Regimes de exceção são um ponto em comum entre a maior parte dos países da América Latina. Assim como o Brasil, a Argentina também passou por um período militar ditatorial e as consequências desse período são sentidas até hoje. Vermelho Sol, novo filme do cineasta Benjamin Naishtat, retrata bem essa época, apresentando os conflitos sob a ótica do cidadão argentino médio, e chega, nesta quinta-feira (8), aos cinemas da Paraíba. Assista ao trailer abaixo.
A violência política é o mote da obra, embora ela esteja presente na película até mesmo nos momentos mais cotidianos, de maneira sutil. A cena inicial é uma boa mostra desse aspecto de Vermelho Sol. Durante a manhã ensolarada de uma pequena cidade na região rural do país, um homem sai de uma residência carregando uma bolsa. Depois, mais uma pessoa sai do mesmo local. E mais um. E mais um. Trata-se de um saque, em que vizinhos começam a pilhar as casas abandonadas por pessoas que deixaram tudo para trás por serem perseguidos pelo regime.
O protagonista da história, no entanto, é Dario. Advogado justo e acima de qualquer suspeita, ele e sua mulher vão jantar e acabam brigando com um cliente, que aparenta claro desequilíbrio. A sucessão de acontecimentos vai transformando aquela cena em um pesadelo para o correto cidadão, que chega às raias da loucura. Como consequência, ele acaba virando alvo de uma investigação policial, caindo no radar de um detetive encarregado por um caso de desaparecimento.
O filme, exibido no ano passado no Festival de Cinema do Rio, foi um dos mais elogiados da temporada. “A minha intenção era falar dessa imensa maioria silenciosa, que não se posicionou o suficiente, mas que foi central para estabelecer o terror. Fiz várias pesquisas sobre o homem comum dessa época. O filme tenta decifrar isso, as perspectivas do homem comum”, disse Benjamin, em entrevista ao jornal O Globo.
O diretor era apenas uma criança durante o regime militar, mas viu em seu seio familiar as consequências daquele período e sempre teve curiosidade de pesquisar mais sobre o assunto. “Minha família esteve no exílio, na França, nos anos 1970. Uma parte voltou, mas outra não. Cresci nos anos 1980, mas sofri as consequências daqueles traumas”, contou o diretor, também para O Globo. Vermelho Sol é resultado dessa inquietação, com o roteiro criado com base em pequenas histórias apresentadas em jornais da época.
A cena inicial, do saque à casa abandonada, no entanto, é baseada em uma memória pessoal. “A casa da minha família em Córdoba foi queimada e saqueada pelos militares, que pegaram tudo que tinha lá, inclusive memórias perdidas para sempre. Sei que é horrível, mas isso era uma coisa muito comum nos anos 1970”, relatou ao jornal carioca.
Coprodução entre Argentina, Brasil, França, Alemanha e Holanda, a obra conta com a direção de fotografia de Pedro Sotero. O pernambucano é conhecido por seus trabalhos com o diretor Kleber Mendonça Filhos nos filmes O Som ao Redor e Aquarius, mas também assina a fotografia de obras como Gabriel e a Montanha e Casa Grande, ambos de Fellipe Gamarano Barbosa.
‘RAINHAS DO CRIME’
Na adaptação da HQ Kitchen, da Vertigo, três mulheres tomam o poder da máfia para conseguir pagar as contas depois da prisão de seus maridos. No elenco, Elisabeth Moss, Tiffany Haddish e Melissa McCarthy.
‘MEU AMIGO ENZO’
Um cachorro muito inteligente passa os dias filosofando e aprendendo o que é ser humano a partir das observações que faz sobre a vida de seu dono, o piloto Denny Swift.
‘HISTÓRIAS ASSUSTADORAS PARA CONTAR NO ESCURO’
Um livro escrito pela jovem Sara Bellows guarda histórias macabras, que se tornan reais ao serem lidas por um grupo de adolescentes.
‘VOANDO ALTO’
Uma andorinha que cresceu criada por gaivotas precisa enfrentar uma crise de identidade e salvar ambas as espécies ao lidar com uma grande ameaça iminente.
‘MY HERO ACADEMIA — DOIS HERÓIS’
Filme derivado do animê anônimo, a história se passa em um evento tecnológico de heróis, que é hackeado e passa a ameaçar os donos de superpoderes.
https://www.youtube.com/watch?v=70jIwvNte1A
*Texto de André Luiz Maia, do Jornal CORREIO