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Tumor na alma

Invisíveis aos olhos.

E ocultos até mesmo sob o escrutínio dos mais modernos e sofisticados equipamentos de PET Scan…

A ciência simplesmente não conseguiu – pelo menos até aqui – revelar os severos, trágicos e incuráveis tumores que tantos carregam n’alma.

Não há, de fato, raio X capaz de decifrar essa imaterialidade agregada ao corpo.
Nem tampouco suas chagas.

Mas elas estão lá se você realmente atentar – causando estragos em seus portadores e naqueles que os rodeiam.

Por temperamento, índole – e também por herança da convivência com Doutor René, que nunca se furtou a compartilhar comigo os complexos labirintos da psique humana, seu metiê profissional – desenvolvi uma atenção especial aos comportamentos humanos.

Nos ambientes de convivência, espreito com olhar carregado de interesse as pessoas que me rodeiam.

E toda essa atenção me rendeu uma sensibilidade para identificar e perceber a complexidade dos selfs.

Consigo detectar, como uma antena bem regulada, seus temperamentos.
Perceber, por exemplo, quem é naturalmente agradável. Ou desagradável.

Quem carrega espinhos; e quem – como disse o poeta – está destinado a passar “pela vida em branca nuvem e em plácido repouso” adormecer, sem sentir “o frio da desgraça”, sem experimentar os sintomas dos tumores que nos ferem n’alma.
Mas, confesso, que esse radar apurado em 70 anos de existência às vezes falha.

Desafortunadamente ele não consegue decodificar com precisão os sinais emitidos por algumas almas.

Falando em português claríssimo, algumas pessoas são simplesmente impossíveis de se decifrar.

Nesse campo desconhecido, sem dúvida existem razões ocultas ou bem dissimuladas que, em algum nível, explicam porque esses seres operam no limiar do agradável e do desagradável.

Algum problema de saúde, talvez?

Recentemente, por exemplo, a charada para um semblante sempre carregado e aparentemente desplugado da realidade – que sempre me desafiou em meses de convivência sem uma leitura possível – foi enfim decifrada.

Uma doença incurável e inoperável justificou – em larguíssima medida – a ausência de empatia.

O que eu não compreendia ficou claro: estava diante da introspecção de quem carrega uma bomba relógio interna em contagem regressiva para detonar.

Como sorrir para a vida que pode lhe ser roubada no instante seguinte?

Nem sempre, porém, os selfs indecifráveis são tão facilmente explicáveis.

O que me faz retornar ao Doutor René, que do alto de sua experiência com psiques torturadas, um dia me revelou:

A pior doença que pode acometer um ser é a mental!

Ou seja: o mais agressivo dos tumores se forma na imaterialidade da alma.

E será incurável se seu portador não conseguir sequer admitir sua presença.

Esse tipo de tumor de fato não é detectável em exames laboratoriais.

Mas quem tem, sabe. Sente. Pois é punido, diariamente, por seus sinais avassaladores, destrutivos.

Ignorá-lo significa a privação da cura. Ou pelo menos a administração de seus sintomas.

Significa se condenar a destruição de relacionamentos, a autossabotagens e ao arrastar eterno das correntes do desassossego e do infortúnio onde quer que se vá.

Significa, enfim, aceitar ser espectro de gente.

Um ser consumido por um tumor que cresce – mórbido e metastático – sobre os tecidos invisíveis, mas substanciais, da alma.

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