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Conheça fatos por trás da expressão ‘Até boi pode voar’

* Adelson Barbosa dos Santos, do Jornal Correio da Paraíba

Na política, até boi pode voar. Esta expressão surgiu a partir de um acontecimento improvável, em Recife, no domínio holandês. O conde Maurício de Nassau anunciou o boi voador e o fez atravessar um rio de uma margem à outra. Só que o boi era empalhado. A expressão ganhou conotação política e perdura até hoje na Paraíba. Indica absurdos como a união de partidos radicais de esquerda com partidos conservadores de direita. Foi assim no Brasil do PT/PC do B com velhas raposas peemedebistas vindas da Arena. Foi assim na Paraíba quando o comunista Simão Almeida surpreendeu e se uniu ao braguismo nas eleições de 1996.

A expressão “na política até boi pode voar” ilustra bem os casos absurdos de união dos contrários na disputa pelo poder. São casos tão absurdos e inimagináveis (para a ocasião) quanto um boi voador. Esses casos não acontecem com frequência, mas se tornaram frequentes de meados dos anos 80 do século 20 para cá. As brigas e uniões entres adversários de direita não surpreendem.No passado, quando a direita se revezava no poder, dividida entre UDN (União Democrática Nacional) e PSD (Partido Social Democrata), era comum um se juntar ao outro para anular uma terceira via. Essa terceira via geralmente saia de um desses agrupamentos políticos. As lideranças brigavam e se recompunham.

No entanto, os partidos de esquerda, de 1945 a meados dos anos 1990, sempre mantiveram distância dos agrupamentos de direita. Aos poucos, o cenário mudava e a sociedade ficava surpresa toda vez que havia a união entre esquerda e direita, de inimigos a ferro e fogo.

União entre Sarney e Tancredo

Não entre esquerda e direita, mas a união dos contrários em 1986 surpreendeu a sociedade quando o presidente da Arena (partido de sustentação da ditadura por 21 anos), José Sarney (MA), juntou-se a Tancredo Neves (PMDB-MG), ferrenho opositor do governo e crítico radical da ditadura, para combater Paulo Maluf (PDS) – um dissidente da direita comandada partidariamente por Sarney- numa disputa pela Presidência da República no chamado Colégio Eleitoral.

A maioria dos brasileiros ficou estupefata com a união de Tancredo com Sarney. A cara do PMDB e a cara da Arena juntas no mesmo esquema. Vitoriosos na disputa contra Maluf, Tancredo morreu dias depois e Sarney levou a melhor por quatro anos e afundou o País  numa das piores crises da história, assumindo a presidência.

PC do B foi com o braguismo

Em 1989, a história seguiu o curso normal na polarização entre direita e esquerda. Fernando Collor de Melo (PRN) derrotou Luís Inácio Lula da Silva (PT). Em 1994, no mesmo contexto ideológico, o tucano Fernando Henrique Cardoso derrotou Lula, fato repetido em 1998.

Lula esqueceu o passado de luta contra a direita para se juntar a tudo o que ele e o PT chamavam de mal e mau, de exploradores dos trabalhadores. Foi eleito em 2002 e reeleito em 2006, consequência das alianças com as velhas raposas e capitalistas tão combatidos. Foi assim com Dilma Roussef em 2010 e 2014, agraciada e derrubada pelas mesmas raposas e capitalistas selvagens, na visão da esquerda.

Foi assim na Paraíba quando o comunista Simão Almeida juntou-se ao esquema, na época tachado de corrupto, de Lúcia Braga; quando o socialista Antônio Augusto Arroxelas aliou-se ao direitista (segundo esquerda) Tarcísio Burity; quando a petista Cozete Barbosa juntou-se ao grupo Cunha Lima.

O período pré-eleitoral de 1996 – para a campanha de prefeito – foi de indefinição até os minutos finais que antecederam às convenções para a homologação das chapas encabeçadas por Cícero Lucena (PMDB) e Lúcia Braga (PDT). Pelo esquema peemedebista, nenhuma novidade.

Repúdio levou à vitória de Cícero

Da mesma que os habitantes de Recife do século 16 ficaram boquiabertos com o boi voador do conde Maurício de Nassau, os pessoenses do final do século 20 demoraram um pouco a acreditar que um comunista, radical de esquerda, filiado a um partido marxista-stalinista, que pregou a luta armada, pudesse aliar-se a um grupo político considerado de ultra-direita, sinônimo de corrupção: o braguismo. Houve repúdio do eleitorado.

O braguismo era formado pelo casal Wilson e Lúcia Braga. O partido de Simão, o PC do B, o indicou para vice de Lúcia na campanha de 1996. Vinda da Arena (partido que deu sustentação ao regime militar e a todas as atrocidades condenadas pelo PC do B), Lúcia Braga estava filiada ao PDT naquela disputa.

Ela já tinha passado pelo PDS e pelo PFL, partidos que sucederam à Arena. Estava tentando livrar-se da pecha de direitista, da conivência que as elevadas taxas de violência no governo do marido, entre 1983 e 1986, do envolvimento no assassinato do empresário Paulo Brandão. Para isso, procurou se aproximar da esquerda e tentou ganhar a confiança da sociedade compondo com o PC do B. O eleitorado de João Pessoa não perdoou. Elegeu Cícero Lucena e Reginaldo Tavares.

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