Ricardo Coutinho não dá mesmo murro em ponta de faca. A experiência política e os desafios vencidos lhe ensinaram a jogar, como ninguém, no tabuleiro, com uma frieza e uma capacidade de paralisar adversários e aliados. Ao anunciar enxugamento da máquina estadual, Ricardo foi perito nessa arte.
Seu gesto consegue, ao mesmo tempo, acenar positivamente para a opinião pública e, em segundo plano, se precaver da gula dos novos aliados, afoitos e sedentos pela divisão do bolo da vitória. Leia-se, ocupação de cargos e espaços nos escalões da gestão estadual.
Com a coletividade, Ricardo ganha ponto. A diminuição de gastos e o corte na gordura de uma máquina cara são sempre bem vistas pela população. A interpretação mais imediata é de medida de austeridade, atos reservados a gestores de coragem e de “peito” para enfrentar os desgastes em nome do interesse maior: o público.
Demonstra sintonia com a realidade futura de um ano de 2015 de dificuldades na economia e na realidade orçamentária do Brasil, contexto no qual a Paraíba se insere e deve também sentir na pele o ônus das contingências. Além do quê, a readequação tende na prática a redimensionar a máquina e otimizar serviços.
Em contrapartida, ao extinguir órgãos, diminuir o número de cargos na estrutura administrativa e fundir secretarias, o governador dá um cristalino recado aos aliados mais famintos. É como se dissesse para não esperarem tanto. Eles serão contemplados, mas de acordo com a nova realidade a ser posta na mesa.
Depois da exposição da reestruturação administrativa, Ricardo já conversará e escolherá indicados amparado num discurso de contenção, equilíbrio financeiro e de tempos de sacrifício. Por tabela, buscará compreensão para o momento de limitações em nome da governabilidade, do “projeto” e do espírito público.
Diante do contexto, entre aliados e partidos, quem será o primeiro a levantar a voz de eventual descontentamento, caso não seja contemplado na forma e na proporção almejada? Antes de anunciar nomes, Ricardo já vacinou o governo na reforma.