Infelizmente, assistimos a agressividade vingando sobre o caminho das ideias, traçando trajetória medíocre e contraproducente.
Assistimos, enfim, o jogar da toalha da argumentação. E o levantar do confronto mais primitivo.
Nem vou descer ao mérito da conjuntura brasileira. Porque seja lá de que lado se esteja, a saliva deveria ser poupada. E usada, tão somente, na exposição das ideias. Salivar, só para conquistar.
Não vou, também, apontar o dedo na direção do Movimento Eu Cuspo Sim – que acaba de produzir vídeo supostamente rodado no Espaço Cultural de João Pessoa – em que faz apologia escancarada às manifestações agressivas em voga.
À eles, meu lamento. E minha convicção de que estão – literalmente – jogando saliva fora.