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Arquitetura hostil: entenda por que ela reforça desigualdades

Especialista apresenta impactos gerados por obras que excluem pessoas mais pobres

A arquitetura hostil está presente em diversos projetos ao redor do planeta. Por exemplo, há vários projetos de revitalização urbana que preveem bancos de praças com braços dividindo o espaço, ou com acentos inclinados, não permitindo que pessoas em situação de rua os usem para dormir. Mas como ela pode promover ou reforçar mais desigualdades sociais?

As estratégias relacionadas à arquitetura hostil regulamentam o espaço público e afastam as populações mais pobres para as fronteiras e franjas das grandes cidades. “A quem pertence a cidade? As áreas aparentemente mais estruturadas pertencem aos que têm o poder econômico e consequentemente social, portanto indiretamente a arquitetura hostil dialoga com a população mais pobre, alertando-a que ali, apesar de ser um espaço público, não é o seu lugar”, explana o Prof. Me. Rui Rocha Jr., de Arquitetura e Urbanismo do Unipê.

“Nesse caso, os conflitos sociais urbanos se amplificam e irão refletir em outros locais das cidades. Passa a ser uma arquitetura da exclusão, a cidade é de todos e para todos, mas essas estratégias criam muros invisíveis quase como um ‘apartheid urbano’”, compara o arquiteto e urbanista.

Impactos

Rui acredita que as ações que se ligam à ideia de arquitetura hostil fazem parte de um grande ciclo de limpeza e reestruturação urbana.

“O espaço público muitas vezes é idealizado como um lugar bucólico, de lazer e paz, entretanto as cidades possuem, em sua maioria, dinâmicas muito conflituosas. Quando se tenta afastar esses grupos sociais excluídos, escondem-se os conflitos que nunca são mediados e consequentemente nunca serão resolvidos. No caso da arquitetura hostil, estamos agravando a má qualidade das nossas cidades”, exemplifica.

Para ele, então, a maior hostilidade é refletida na ausência de resposta aos problemas sociais que a cidade apresenta. “A arquitetura hostil tenta ‘varrer para baixo do tapete’ as questões sociais que estamos ainda longe de resolver”, afirma.

Como ter espaços mais igualitários?

Na contramão de uma arquitetura hostil, seria preciso haver uma “arquitetura amistosa” nas cidades, segundo Rui. E as soluções podem ser desafiadoras e mais profundas, por exemplo, para as pessoas em situação de rua.

“Políticas públicas de abrigo e habitação social, educação e melhor condição de emprego são algumas delas. Entretanto, é preciso ressaltar ainda que esses espaços são utilizados por pedestres, crianças, idosos e pessoas com dificuldades de locomoção. Marquises e viadutos servem como abrigo às intempéries, para transeuntes, motociclistas e ciclistas que estão passando. Quanto aos skatistas e praticantes do parkour, penso que a cidade deve ser aprazível, lúdica e vivenciada por todos, isso traz vitalidade urbana”, considera Rui.

O professor diz ainda que a arquitetura e o desenho urbano não são a solução única para os problemas sociais, mas lembra que eles ajudam a resolvê-los tanto quanto podem agravá-los. “É preciso mudar a forma como encaramos a cidade, pensar no coletivo e em soluções que abracem a todos.”

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