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Em primeiro encontro presencial, Lula e Milei trocam aperto de mãos no G20 em meio a embates

Eles são adversários políticos, e o argentino discorda de uma série de questões relacionadas à declaração final da cúpula de líderes
(Reprodução/G20 Brasil)

Os presidentes do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e da Argentina, Javier Milei, se encontraram pela primeira vez desde as eleições no país vizinho nesta segunda-feira (18). Os dois trocaram um aperto de mãos na abertura da cúpula de líderes do G20, as 20 maiores economias do globo, no MAM (Museu de Arte Moderna) no Rio de Janeiro. Eles são adversários políticos, e o argentino discorda de uma série de questões relacionadas à declaração final da cúpula, o que ameaça naufragar as discussões.

Destoando das demais autoridades, Milei chegou com duas pastas na cor azul escura na mão acompanhado da irmã, Karina Milei, que é secretária-geral da presidência do país.

Ao subir a rampa, ambos foram recebidos por Lula e pela primeira-dama, Janja da Silva.

Lula se limitou a falar “bom dia” ao argentino. Houve aperto de mãos e o petista indicou o argentino para fazer posição para a foto oficial. O líder da extrema direita chegou após a recepção ao presidente dos Estados Unidos, Joe Biden.

A participação da Argentina no G20 se tornou um entrave para os planos de Lula e ameaça levar a reunião de líderes globais no Rio a um fracasso diplomático. A derrubada do comunicado oficial do grupo seria um revés político na conta de Lula a ser festejado pelo presidente argentino.

Sob o comando do ultraliberal Milei, agora respaldado politicamente pelo retorno de Donald Trump ao poder nos Estados Unidos, a Argentina passou a apresentar pedidos de rediscussão de temas, recuou no apoio dado antes à proposta de taxação dos super-ricos, e indicou que pode mais uma vez barrar acordos isoladamente na reta final da cúpula de líderes no Rio.

Milei abriu ao menos cinco frentes de embate: multilateralismo, gênero, desenvolvimento sustentável, tributação de grandes fortunas, clima e meio ambiente.

A reportagem ouviu relatos da reunião feitos por quatro diplomatas, de origem europeia e africana. Eles conversaram com a reportagem sob a condição de terem seus nomes e países mantidos em sigilo, por não terem autorização para discutir publicamente os assuntos. Procurado pela reportagem, o negociador-chefe argentino diz que só comentará ao final das negociações.

A lista foi compartilhada por embaixadores que estão sentados à mesa de discussões prévia à chegada dos líderes globais ao Rio. Eles discutem os termos de um comunicado conjunto a ser divulgado com aval dos presidentes e primeiros-ministros das 20 maiores economias do mundo. Mas não conseguiram obter um entendimento, o que poderia, no pior cenário, impedir que essas potências econômicas enviassem ao mundo uma mensagem comum.

Chamados de sherpas no jargão diplomático, esses embaixadores discutem os termos da chamada Declaração de Líderes do G20, dividida por temas cuja redação é cuidadosamente negociada, palavra a palavra. Sem consenso e com cenário adverso, a reunião final dos sherpas que deveria ter acabado foi estendida para este sábado, dia 16. O teor depois é submetido à aprovação dos líderes.

“Nada está acordado, até que tudo esteja acordado”

Quando uma cúpula multilateral é concluída sem comunicado comum, diplomatas reconhecem que houve um fracasso. Nesses casos, a mensagem final é assinada pelo país que preside o grupo, agora o Brasil, registrando onde houve acordos e desacordos. Outra solução seria obter um aval para que a declaração conjunta seja aprovada, mas com parágrafos inseridos para informar sobre a discordância de uma delegação em determinado tema. Isso já ocorreu com o capítulo sobre clima durante o governo Trump, no G20 de Osaka, Japão, em 2020.

O cenário de derrubada da declaração é considerado remoto no Rio. Diplomatas dizerm que haveria uma enorme pressão sobre Milei, vindo de todos os outros países, para evitar o colapso da declaração conjunta. Um sherpa europeu afirmou que “nada está acordado, até que tudo esteja acordado”.

A situação preocupa. Lula e Milei são rivais ideológicos e trocaram ofensas e provocações. Jamais se reuniram para conversar – e pedidos do libertário foram ignorados pelo petista. Diante da ausência de diálogo, o presidente francês Emmanuel Macron, aliado de Lula, se dispôs a viajar a Buenos Aires e tentar convencer Milei a abandonar a postura atual. Milei vai poder discursar duas vezes no Rio. Ele escolheu falar sobre combate à fome e pobreza e reforma da governança global, diante dos demais líderes.

Membros de dois ministérios do Brasil, das Relações Exteriores e da Fazenda, também confirmaram as informações de resistências nas pautas política, de costumes e finanças. A Argentina cruzou uma “linha vermelha”, segundo um integrante da equipe do ministro Fernando Haddad.

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