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Com mais de 60,3 milhões de votos, Lula é eleito e volta à Presidência do Brasil

Na Paraíba, Lula conquistou mais de 1,6 milhão de votos (66,62% do total), ante 802,5 mil votos (33,38%) obtidos por Jair Bolsonaro
Lula é eleito presidente do Brasil — Foto: Ricardo Stuckert/Divulgação

Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi eleito presidente da República neste domingo (30), segundo turno das Eleições 2022. O petista conquistou 50,90% dos votos válidos, o que representou apoio de 60.345.999 de eleitores nas urnas. Geraldo Alckmin (PSB) é o vice-presidente.

Essa foi a votação mais expressiva da história do país. O recorde anterior (58.295.042 votos) era do próprio Lula, no pleito de 2006.

Jair Bolsonaro (PL) obteve 58.206.354 de votos (49,10%). Brancos (1,43%) e nulos (3,16%) somavam pouco mais de 5.700.443 de votos. Esta é a primeira vez em que um presidente em exercício não consegue se reeleger desde a redemocratização do Brasil.

A contagem foi acirradíssima e teve duas viradas: às 17h07 para Bolsonaro e às 18h44 para Lula, que seguiu à frente até o fim da apuração.

Na Paraíba, Lula teve 1.601.953 votos (66,62%), ante 802.502 votos (33,38%) acumulados por Jair Bolsonaro.

Lula e Bolsonaro alcançaram o segundo turno das Eleições 2022 ao reunirem, juntos, 91,63% dos votos válidos no primeiro turno. Foram 57.259.504 votos para o petista e 51.072.345 votos para o atual presidente. Brancos (1,59%) e nulos (2,82%) somaram 5.452.653 votos em 2 de outubro.

Geraldo Alckmin (PSB) é o vice de Lula — Foto: Ricardo Stuckert/Divulgação

Lula: infância pobre, luta sindical e liderança política

Luiz Inácio Lula da Silva, natural de Garanhuns-PE, tem 76 anos. Filho dos lavradores Aristides Inácio da Silva e Eurídice Ferreira de Mello, ele teve uma infância pobre, marcada pela dificuldade de sobrevivência da família, mantida quase somente pela mãe, já que o pai trabalhava em São Paulo. 

Aos sete anos de idade, mudou-se para Guarujá-SP, numa viagem de 13 dias em caminhão ‘pau-de-arara’, com a mãe e os irmãos. A chegada ao litoral paulista foi marcada pela decepção de encontrar o pai com outra família. A dificuldade da mãe em sustentar os filhos fez com que Lula começasse a trabalhar como ambulante ainda criança.

Em 1956, mudou-se para a Capital de São Paulo. Lá, por insistência da mãe, e ao contrário dos irmãos que saíram da escola no 3º ano primário, cursou até a 5ª série. Aos 12 anos de idade, Lula conseguiu seu primeiro emprego numa tinturaria. Também foi engraxate e office-boy.

Com 14 anos, começou a trabalhar nos Armazéns Gerais Columbia, onde teve a Carteira de Trabalho assinada pela primeira vez. Lula transferiu-se depois para a Fábrica de Parafusos Marte e obteve uma vaga no curso de torneiro mecânico do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai). O curso durou três anos e Lula tornou-se metalúrgico.

A crise após o golpe militar de 1964 levou Lula a mudar de emprego, passando por várias fábricas, até ingressar nas Indústrias Villares, uma das principais metalúrgicas do país, localizada em São Bernardo do Campo, no ABC paulista. Trabalhando na Villares, Lula começou a ter contato com o movimento sindical, através de seu irmão José Ferreira da Silva, mais conhecido por Frei Chico.

Em 1969, o Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo e Diadema fez eleição para escolher uma nova diretoria e Lula foi eleito suplente. Na eleição seguinte, em 1972, tornou-se primeiro-secretário. Em 1975, foi eleito presidente do sindicato com 92% dos votos, passando a representar 100 mil trabalhadores. 

Lula deu então uma nova direção ao movimento sindical brasileiro. Em 1978, foi reeleito presidente do sindicato e, após 10 anos sem greves operárias, ocorreram no país as primeiras paralisações. Em março de 1979, 170 mil metalúrgicos pararam o ABC paulista. A repressão policial ao movimento grevista e a quase inexistência de políticos que representassem os interesses dos trabalhadores no Congresso Nacional fez com que Lula pensasse pela primeira vez em criar um partido dos trabalhadores.

O Brasil atravessava, então, um processo de abertura política lenta e gradual comandada pelos militares ainda no poder. Em 10 de fevereiro de 1980, Lula fundou o PT, juntamente com outros sindicalistas, intelectuais, políticos e representantes de movimentos sociais, como lideranças rurais e religiosas. 

Em 1980, uma nova greve dos metalúrgicos provocou a intervenção do Governo Federal no sindicato e a prisão de Lula e outros dirigentes sindicais, com base na Lei de Segurança Nacional. Foram 31 dias de prisão.

Em 1982, o PT já estava implantado em quase todo o território nacional. Lula liderou a organização do partido e disputou naquele ano o Governo de São Paulo. Em agosto de 1983, participou da fundação da Central Única dos Trabalhadores (CUT) e, em 1984, atuou como uma das principais lideranças da campanha “Diretas-já” para a Presidência da República. Em 1986, foi eleito o deputado federal mais votado do país, para a Assembleia Constituinte.

O PT lançou Lula para disputar a Presidência da República em 1989, após 29 anos sem eleição direta para o cargo. Ele perdeu a disputa no segundo turno.

Dois anos depois, Lula liderou uma mobilização nacional contra a corrupção que culminou no impeachment do presidente Fernando Collor de Mello. Em 1994 e 1998, Lula voltou a se candidatar a presidente da República e foi derrotado por Fernando Henrique Cardoso.

Na última semana de junho de 2002, a Convenção Nacional do PT aprovou uma ampla aliança política (PT, PL, PCdoB, PCB e PMN), que teve por base um programa de governo para resgatar as dívidas sociais fundamentais que o país tem com a grande maioria do povo brasileiro. O candidato a vice-presidente na chapa foi o senador José Alencar, do PL de Minas Gerais.

Em 27 de outubro de 2002, aos 57 anos de idade, com quase 53 milhões de votos, Luiz Inácio Lula da Silva foi eleito presidente da República Federativa do Brasil.

Foto: Ricardo Stuckert/Divulgação

O primeiro mandato do presidente Lula preparou o país para o crescimento econômico, com importantes avanços sociais e significativa melhoria na distribuição de renda, sobretudo, graças à política de valorização do salário mínimo e a programas como o Bolsa Família.

A redução das desigualdades foi uma das marcas dos quatro primeiros anos de governo. Cerca de 7 milhões de brasileiros ascenderam à classe média. Lula terminou o primeiro mandato com a aprovação histórica de 57%.

No dia 29 de outubro de 2006, Luiz Inácio Lula da Silva, novamente na companhia do vice José Alencar, foi reeleito presidente da República com mais de 58 milhões de votos, a maior votação da história do Brasil até então.

Lula recebeu diversas ofertas do título de doutor honoris causa — mais alta condecoração concedida por universidades. O título é atribuído a personalidades que tenham se destacado singularmente por contribuições à cultura, à educação ou à humanidade. 

Apesar de os convites terem começado ainda durante seu governo, Lula só passou a aceitá-los após o encerramento do segundo mandato. Desde então, foram mais de 35 títulos de doutor honoris causa, concedidos por instituições do Brasil e da França. 

Casamentos e filhos

Em 24 de maio de 1969, Lula casou-se com a operária mineira Maria de Lourdes da Silva. Ela contraiu hepatite no oitavo mês de gravidez, em junho de 1971, e morreu durante cesariana. O bebê também não sobreviveu.

Em 1974, Lula teve uma filha chamada Lurian com a enfermeira Miriam Cordeiro, sua namorada na época. Mais tarde no mesmo ano, casou-se com a então viúva Marisa Letícia Casa dos Santos. Lula adotou o filho de Marisa, Marcos Cláudio, e com ela teve mais três filhos: Fábio Luís, Sandro Luís e Luís Cláudio. Vítima de um acidente vascular cerebral, Marisa Letícia morreu em 2017. 

Lula permaneceu viúvo até maio de 2022, quando casou-se com a socióloga Rosângela da Silva, conhecida como Janja. O casal assumiu o namoro em 2019.

Lula e Janja se casaram em maio deste ano — Foto: Ricardo Stuckert/Divulgação

Acusações de corrupção e batalha judicial

Em 2016, Lula passou a ser investigado na Operação Lava Jato, que apurava a participação de agentes públicos, empresários e doleiros em esquemas de corrupção, sobretudo na Petrobras. 

Em 7 de abril de 2018, Lula é preso por determinação do então juiz Sergio Moro, que julgava o processo do triplex do Guarujá. Condenado a 12 anos e um mês de reclusão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, Lula teve pena reduzida para 8 anos, 10 meses e 20 dias pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) em abril de 2019.

Enquanto estava preso, o petista sofreu outra condenação, dessa vez no processo sobre o sítio de Atibaia. A Justiça entendeu que Lula havia recebido propinas da OAS e da Odebrecht por meio de reformas no imóvel e o condenou a 12 anos e 11 meses de prisão.

Lula foi solto em 8 de novembro de 2019, 580 dias após sua prisão, devido à mudança de entendimento do Supremo Tribunal Federal (STF) a respeito da prisão em segunda instância. 

Atualmente, Lula não deve nada à Justiça Brasileira. Isso porque o STF considerou que Sérgio Moro foi parcial no julgamento do caso do triplex do Guarujá e declarou suspeição do então magistrado. A Corte também decidiu que as ações sobre o sítio de Atibaia e o Instituto Lula não deveriam ter sido julgadas em Curitiba, onde Moro era juiz, mas em Brasília. Àquela altura, o prazo para o Estado buscar a condenação de Lula havia acabado. Todos os processos que condenaram e tornaram Lula inelegível estavam, portanto, anulados. Na prática, é como se eles sequer tivessem existido.

Foto: Ricardo Stuckert/Divulgação

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* Matéria modificada às 7h de segunda-feira (31) para atualização de dados da apuração.

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