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Boqueirão perde água enquanto Aesa e Ministério não se entendem

Há expectativa de que no dia 10 de fevereiro de 2019 a água da transposição do Rio São Francisco volte a abastecer o açude Epitácio Pessoa, em Boqueirão. A informação é do novo presidente da Agência Executiva de Gestão das Águas no estado da Paraíba (Aesa), Porfírio Loureiro. O reservatório segue perdendo volume e depois de chegar a 35% após a transposição, teve a quantidade reduzida para quase 20% entre 2018 e 2019.

Em outubro de 2018, a Aesa havia informado que iria fazer uma fiscalização para saber o motivo da água do São Francisco não estar chegando até o açude de Boqueirão, ou se havia algum outro problema para o açude estar com o volume reduzido, uma vez que há um impasse sobre o assunto com Ministério da Integração.

Os órgãos não se entendem sobre as justificativas que expliquem os problemas com o volume do açude de Boqueirão. De um lado, a Aesa fala que a quantidade de água liberada da transposição é baixa, do outro, o Ministério da Integração afirma que está tudo normal. No fim, cerca de 1 milhão de pessoas continuam sem respostas para a duvidosa situação hídrica na região de Campina Grande.

Ainda em outubro, o Ministério da Integração relatou que os 2 mil litros por segundo que saem de Monteiro, no Cariri paraibano, até o açude Epitácio Pessoa, eram suficientes para que o bombeamento chegasse a abastecê-lo normalmente e atender à demanda, o que a Aesa, por sua vez, diz não ser.

Segundo Porfírio Loureiro, Boqueirão está perdendo volume porque a vazão que sai de Monteiro para Boqueirão é menor que antes. Conforme ele, quando o açude chegou a obter mais de 35% da capacidade, após a transposição e além do período de chuvas, havia uma média (desde 2017) de 3,91 metros cúbicos que eram liberados pelo Ministério da Integração – quase o dobro da vazão atual.

De acordo com o presidente da agência, a água segue o percurso por todos os açudes normalmente, inclusive está passando pelos reservatórios de Camalaú e Poções, que apesar das obras não finalizadas, não atrapalham o fluxo de chegada até Boqueirão.

“O problema da chegada da água ao açude, no entanto, é que faltando 35 km para completar o percurso até o Epitácio Pessoa, a água enfrenta problemas com atraso devido à vazão que está sendo liberada”, relatou o presidente da Aesa, culpando, novamente, uma situação que depende do Ministério da Integração.

Com 2 mil litros saindo de Monteiro, o açude de Boqueirão tende ainda, de acordo com ele, a receber o mesmo volume que libera para a Cagepa, cerca de 1 metro cúbico por segundo (1000 litros). Considerando que, em média, Boqueirão perde essa quantidade de água a cada dia e por segundo, se juntar a falta de chuvas na região e ainda a taxa de evaporação, o manancial segue acumulando prejuízos. Logo, segundo ele, durante o mês, o Epitácio Pessoa tem uma perda de cerca de 4,5 milhões de metros cúbicos.

Resposta do ministério 

Por email, o Ministério da Integração enviou ao Portal Correio o que achou conveniente, sem responder a todas as perguntas formuladas.

“A água está sendo liberada normalmente por meio do bombeamento do eixo leste do Projeto de Integração do Rio São Francisco. O bombeamento, que havia sido temporariamente interrompido para execução das obras de recuperação e modernização das barragens Camalaú e Poções (PB), está funcionando desde o mês de setembro de 2018”, diz a resposta.

O mistério também disse que não há nenhum ônus pelo recebimento das águas. “É importante esclarecer que o Governo Federal tem arcado financeiramente com todos os custos do sistema do eixo leste, que desde março de 2017 vem atendendo mais de um milhão de pessoas na Paraíba e em Pernambuco. Esse trecho possibilitou, por exemplo, o fim do racionamento na Região Metropolitana de Campina Grande e evitou o colapso hídrico dessas localidades. Os dois estados já beneficiados não têm tido nenhum ônus pelo recebimento das águas do Projeto, que está em fase de pré-operação” – a mesma resposta dada para reportagem do Portal Correio publicada há alguns meses.

O Portal Correio questionou o Ministério da Integração sobre a informação repassada pela Aesa, de que a vazão que está saindo de Monteiro seria insuficiente para que a região seja abastecida normalmente. Foi perguntado como se dá a decisão sobre a quantidade de vazão que é liberada pelo Açude de Poções, com base no que é suficiente para abastecer a região, mas nada disso foi respondido.

Outro questionamento também foi feito acerca do porquê a vazão ter diminuído, mas a assessoria do Ministério, por telefone, informou: “A resposta do Ministério da Integração, por enquanto, é o que foi respondido em contato por e-mail. O Ministério pede que Portal Correio utilize o que foi dito”.

Sem racionamento

O diretor da Cagepa Borborema, Ronaldo Menezes, falou sobre as condições de racionamento e relatou que na situação em que o Epitácio Pessoa está atualmente ainda não há essa possibilidade.

“Do ponto de vista técnico, para um açude com a capacidade e demanda de Boqueirão entrar em racionamento, o nível que ele precisaria chegar é de 8,2% da capacidade, que é a chegada no volume morto, quando chega nesse volume, a tomada de fundo não pode mais ser utilizada, teria que ser a captação flutuante porque ela não consegue captar,” relatou.

Chuvas

Há esperança também de que chova durante este período, o que seria positivo para a região de Boqueirão. Segundo a meteorologista da Aesa, Marle Bandeira, há probabilidade de que nas próximas semanas chova no Agreste e no Cariri. O que ainda não é possível dizer, é se haverá aumento gradativo do volume de Boqueirão por causa dessas chuvas.

Situação in loco

O engenheiro Alírio Fernandes trabalha nas obras do reservatório de Camalaú-PB. O trecho precisou de intervenções, o que interrompeu o fluxo da água do São Francisco do eixo leste para Boqueirão. Alírio explicou que as construções estão 98% concluídas e deverão ficar totalmente prontas ainda em janeiro.

Veja abaixo imagens feitas em Camalaú pelo repórter Hiran Baborsa, da 98 FM Campina Grande.

O engenheiro deu as mesmas informações da Aesa sobre a vazão, afirmando que elas estão abaixo do necessário, mas que deverão ser normalizadas a partir de estudos feitos pelo Ministério da Integração.

Engenheiro Alírio Fernandes explica estágio das obras em Camalaú (Foto: Hiran Barbosa/98 FM Campina Grande)

O agricultor César Manoel de Sousa, que tem propriedades na região, disse que a população está enfrentando dificuldades desde que o fluxo da água da transposição foi interrompido, por causa das obras em Camalaú e Poções, no ano passado. Ele falou que a situação só não ficou mais grave porque tem um poço particular.

Apesar disso, César segue otimista, acreditando que até fevereiro a situação deverá ser resolvida e a água voltará a passar pela região, até Boqueirão.

*Imagens e apuração in loco: Hiran Barbosa, da 98 FM Campina Grande

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