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São João

Sou um ser junino. E onde quer que esteja, levo a aura desta festa fantástica comigo.

Ano passado, por exemplo, estava longe do circuito do forró, da canjica e da fogueira. Tinha embarcado para Roma, em uma celebração-presente de aniversário da minha mulher, Sandra.

Mas eis que, em plena Itália, soube que por ali, em alguma rua, um grupo festejava o São João.

Não contei conversa: peguei um taxi e bati metade da cidade a procura da minha fogueira, do meu milho e quem sabe – com um pouco de sorte – ainda conseguiria ouvir os versos de “Olha pro céu, meu amor”.

Era próximo da igreja na Piazza San Giovanni in Laterano-Esquilino, me diziam.

Nada.

Era numa travessa mais adiante. Outra vez, nada.

E lá ia eu naquela corrida (pagando em Euro) que já ardia no meu bolso.

Depois de muito rodar, finalmente desisti. Voltei para o hotel decepcionado. Era São João no Brasil e eu não iria sentir nenhum gostinho desse festejo que não troco por nada nesse mundo.

De repente, batem na porta. Do outro lado era minha filha Bruna. Ela trazia – pasmem – espigas de milho assado.

Não teria fogueira. Nem fogos. Nem o Rei do Baião. Mas, pelo menos, teria meu milho – e estava saboroso.

Bruna tinha ido passear nas redondezas, nas ruas de Trastevere, e acabou esbarrando em uma barraca de ambulantes que vendiam milho. Sabendo da minha paixão junina, me levou aquele belo presente.

Minha filha sabia a importância que aquele gesto, tão singelo, teria pra mim – especialmente naquela data.

O amor a esta tradição cultural foi carinhosamente repassada a todos os meus descendentes. Filhos e netos amam o São João. Está no nosso DNA cultural.

E é tão intenso que, a despeito da pauta política-econômica atual, e da minha opção inicial de tratar hoje sobre os temas que afligem a nação, não consegui me manter neste curso crítico.

Dei voltas e voltas em torno de endividamentos dos estados e escândalos da Lava Jato. Mas sempre terminava no forró e no baião. A crise é aguda. Mas a cultura sempre se impõe.

E é preciso ser nordestino para entender a força que tem essa paixão junina.

Esses dias, por exemplo, mandei mensagem para meu primeiro amigo Abraão (nascemos no mesmo dia, na mesma maternidade e somos amigos há mais de 70 anos) desejando bom São João.

Ele, que é de família carioca – nasceu por acidente em Recife – e há muito tempo mora em São Paulo, casado com uma paulista, me respondeu:

– Me esqueci da importância dessa data no nosso Nordeste!

Lamento por ele.

Lamento por todos os brasileiros que passam pelo São João sem sequer saber que neste lado de cá do Brasil tem um povo celebrando um dos festejos mais especiais do nosso calendário.

Essa benção é toda nossa.

Logo mais estarei no meio do terreiro, acendendo a fogueira, soltando fogos, comendo milho assado e aquecendo essa tradição que pulsa tão firme nos corações nordestinos.

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