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Violência contra a mulher ainda é realidade na PB

“Casei muito jovem, aos 16 anos, e a primeira violência aconteceu um ano depois. Era dia 24 de junho de 1988 e eu nunca vou esquecer essa data. Fui muito espancada e suportei a dor durante 28 anos. Na época, eu nem sabia a quem recorrer e só denunciei quando ele começou a espancar meus dois filhos. Hoje, conto com medida protetiva, mas ele ainda me persegue”.

O relato, entrecortado por lágrimas ao ressuscitar lembranças do passado, é da operadora de caixa *Mariana Lemos (nome fictício), de 50 anos, que só reuniu forças para denunciar o ex-marido após quase três décadas de violência, uma situação que afeta muitas outras mulheres no país.

Dados da edição de 2017 da Pesquisa Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, realizada pelo DataSenado, em parceria com o Observatório da Mulher contra a Violência (OMV), mostram que 21% delas sofreram algum tipo de violência doméstica ou familiar provocada por um homem, e 71% não denunciaram por medo do agressor.

“O que pesa não é nem a situação financeira. No meu caso, sempre trabalhei, cuidei de tudo. A questão maior são os valores de família, e ele não queria sair de casa porque era eu quem sustentava”, frisou. Recentemente, porém, apesar de estar sob medida protetiva, ela foi agredida pelo ex-marido no meio da rua.

Apesar da denúncia e da proteção legal, existem algumas questões a serem resolvidas na vida de Mariana, como a partilha da casa, que é dela, mas será vendida para que o valor seja dividido com o agressor.

Apoio é fundamental para recomeço

Mariana Lemos observou que muitas mulheres têm morrido vítimas da violência doméstica e familiar, mas o apoio da rede de proteção é fundamental para que elas tenham a certeza de que é possível recomeçar.

“Temos que agradecer a Ronda Maria da Penha, ao Centro de Referência, ONGs que nos ajudam e dão coragem para seguir em frente, correr atrás de nossa liberdade, sermos fortes. Hoje não estamos sozinhas. Esse trabalho não pode parar nunca”, acrescentou.

Além da dor e do sofrimento de ser violentada pelo próprio companheiro, as vítimas enfrentam ainda outro problema: o preconceito. “Já perdi dois empregos por causa do meu ex-marido. Ele fez um encarte falando coisas horríveis sobre mim e eu fiquei desempregada”, relatou Mariana Lemos.

No último emprego, em um supermercado, ela afirmou que foi demitida por conta da violência que sofreu. “Meu ex-chefe disse que pessoas do meu tipo não serviam para trabalhar da empresa dele”, lamentou.

O ex-marido de Mariana está afastado em razão da medida protetiva, mas a perseguição não acabou, segundo ela. “Vivo com ajuda da Ronda Maria da Penha, a Guarda vem me visitar, o SOS mulher”, relatou. No dia a dia, ela contou que pode até sair de casa, mas sempre com muito cuidado. “Não é fácil. Eu saio, mas olho para todos os lados para ver se ele não está à minha espera. Tenho muito medo”, confessou.

Preconceito

Além da dor e do sofrimento de ser violentada pelo próprio companheiro, as vítimas enfrentam ainda outro problema: o preconceito.

Humilhação e silêncio

Na última quarta-feira, dia 20, uma técnica de enfermagem do Hospital de Trauma Dom Luiz Gonzaga Rodrigues, em Campina Grande, foi vítima de uma tentativa de feminicídio. Eliete da Silva, 39 anos, é vinha sofrendo ameaças de seu companheiro desde 2011.

Em nota, a Secretaria de Estado da Saúde (SES-PB) destacou que a violência doméstica é uma das mais brutais formas de violência, que atinge a mulher na sua autonomia. “Eliete é vítima de um crime grave, praticada por quem a conhecia intimamente e sabia que atingí-la no seu ambiente de trabalho seria ainda mais humilhante e doloroso”, diz a nota.

O Hospital de Trauma de Campina Grande junto com a SES se comprometeram a auxiliar, proteger e resgatar a sua dignidade, além de colaborar com as autoridades policiais e a justiça.

Anualmente, são registradas centenas de ocorrências de violência doméstica em todo o país. Esses números expressam apenas uma parte do problema, porque muitas mulheres ainda sofrem sozinhas. “O medo, a dúvida, a vergonha são algumas das explicações para esse silêncio. Precisamos ter o entendimento que falar em violência contra as mulheres é falar de construção social”, observou a secretária de Políticas Públicas para Mulheres de João Pessoa, Adriana Urquiza.

Atendimento

O Centro de Referência da Mulher Ednalva Bezerra acolhe mulheres, orienta e encaminha para a Rede de Atendimento que tem uma equipe de psicólogas, assistentes sociais, advogadas, arte educadoras e terapeuta holística.

*Texto de Lucilene Meireles, do Jornal Correio

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