Devo já estar cansando – aliás, conforme previsto – com essa série de artigos sobre New York. Acreditem, tenho na ponta dos dedos, prontos para redigir, mais uns 10, mas prometo me conter.
A “cidade que nunca dorme” e na qual todos sonham em ser “o rei do pedaço” como diz a canção imortalizada por Frank Sinatra, é muito inspiradora. É lá que estão a “encruzilhada do mundo” – a Times Square -, a Broadway, Chinatown, Wall Street, o Metropolitan Museum of Art, o Central Park, a Fifth Avenue…
Os lugares são esplêndidos e a diversidade cultural nos permite experiências maravilhosas. Contudo, esse será o último artigo dessa série. Não vou esticar a corda.
Falei na quinta-feira sobre o show de Paul McCartney, omitindo a mais rica experiência que vivi nos últimos tempos. Não quis imprensá-la naquele “Túnel do Tempo”.
Para minhas estadas em NY, procuro administrar e conciliar compromissos, e garantir uma agenda variada. Cooperando com esse objetivo, Sandra descobriu, na internet, que no período em que lá estaríamos ocorreria um show imperdível – o de Paul McCartney.
Quando ela comentou comigo, pensei cá com os meus botões prepotentes, que estando com 71 anos e Paul prestes a fazer 76, nada melhor do que vê-lo antes que parasse.
No meu inconsciente, estava indo a um show de Tony Bennett – 91 anos, mas hoje cantará em Santa Rosa, Califórnia, com ingressos esgotados – ou Charles Aznavour, que aos 93, amanhã se apresentará no Teatro degli Arcimboldi, em Milão, Itália. A longevidade é uma bênção, mas ninguém sabe por quanto tempo continuarão nos palcos.
À época, jamais pensei de forma invertida: que Roberto é que estava tendo uma chance única.
Entrei no Madison Square Garden e a ideia preconcebida caiu por terra. Quem adentrou ao palco não foi um artista em fim da carreira. Lá estava o jovem da minha adolescência, saltando e cantando por três horas ininterruptas. Nada de transpiração, zero respiração ofegante, nenhum copo de água para ativar o corpo e lubrificar as cordas vocais.
Sua resistência física é fenomenal. O show ainda rolava e eu já tinha optado por um novo ícone, uma nova referência.
Fiz essa escolha não só por testemunhar seu desempenho ao cantar de “Hard Day’s Night” a “Four Five Seconds”, passando por “Yesterday”, sempre com a voz poderosa e interagindo com o público. Mas por tudo o que sua performance estava me revelando.
Não é fácil ser, por tanto tempo, uma referência mundial. Ou se manter no topo de uma concorrida profissão em um mundo que acostumou-se ao descartável. É incomum conseguir manchetes por qualidades, em um mundo repleto de escândalos.
Não é fácil se preservar no universo artístico. Tem o trabalho noturno, as viagens cansativas, a fama que atrai riquezas e inveja, os fãs, a exposição à mídia – e agora todo portador de celular tem o poder de promover ou comprometer.
E sir James Paul McCartney – ele foi condecorado pela Rainha da Inglaterra -, que começou a cantar aos 15 anos e virou fenômeno mundial, consegue ser ainda compositor, multi-instrumentista, produtor musical e cinematográfico e ativista dos direitos dos animais – não come carne ou peixe.
Haja disposição!
E eu, que acreditava estar fisicamente bem para a minha idade, fiquei envergonhado da minha suposta barriguinha malhada. Ele tem zero. Paul McCartney é, sim, o cara.
Será que vou ter que me tornar vegetariano, já que ele é minha nova referência? Como não tenho nenhuma aptidão musical, a solução que vejo é fechar a boca.