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‘Ecos da Jovem Guarda (Final)’, por João Trindade

A Jovem Guarda não Foi só Roberto, Erasmo, Wanderléa, Wanderley e Jerry. A Jovem
Guarda tinha Demétrius, Martinha, Trio esperança, Golden Boys, Os incríveis, Renato e Seus Blue Caps, Waldirene, Silvinha, Eduardo Araújo, Os Vips, Cátia Cilene, Marcus Pitter, Paulo Henrique, Antônio Marcos e … Zé Roberto!

Onde andará Zé Roberto? Jerry eu o encontrei uma vez, em Campina Grande, em 88, quando fiz uma entrevista que nunca passei para o papel, devido a uma doença que tive na época. Foi um dia inteiro, à beira da piscina do Hotel Serrano, com direito a foto e tudo.

Onde andará Zé Roberto, meu maior ídolo no período da Jovem Guarda? Foram muitas as vezes em que briguei com meu irmão Francisco, por causa da Jovem Guarda e, sobretudo, de Zé Roberto. De idades diferentes, eu e Francisco nos engalfinhávamos, porque, para ele, Jovem Guarda era subproduto, alienação; preferia “Chico, Gil e Caetano” (a frase da moda na época), e eu não poderia, sendo irmão dele e de Virgílio Trindade, ambos da Rádio Espinharas, gostar de Zé Roberto.

Zé Roberto era meu grande ídolo. Embalado pelas músicas dele (que fora lançado por
Roberto Carlos, assim como Martinha e Waldirene) muitas vezes chorei por Conceição (outro pseudoamor); agora, eu já com 12 anos.

Inesquecível o dia em que Zé Roberto foi a Patos. Era o primeiro cantor de projeção nacional (da Jovem Guarda) que ia a Patos. Roberto Carlos, nem pensar; no máximo, viria (como realmente veio) a João Pessoa. Zé Roberto era considerado bonito (assim como Ronnie Von; este, considerado lindo) e as meninas ficavam ouriçadas. Na época, lançara mais um LP: José Roberto e seus Sucessos (vol.3), em que aparecia montado numa moto.

As luzes do cinema se acenderam. Entrou Zé Roberto no palco, cantando “O Xote das Meninas”, de Humberto Teixeira e Luiz Gonzaga; agora em ritmo de iê, iê, iê. Depois, vieram outros sucessos: Benzinho; Tenho Um Amor Melhor que o Seu; Preciso Esquecer que te Amo; A Minha Vingança; Hoje Eu Venho Dizer que te Amo, etc.

A história da Jovem Guarda é a história de muita gente assim como eu, que teve nela um espelho, embora por um pequeno espaço de vida Erram os que negam a importância da Jovem Guarda. Nem todo mundo que gostou daquele movimento continuou “alienado”. A
Jovem Guarda nos ensinou a ser alegres e rebeldes. Roberto Carlos pode até não ter querido, ao usar cabelo grande, mudar um comportamento ou impor rebeldia; pode até ter sido pura alienação. Mas que foi importante nas relações familiares, foi. Minha mãe, por exemplo, um dia me deixou usar cabelo grande e sapato sem meia. Éramos crianças de cabelo grande, crucifixo no peito, anel do calhambeque, mas, paralelamente, líamos muito e, o mais importante: não havia drogas.

A Jovem Guarda marcou época na minha vida. Principalmente porque me pegou na fase mais marcante da infância e início da adolescência. Quando hoje, por um momento, fecho os olhos, vejo-me cantando no Cine Eldorado, onde fui “rei” duas vezes (uma com “Você me Acende”, de Erasmo e outra com “O canudinho” de Wanderley Cardoso), e onde também fui vaiado, ao cantar “Django”, porque o guitarrista pegou um tom muito alto, e eu, tímido, não quis pedir para ele baixar.

Despedi-me de Patos e da Jovem Guarda numa manhã de domingo de 1970, quando cantei, no mesmo Eldorado, “As Curvas da Estrada de Santos”.

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