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Vulnerabilidade

Sou de um tempo em que autoridades e gente endinheirada pairavam em um patamar intangível e inalcançável – no topo da relativação do bem e do mal.

Patentes e fortunas eram inimputáveis.

A lei não era para eles. Punição, então, nem pensar.

Naquela época, nem as mentes mais criativas ou vingativas poderiam conceber a prisão de um senador no exercício do mandato.

Tão pouco assistir um ex-ministro acordando com os policiais na porta do apartamento funcional de sua esposa senadora, saindo de lá direto para atrás das grades.

Não quero – nem vou – descer ao mérito dos fatos presentes e pontuais. A Justiça dirá quem é que tem direito e razão.

O fenômeno inédito – este sim – precisa ser reverenciado.

Pois a retirada dos figurões do patamar de inimputáveis talvez seja o maior exercício de cidadania que estamos legando às futuras gerações de brasileiros.

A “jurisprudência” histórica mostra que na impunidade reservada a poucos sobrou o agigantamento dos desmandos nacionais – que estamos contemplando no descerrar das cortinas abertas pelas polícias, ministérios públicos e Justiça.

Cadeia não é mais exclusiva para pobres.

E isso diz muito sobre este instante republicano.

Diz, por exemplo, que a despeito de toda a crise moral em curso – de toda adversidade gerada nesta enfermidade política, de todas decepções e rupturas – justiça seja feita ao nosso País:

O Brasil não é mais a nação da impunidade.

Todos – independente do saldo bancário ou da hierarquia que ocupa na escala social – estão vulneráveis às nossas instituições que fiscalizam, investigam e punem.

Quem diria que as contas internacionais – ardilosamente administradas para lavar o dinheiro da corrupção – estariam expostas e confiscadas?

Essas ações sinalizam fortemente que o País está mudando. E muito.

Os mais novos talvez não alcancem esse entendimento. Mas a minha geração jamais sonhou com mega empresários pagando por seus delitos na cadeia. Ou assistiu poderosos tremerem nas bases, temendo conduções coercitivas, mandatos de prisão e restituições do dinheiro surrupiado.

Os danos provocados por estes fatos nos abalam. Mas também solidificam nossas bases enquanto nação.

Os pessimistas falam em seletividade. Ou mesmo interrupção do fluxo de justiça.

Quem viveu um pouco mais sabe que o fenômeno é irreversível.

Os malfeitores estão vulneráveis.

Pois já sabem que ninguém mais está imune.

Faz, paga.

Fez, não ficará escondido.

O gigante adormecido acordou. E durmam com um barulho desses!

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