Moeda: Clima: Marés:
Início Geral

Um comunista

Numa de suas mais políticas composições (talvez a mais forte) – “Um comunista”, em seu disco “Abraçaço” -, Caetano Veloso mostra porque continua o mais ideologicamente independente dos autores musicais do Brasil.

“Os comunistas guardavam o sonho”. Ele repete a frase várias vezes ao final do que a crítica chama de samba-blues. “Um comunista” é uma homenagem de Caetano ao também baiano e guerrilheiro Carlos Marighella.

Querem coisa mais explícita do que esta declaração de Caetano? “Jorge Amado sonhou sempre que se fizesse um monumento a Marighella em Salvador. Ele morreu com esse sonho. Ele tinha muito orgulho do Marighella, que naturalmente conheceu pessoalmente, porque eram do mesmo partido, o PCB. Só que Marighella, no final, deixou a linha central do partido, como todo mundo sabe. Deixou de obedecer às ordens de Moscou. Aquilo, naquele ambiente romântico do tropicalismo, da contracultura, era muito atraente, era o que eu mais admirava em política. Eu gostava de Marighella, e gosto até hoje”.

Na letra da canção longa, com duração de oito minutos, Caetano diz que estava no exílio, em Londres, quando soube da morte de Marighella, mas sentiu que “quem morreu fui eu”. Somente um autor da dignidade dele para assumir isto. Aliás, sugiro, a quem nunca a fez, a leitura de “Verdade tropical”, que lançou em 1997. O livro faz entender toda a ideologia de Caetano e o que estava ao redor do tropicalismo. Ou da tropicália, como queiram. Uma das dedicatórias de “Verdade tropical” é a José Miguel Wisnik, um dos entrevistados por Ninho Moraes no filme “Futuro do pretérito: Tropicalismo now!”.

A faixa que abre o disco de Caetano é de certa forma provocativa (e necessária aos dias de hoje): “A bossa nova é foda”. Termino citando uma frase da música-homenagem a Marighella: “Não há vida sem utopia, assim fala um comunista”.

FOTO

RODAPE

Palavras Chave

Portal Correio
publicidade
© Copyright 2024. Portal Correio. Todos os direitos reservados.