A Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) informou nesta sexta-feira (14) que vai investigar os alertas falsos de terremoto enviados pelo Google a usuários do sistema Android. Segundo a agência, os disparos foram feitos para regiões de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais — a quantidade de pessoas atingida nos estados não foi divulgada. A Anatel esclareceu, ainda, que os avisos não partiram do sistema próprio da agência, o Defesa Civil Alerta, lançado em dezembro.
“Considerando o caso noticiado e o impacto causado na população, a Anatel instaurou um processo administrativo para avaliar a situação em detalhes, a fim de compreender os mecanismos de geração e de disseminação de tais alertas via redes de telecomunicações. Verificada qualquer irregularidade, a Agência adotará as providências adequadas junto à empresa responsável, de modo a impedir novos episódios do evento observado, preservando a eficácia e a credibilidade do Defesa Civil Alerta perante a sociedade”, escreveu, em nota.
Segundo a agência, atualmente, o envio de alertas de desastres via sistemas de telecomunicações ocorre por mensagem de texto nos celulares, nas TVs por assinatura e pelo Defesa Civil Alerta, que usa a tecnologia Cell Broadcast — as divulgações são feitas com aviso sonoro e vibração para os celulares, sem necessidade de cadastro.
A Anatel reforçou a efetividade do sistema próprio de alertas. “Desde seu lançamento oficial em 4 de dezembro de 2024, o Defesa Civil Alerta já foi utilizado com êxito em mais de 150 ocasiões, colaborando na proteção da população durante momentos de crise”, destacou, ao acrescentar que os disparos foram feitos diretamente pelo Google.
“Após consulta entre os diversos atores envolvidos, a Agência esclarece que as referidas notificações de terremoto não foram emitidas pelas prestadoras de telecomunicações ou pelo Sistema Nacional de Defesa Civil por meio da Interface de Divulgação de Alertas Públicos (IDAP). Assim, não se confundem com mensagens encaminhadas pelo Defesa Civil Alerta. Tais alarmes foram enviados diretamente pelo Google para dispositivos com sistema Android”, completou a agência.
Moradores de SP, RJ e MG receberam os falsos alertas na madrugada desta quarta. Após a repercussão, o Google pediu desculpas pelo mal-funcionamento do sistema de alerta de abalos sísmicos e informou que desativou a ferramenta no Brasil.
A empresa afirmou, ainda, que a ferramenta é um complemento aos sistemas oficiais de sismologia e não foi criada para substituir esses alertas oficiais.
“O Sistema Android de Alertas de Terremoto é um sistema complementar que usa celulares Android para rapidamente estimar vibrações de terremotos e oferecer alertas para as pessoas. Ele não foi desenhado para substituir nenhum outro sistema de alerta oficial. Em 14 de fevereiro, nosso sistema detectou sinais de celulares em localização próxima ao litoral de São Paulo e disparou um alerta de terremoto aos usuários na região. Nós desativamos prontamente o sistema de alerta no Brasil e estamos investigando o ocorrido. Pedimos desculpas aos nossos usuários pelo inconveniente e seguimos comprometidos em aprimorar nossas ferramentas”, escreveu o Google.
Para funcionar, o sistema utiliza o acelerômetro dos celulares. Esses chips são capazes de detectar movimentos, velocidade, vibrações e até a inclinação de um aparelho. Quando chips de muitos celulares detectam certos tipos de vibrações, o alerta pode ser emitido — o objetivo é que a notificação chegue segundos antes dos avisos oficiais, e ajude moradores a se proteger.
Devido aos avisos, o termo “terremoto perto de mim” é um dos mais buscados no Google nesta sexta.
A RSBR (Rede Sismográfica Brasileira) emitiu uma nota afirmando que não detectou qualquer atividade sismológica na costa brasileira e confirma que se tratou de um falso positivo.
“Trata-se de um falso alerta. O sistema do Android utiliza o acelerômetro dos celulares para identificar possíveis tremores, mas algo não está devidamente calibrado para o Brasil, o que pode levar a notificações equivocadas”, explicou o Dr. Sergio Fontes, coordenador da RSBR.
Segundo comunicado do Observatório Nacional, “esse tipo de tecnologia tem potencial para complementar o monitoramento oficial, mas ainda enfrenta desafios para evitar alarmes falsos, especialmente em regiões sem alta sismicidade como o Brasil”.
Receba todas as notícias do Portal Correio no grupo do WhatsApp ou Assine o Canal do Portal Correio no WhatsApp