Não tirem conclusões precipitadas (PS: especialmente você).
Mas, sim, tenho sentido falta das descargas de alta voltagem e do impulso extraordinário que só a paixão (pela vida, por projetos novos, pela busca de conhecimento) é capaz de provocar sobre os complexos integrantes da fauna humana – entre os quais, claro, me incluo.
Tenho sentido falta, principalmente, do estado de paixão – aquele sentimento que nos faz sair da zona de conforto; nos dá plus de coragem para arriscar; que nos faz acreditar até no impossível. E nos arranca da passividade.
Uma convicção que a vida me trouxe é que a característica básica da criatividade é a jovialidade – que não está, necessariamente, atrelada ao relógio vital.
Conheço centenários joviais. E jovens envelhecidos.
A diferença entre eles?
Os realmente velhos são acomodados, obsoletos – não têm nenhum traço de paixão.
Eu sei disso tudo porque sempre fui movido por essa força da natureza humana.
Estava apaixonado quando, aos 20 e poucos anos, criei meus primeiros projetos empresariais. E segui apaixonado por tudo o que veio depois…
Mas reconheço – e com muito desgosto – que meu estoque particular de paixão anda oscilando perigosamente nos últimos tempos.
Talvez seja por isso que tenho me concentrado em modernizar práticas velhas, atualizar o que já existe, enquanto assisto os verdadeiramente apaixonados criando o novo.
Em minha própria defesa, aponto o entorno – marcado por um afunilamento de oportunidades, pouco recomendado para novas apostas.
Se há um sentimento que predomina neste instante brasileiro é a prudência.
Estaria então correto ao sufocar minhas paixões?
Definitivamente não.
Principalmente porque a primeira coisa que se sacrifica, quando o sujeito se concentra em defender apenas o que já existe, é a criatividade.
O Roberto que iniciou a vida como um implacável criador não pode se conformar com mais do mesmo. Não pode circular satisfeito com suas ideias velhas, seus projetos embolorados pelo tempo, sua hesitação em erguer a cabeça e enxergar o que vem pela frente…
Tenho projetos em implantação latentes há mais de 30 anos. Não vou, claro, abandoná-los.
Mas onde estão os novos projetos? Eles abraçam o novo momento digital?
Mais: onde está aquele Roberto inovador? Criativo?
O Roberto migrante, que não tinha medo de desembarcar com a mala cheia de sonhos onde quer que a correnteza da vida o levasse, sem amarras?
Estas são as perguntas que gritam dentro de mim, numa tentativa de acordar dessa letargia tão desapaixonada.
Alguns dirão:
– Se conforme, Roberto, isso é sintoma e sinal da velhice.
Mas não é da minha natureza o conformismo.
Não importa o limite do horizonte – vou-me disciplinar e começar a plantar Baobás, mesmo que não possa vê-los frondosos.
Porque a semeadura, em si, justifica todo o processo – nutre a existência; frutifica a criatividade; reanima a paixão.
E sempre – sempre mesmo – é um bom tempo para se apaixonar!