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Seminário internacional aborda leitura na primeira infância

Representantes educacionais e especialistas de 82 cidades do Brasil participam do Seminário Internacional Arte, Palavra e Leitura na Primeira Infância, evento que acontece no Sesc Pinheiros, em São Paulo.

O objetivo do Seminário é discutir o lugar da cultura na infância (arte, palavra e leitura), visando compor um panorama teórico e prático sobre o assunto, por meio de mesas redondas, oficinas e apresentações de experiências.

Apesar de incompreensível do ponto de vista semântico, foi um áudio de uma “conversa” com crianças na tenra idade que abriu a mesa-redonda “A voz, a palavra e o brincar na primeira infância”, composta pela espanhola Beatriz Sanjuan, a argentina Maria Emilia López e a paulista Stela Barbieri. A conversa abordou a literatura transmitida através da palavra e o brincar para formação desses novos leitores.

“Há coisas que estão diante de nossos olhos e que não vemos, não somos conscientes realmente disso: a quantidade de mulheres que estão aqui”, apontou Beatriz Sanjuan, para uma plateia de aproximadamente 700 pessoas. “Ninguém sabe mais como nós de se comunicar com os bebês, que chegam ao mundo e está perdido, mas escuta a voz da sua mãe e a reconhece”.

De acordo com a escritora e em promoção da leitura e literatura infantil, o que era para ser prioritário e reconhecido, não acontece. Se não houver acolhimento na linguagem acompanhado da cultura de afeto, as outras funções desse trabalho desaparecem.

Maria Emilia López complementou alertando para se trabalhar muito com pais e filhos para que se produza um encontro de linguagem humana. “A linguagem que aparece em cena todo o tempo é a puramente factual, uma linguagem de improviso do valor da musicalidade, que alimenta o bebê continuamente”, disse. “Essa primeira relação com essa linguagem emotiva e musical, constitui também um vínculo de apego. Essas linguagens são tão importante quanto o tato”.

Geralmente, os pais vão deixando de “ler” o que está além das palavras, explicou Stela Barbieri. “As palavras vão sobrepondo e nos distanciando do que os corpos estão dizendo e o que as expressões estão nos contando e também da credibilidade do que a gente sente. A relação do neném com a mãe é uma relação de corpos”.

Ausência

Uma das escritoras mais esperadas é a premiada ítalo-brasileira Marina Colasanti. Por motivos particulares, ela não pode vir à mesa-redonda “Embaixo da pele do lobo, por que ler os clássicos?”, mas deixou gravado um depoimento para o público:

“A vida tentou me matar várias vezes”, contou a autora de 80 anos no seu depoimento gravado. “Eu conto hoje o meu tempo de uma maneira diferente. Conto com urgência, não desperdiço tempo nenhum. Porque não sei quanto tenho. Pode ser pouco e eu tenho muita coisa para escrever”.

Como debatedores, a espanhola Eva Martinez Pardo, a chilena Sara Bertrand e o brasileiro Rodrigo Lacerda abordaram a importância das narrativas clássicas infantis após o período da oralidade.

“A criança não está pensando, ela está sentindo”, explicou Sara Bertrand sobre a leitura das narrações do fantástico. “Os clássicos estão falando pelas emoções. Essa conexão com os sentimentos é um viver, uma realidade, que remete a emoção que se converte a um sentimento”.

Eva Martinez lembrou com preocupação que em muitos contextos educativos, essas obras tradicionais sofrem modificações ou até a eliminação de alguns de seus elementos por serem considerados poucos adequados à infância.

Já o editor e escritor Rodrigo Lacerda chegou a defender animações que popularizam os clássicos, perguntando se seria o norte-americano Walt Disney (1901-1966) “o Hans Christian Andersen do Século 20”, famoso autor dinamarquês do Século 19, autor de O Patinho Feio e A Pequena Sereia. “Os clássicos têm a capacidade de penetrar – muitas vezes por motivos acidentais – e plantar no subconsciente coletivo da humanidade, mesmo quando eles não foram lidos”.

Quando foi aberto o microfone, houve uma comoção e crítica de educadores sobre a ausência da literatura negra acerca do tema e as polêmicas envolvendo racismo na obra de Monteiro Lobato (1882-1948).

*Com Audaci Júnior, do Jornal Correio da Paraíba

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