Sou um homem pragmático. E razoavelmente esclarecido.
Economista por formação; empreendedor com vida dedicada à atividade econômica.
Com este perfil, não poderia ser diferente: sou mais inclinado aos números do que aos poemas; mais às planilhas do que à prosa fantasiosa.
De fato, sou adepto da clareza dos números, da lógica e das análises calcadas no bom senso. Este é meu “arsenal” para tomar decisões.
Não estou, definitivamente, no rol das pessoas que norteiam a vida com base (apenas) em intuições. Muito menos em superstições – contra as quais minha prática católica, de alguma forma, me blinda.
Porém…
Sim, tem um porém de que me faz pinçar, vez por outra, o dito popular:
– “No creo en brujas, pero que las hay, las hay…”
Devem mesmo existir.
E se divertem lançando porções de azar sobre determinados locais de João Pessoa.
Brincadeiras à parte, só mesmo apelando para o oculto para entender porque, com todas as indicações positivas, determinados pontos comerciais simplesmente não decolam. E, continuadamente, redundam em fracassos.
Claro que alguns negócios – especialmente no comércio – não prosperam por motivos bastante lógicos.
Posso enumerar alguns deles: falta de estacionamento; esquina de difícil acesso; pouca visibilidade; locais de trânsito crítico; produtos desfocados do perfil dos clientes. Fora, lógico, as falhas de gestão e capital.
São dados e variáveis eminentemente técnicos/econômicos que precisam ser levados em consideração.
O que desafia porém é observar que, mesmo com todas as variáveis equacionadas, com tudo encaixado, o negócio (ainda assim) não prospera.
O sujeito olha para a fachada, mais uma vez fechada, e se flagra pensando: mas tinha tudo para dar certo…
Não deu. De novo.
Aí não tem jeito. As bruxas fazem a festa. E o local recebe a pecha de azarento.
A Epitácio Pessoa, por exemplo, é campeã da urucubaca na Capital. Ao longo da avenida multiplicam-se casos de contínuo insucesso – que não nomino para não ter o “azar” de ser alvo de ação de indenização.
Cito, porém, outro local emblemático, localizado no coração da cidade.
Era início dos anos 70. João Pessoa em pleno crescimento. O maior grupo empresarial do comércio – capitaneado pelo meu inesquecível amigo Adrião Pires – constrói a primeira loja de departamentos da Capital, a GranPires.
Só pelo ineditismo, teria que dar certo. Não deu.
Na sequência, outro grande grupo – Mesbla S.A., sinônimo de poderio comercial – se instalou no local.
Lembro que, na época, pensei: “Agora vai”.
Não foi. O grupo quebrou.
Mais adiante, veio a Esplanada. Pensei com meus botões: “Perfeito”.
E tinha motivos para pensar assim: o local e o tipo de comércio eram adequados. A maioria da clientela não precisaria se deslocar de carro. O estoque harmonizava com o perfil de consumo dos clientes.
Toda a cidade, porém, já sabe qual foi o desfecho. Na carona da crise econômica, a loja acabou de fechar as portas.
Lá do além, as bruxas sorriem. Sim, você pode não acreditar, mas que elas existem, existem.
E parecem que gostam de azarar, o tempo todo, o mesmo lugar.