As chuvas registradas recentemente deixaram o alerta de que algumas vias do trânsito de João Pessoa necessitam passar por obras urgentes de drenagem para evitar alagamentos. Essa é a opinião de autoridades municipais e de especialistas de trânsito que afirmam que a Capital não está preparada para receber chuvas de grande proporção e que se algo não for feito a situação vai piorar.
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Na Capital, os alagamentos são constantemente registrados nas vias de maior movimento de veículos como a Beira Rio; a Avenida Sérgio Guerra, no bairro dos Bancários; a Avenida Tancredo Neves; trechos das avenidas Epitácio Pessoa, nas proximidades do colégio Lourdinas; e Sanhauá, em frente à Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU).
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Segundo o titular da Superintendência Executiva de Mobilidade Urbana de João Pessoa (Semob), Carlos Batinga, os problemas de alagamento na Capital são antigos e ocorrem, principalmente, por defasagem do sistema de drenagem. “Quando a chuva é muito intensa, não tem jeito. Nosso sistema de drenagem é antigo e onde não existe infiltração natural vão existir problemas e a falta de drenagem ou o entupimento do sistema de drenagem piora a situação. Em qualquer área urbanizada maior vão ser registrados problemas com a chuva”, contou Carlos Batinga.
O problema da drenagem também é apontado pelo secretário de Infraestrutura de João Pessoa, Cássio Andrade. Segundo o secretário, o entupimento de galerias é um dos fatores que provocam a ineficiência da drenagem e causam os alagamentos, que atrapalham o andamento do trânsito.
“Temos um grande problema de entupimento das galerias. Seja por causa da terra, barro ou lixo que vão parar nas galerias por conta das chuvas. Isso termina entupindo e prejudicando o escoamento da água. Além disso, algumas galerias estão subdimensionadas e não atendem mais a demanda. A cidade vem se impermeabilizando e a água acaba acumulando em algum local”, contou o secretário.
Ainda segundo Cássio Andrade, a população tem contribuído, através do descarte irregular do lixo, para que os alagamentos aconteçam nas principais vias.
“São vários os fatores para o alagamento. É difícil culpar alguém claramente, mas algumas pessoas jogam lixo diretamente nas ruas ou colocam o lixo doméstico muito longe do ponto de coleta. Quando chove, todo esse lixo é levado para as galerias, que ficam entupidas e não realizam o trabalho de escoamento da água, causando o alagamento e prejudicando toda a cidade”, informou o secretário.
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Especialista defende obras
Especialista em trânsito Nilton Pereira confirmou que o sistema de drenagem da água é o principal problema enfrentado por João Pessoa quando o assunto é trânsito. Para ele, todas as vias importantes de Capital já deveriam ter passado por obras de ampliação do sistema de drenagem.
“Nós enfrentamos um problema de qualquer cidade de um país emergente e onde o poder aquisitivo melhorou nos últimos anos, possibilitando que a população pudesse adquirir carros e motos. O problema é que com essa facilitação não houve melhoria nas vias, nem no sistema de drenagem. Então cada vez mais carros circulam por um local que foi projetado para receber uma quantidade menor de veículos, causando congestionamentos. Quando chove, a drenagem é falha e muito deficiente, acumulando água e piorando a situação no trânsito”, contou Nilton Pereira.
Segundo Nilton, algumas das avenidas de João Pessoa, como a Beira Rio e a ladeira do Valentina, possuem um traçado baixo e isso facilita o alagamento quando existe a cheia e o transbordamento dos rios. Do outro lado, avenidas como a Sergio Guerra não são localizadas em áreas ribeirinhas, mas também sofrem com o problema.
“Em vias que não estão localizadas nas proximidades dos rios os problemas não deveriam ser tão evidentes, mas isso não ocorre em João Pessoa. A Sérgio Guerra, quando chove, acaba inundando e isso bloqueia totalmente o tráfego de veículos. Os alagamentos trazem consequências negativas para toda a população, que deixa de trabalhar, estudar ou de cumprir compromissos pelo fato de não ter como sair de casa ou estar impossibilitado de chegar ao seu destino”, contou o especialista.
Uma das soluções, segundo Nilton, seria a elevação de algumas vias, como a Avenida Sanhauá, a Sérgio Guerra e trechos da Epitácio Pessoa para evitar acumulo de água ou que o transbordamento de rios cause alagamento.
Outra solução apontada por Nilton Pereira seria o investimento, a médio prazo, na reforma de quase todo o sistema de drenagem da Capital para dar melhores condições de escoamento da água.
“Deve-se pensar na execução de obras de macrodrenagem da tubulação, que devem ser de grande porte para suportar uma intensidade maior de chuvas e resolver o problema dos alagamentos. A coleta regular do lixo também ajuda a diminuir a possibilidade de entrada de detritos nas tubulações de drenagem. Mas, tem que ser lembrado que não adiante apenas resolver as tubulações se a população não ajudar. A população deve ter a consciência de que se jogar lixo nas ruas vai acabar entupindo todo o sistema de drenagem e causar mais problemas”, concluiu Nilton Pereira.
BRs também sofrem com as chuvas
Nas BRs 230 e 101, que cortam João Pessoa, as chuvas também trazem riscos de alagamento e até deslizamento de barreiras. De acordo com a assessora de comunicação da Polícia Rodoviária Federal (PRF), Nathália Freire, dois pontos são críticos e oferecem riscos.
“Quando chove a tendência é de que os motoristas procurem as rodovias federais para escapar do trânsito central, mas eles devem ficar atentos aos pontos críticos. Na Região Metropolitana de João Pessoa são dois pontos que precisam de muita atenção. Um deles compreende o trecho entre os km 20 e 30, que possuem altos índices de acidentes, além de possibilidade de deslizamento de barreira, e outro trecho que vai do km 30 ao 40, onde registramos elevados números de acidente e de mortes quando chove”, contou a policial.
Secretário diz que falta dinheiro
O coordenador da Defesa Civil Municipal, Noé Estrela, também relatou que o sistema de drenagem da Capital é antigo e não foi projetado para o crescimento da cidade.
“Nós fazemos trabalho de limpeza de rios e de galerias para tentar melhorar a drenagem, mas as galerias de João Pessoa foram construídas em uma época que a cidade era bem menor. Na medida em que a cidade cresce é necessária a troca das tubulações por outras maiores. Nossa cidade precisa ser reprojetada para um sistema de drenagem mais eficaz”, afirmou o Noé Estrela.
Já o secretário da Seinfra confirmou que algumas vias que sofrem com o problema da drenagem estão com projetos de reforma prontos, mas faltam recursos para o início das obras.
“A área da CBTU, a Sérgio Guerra, Tito Silva, o trecho da Lourdinas na Epitácio necessitam de ampliação das galerias e já temos projeto e parte técnica fechados, mas precisamos ter disponibilidade financeira para realizar a obra. Enquanto isso não é disponibilizado temos realizado desentupimento de galerias e trabalhando para manter as áreas de escoamento das águas limpas”, afirmou o secretário.
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