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The End

O sonho acabou ou o pesadelo terminou?

O mais polêmico líder político de meu tempo chega ao fim sem espaço para o meio-termo; sem margem para a neutralidade. Sua longevidade (física e política) sempre nos levou (e suspeito que seguirá levando) para dois polos distintos: a paixão e o ódio.

Para um ponto, porém, esse caldeirão emocional converge: a certeza de que o mundo nunca mais foi o mesmo depois daquele 1959.

Ainda comemorando a vitória interna, que anunciou como revolução cubana, a pequena e insignificante ilha vizinha no Caribe – sob o comando de um jovem de classe média alta – cometia a ousadia inimaginável de desafiar o gigantismo dos Estados Unidos da América, vencedor inconteste da Segunda Guerra Mundial.

Dois mundos e duas ideologias passaram a se confrontar, azeitando a tensão da guerra fria. De fria, aliás, a contenda entre Cuba/Russia e EUA não tinha nada.

A América do Norte defendia seu legado capitalista; Cuba se postava como ponta de lança no mundo latino, protegida e financiada pela ex-URSS. E esse confronto estratégico protagonizou uma queda de braço de dimensões globais.

Todos nós assistimos os sucessivos confrontos de imagens de seus líderes. De um lado o carismático John Kennedy; do outro o camarada Nikita Khrushchov. Entre eles, o mundo – impotentemente a roer unhas, dependente da resultante desse conflito.

A despeito de seu tamanho, Cuba se projetava mundialmente. E viria a ser referência em toda a América Latina. Sua revolução e o conflito econômico-ideológico por ela representada se inscreveria, definitivamente, como um dos fatos mais marcantes do século XX.

Nascido em 46, assisti com muito interesse tudo isso. E, não raro, testemunhei (dentro de minha própria casa, inclusive) discussões sobre a real necessidade de se construir um abrigo para sobreviver a um iminente confronto nuclear.

Felizmente as bombas nunca foram ativadas. O conflito se esgotou por si só – apartado pelas dimensões de seus contendedores.

Não quero – nem vou – me nortear por minhas convicções ideológicas. Como economista, porém, não posso deixar de fazer um balanço dessa batalha econômica. E os fatos saltam aos olhos: corporativamente, pouca coisa mudou na correlação das forças econômicas do mundo.

Os Estados Unidos se mantiveram como a grande potência mundial, enquanto a União Soviética se fragmentava pelas mãos do comunismo. Restou, potente, apenas a Rússia – nivelada aos países em desenvolvimento do Brics, do qual também fazem parte o Brasil, a Índia, a China e a África do Sul.

Cuba insignificante era, menor ainda ficou.

Grande, mesmo, só a ideia que representou. Ou pelo menos fragmentos dela – algumas, inclusive, questionáveis.

Politicamente a democracia norte-americana produziu ao longo dessa contenda nada menos que nove presidentes. Na pequena ilha, contudo, as ideias nada democráticas continuam sendo trilhadas – por inacreditáveis 57 anos – sob o julgo da dinastia castrista.

Se há um senão a ser destacado nesta conta tão distinta é que nenhum deles – Eisenhower, Kennedy, Johnson, Nixon, Ford e todos os seus sucessores – tiveram a projeção mundial e a força ideológica de Fidel Castro, El comandante.

Morto, significa o fim de uma era – um tempo/espaço que não cabe mais em um mundo muito mais complexo do que a dualidade oferecida naquela contenda.

Sobrevive o mito, eternamente condenado a despertar um duelo de sentimentos e emoções.

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