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Eleitor prefere voto nominal na Paraíba

O descrédito e frustração na política e nas ideologias partidárias têm feito o paraibano ir às urnas votar em pessoas e não em legendas. A proporção de votos desse tipo para vereador nos municípios vem caindo, segundo levantamento realizado pelo CORREIO entre as eleições municipais de 2012 e 2016. Dos 27 partidos que participaram dos dois pleitos, 17 apresentaram queda na votação de legenda e 13 registraram queda nas nominais. Com base nos números, especialistas dizem que o excesso de partidos e a falta de credibilidade da atividade política como um todo leva o eleitor a votar muito mais em pessoas do que em agremiações partidárias.

Na hora de votar, o que pesa mais: o partido e sua ideologia, a trajetória pessoal do candidato, a proximidade, uma indicação de amigo ou um favor trocado? Geralmente a proximidade com o candidato faz com que o eleitor vote sem levar em consideração o partido em que o postulante do mandato está filiado.

Para o cientista político e professor doutor da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Lúcio Flávio, a enorme quantidade de siglas causa uma grande confusão no eleitorado. “Como a maioria desses partidos não tem identidade ideológica e não possui um programa partidário sério, termina apenas prejudicando ainda mais a governabilidade.O excesso de partidos leva o eleitor a votar muito mais em pessoas do que em agremiações partidárias”, destacou.

Segundo o professor, esse fenômeno reforça o personalismo e o autoritarismo, características da tradição política brasileira. Ele destacou ainda que a facilidade com que se troca de partido é outro fator que reforça o personalismo. “Para ficarmos apenas num exemplo, o presidente Jair Bolsonaro já pertenceu a oito partidos diferentes, ao longo da sua vida pública de 30 anos. E está prestes a abandonar o PSL, sem sofrer nenhuma penalidade”, observou.

Lúcio Flávio disse ainda que enquanto os políticos forem maior do que os partidos, a democracia brasileira ficará sujeita a “Salvadores da Pátria”, como Janio Quadros, Collor de Melo e Jair Bolsonaro. Ele acrescentou dizendo que o sistema partidário brasileiro é uma verdadeira bagunça. “Temos no país 35 partidos legalizados e cerca de uma dezena aguardando sua oficialização”, frisou o professor.

Na Paraíba, entre os 17 partidos que apresentaram queda no número de votos na legenda estão o PT com uma média de 63,89% se comparado os pleitos de 2012 e 2016. Também está na lista outras siglas grandes como o Democratas com 45,91% e o MDB com 32,77%. No ranking das 10 maiores perdas estão ainda o Cidadania com 47,01%, o PR com 32,02% e o PV com 23,09%.

Entre os que aumentaram o voto no candidato, ou seja, o voto nominal, estão o PSDB com 10,41%, o Psol com 102, 52%, o PDT com 10,94%, o PSL do presidente Jair Bolsonaro com 100,31%, o PSB do governador João Azevêdo com 65,09%. Lembrando que os dois últimos partidos enfrentam uma crise interna faltando um ano para o processo eleitoral para a escolha de prefeitos e vereadores.

Voto de legenda cai entre 2012 e 2016

PT 63,89%
PMN 48,99%
Cidadania 47,01%
Democratas 45,91%
PSC 37,44%
PHS 36,32%
MDB 32,77%
PPL 32,23%
PR 32,02%
PV 23,09%

Partidos se reorganizam

Como forma de justificar a queda no número de votos em legendas, a presidente estadual do PC do B, Gregória Benário, disse que a América Latina como um todo tem um histórico de construção de lideranças, onde a política chega primeiro através das pessoas e não por meio de um projeto coletivo. E de fato, a grande maioria acaba fidelizando o voto nas pessoas e não nos projetos de partidos. O que se percebe é que de fato existe uma grande maioria de eleitores que preferem votar em pessoas e não no projeto político.

A expectativa do PC do B, segundo Gregória, é que o eleitor passe a conhecer mais os projetos políticos dos partidos, as cartas propostas das legendas porque as candidaturas estão em torno de um projeto. “É preciso evitar situações como as que ocorreram em 2018 quando foi eleito Jair Bolsonaro por milhares de pessoas que sequer sabiam de fato o projeto de governo do candidato. Nossa expectativa para 2020 é que o eleitorado se torne mais consciente e que exerça a cidadania compreendendo os projetos e propostas que os candidatos carregam com os seus partidos políticos”, destacou.

Para o presidente estadual do PT, Jackson Macedo, as legendas de esquerda geralmente conseguem votação de legenda maior que os da direita. Ele disse que o partido defende o voto em lista fechada para que as pessoas possam votar no partido. “Por exemplo, vice tem uma lista para vereador e as pessoas vão votar no 13, no partido, e dependendo do número de votos que a legenda tiver, vai entrando os candidatos”, explicou.

Jackson alertou ainda para a importância do voto de legenda.

“Temos que trabalhar muito o voto de legenda, principalmente agora com o fim das coligações proporcionais, vamos usar muito as imagens de Haddad e de Lula pedindo voto nos candidatos do PT para facilitar o voto de legenda nas cidades. Essa é uma orientação da Executiva estadual em todos os municípios, a de trabalhar o voto de legenda nas eleições do próximo ano”, disse Jackson.

A deputada estadual e vice-presidente estadual do PSDB, Camila Toscano, disse que a tendência é que o voto em legenda caia cada vez mais. Para ela, os eleitores passam a votar em pessoas, muitas vezes indicadas por amigos ou até mesmo por ser próximas do candidato.

A parlamentar acredita que o alto número nas votações em legendas acontece por erros ou esquecimento na hora de votar. “Muitas vezes o eleitor chega para votar sem cola e esquece do número do seu candidato, lembrando apenas do início e vota. Por isso ainda vemos números altos de votações em legendas, o que tende a cair ainda mais do que já vem caindo. Por isso, os partidos hoje trabalham muito mais em nomes conhecidos e mais próximos da população, como lideranças. Essas pessoas realmente conseguem garantir uma votação expressiva e nominal”, afirmou.

Mudanças para a eleição de 2020

No caso das coligações, a mudança que começa a valer na eleição do próximo ano é que os partidos disputarão individualmente as eleições para Câmaras de Vereadores. O que passará a contar é a votação de cada legenda. Até as eleições do ano passado, partidos que formavam coligação para chapas majoritárias (prefeitos, governadores, presidente) tinham diferentes possibilidades nas proporcionais: podiam disputar individualmente, aliados em sub-blocos ou totalmente unidos.

A alteração nos artigos 108 e 109 afeta principalmente os candidatos a vereador e deputado que são “puxados” para assumir mandatos graças aos recordistas de votos de seus partidos.

Um dos casos famosos nas eleições de 2014 foi do deputado federal Celso Russomanno (PRB-SP), que teve 1,5 milhão de votos e acabou elegendo outros quatro candidatos do seu partido. Outro exemplo famoso é o do palhaço Tiririca (PR-SP), que teve mais de um milhão de votos e “puxou” dois colegas de legenda. Sem o empurrão dos candidatos recordistas, seus colegas não teriam votos suficientes para se eleger.

Essa nova regra introduzida a partir das eleições de 2016 fará com que o tradicional “voto de legenda”, por meio do qual eleitores escolhem apenas um partido político nas eleições para deputado federal ou deputado estadual, se torne um mau negócio para as agremiações.

A partir daquele ano, independentemente do número de votos de um partido, se os candidatos dessa legenda não obtiverem um mínimo estipulado para cada cargo, eles não são eleitos.

Além de cumprir o papel de impedir que partidos pouco significativos obtenham representação a partir da votação de outros, o fim das alianças nas proporcionais nas eleições de 2020 pode fazer com que siglas “grandes” acabem se transformando em pequenas e deve gerar número recorde de candidaturas aos legislativos.

Por André Gomes, do jornal CORREIO

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