João Pessoa 438 anos: uma cidade movida pela fé em duas santas

João Pessoa tem Nossa Senhora das Neves, padroeira da cidade, e Nossa Senhora da Penha como dois grandes modelos de fé, que arrastam multidões

João Pessoa
Romaria da Penha atrai milhares de fiéis em João Pessoa (Foto: Luiz Vaz/Secom-JP)

O aniversário de 438 anos de João Pessoa, celebrado neste dia 5 de agosto, também marca a festa de um povo de fé e que acolhe Maria, a mãe de Jesus, em dois títulos, com o mesmo fervor: Nossa Senhora das Neves e Nossa Senhora da Penha. Em meio à uma cidade que abraça todas as religiões, a fé católica ainda é aquela que mais movimenta fiéis dentro das igrejas. 

Com muitos monumentos históricos — que remetem à religiosidade — espalhados pela capital, João Pessoa é a terceira cidade mais antiga do Brasil e contou com a presença de importantes ordens religiosas no início do processo de colonização através dos portugueses, em 1585.

“A religião tem esse processo marcante em João Pessoa, desde o processo colonial até hoje, porque o povo procura na religiosidade também a sua identidade”, avaliou o historiador Wellington Oliveira.

Nossa Senhora das Neves, por exemplo, é a padroeira histórica da cidade e teve a igreja construída pelos primeiros colonizadores da Paraíba como forma de homenagem à santa, em 1586, recebendo título de Catedral oito anos depois.

Já a devoção de Nossa Senhora da Penha ganhou uma dimensão que logo transformou a homenagem em romaria, que ocorre sempre no quinto fim de semana antes do Natal, no encerramento do ano litúrgico da igreja católica. O percurso é de 14 quilômetros, saindo da Igreja de Nossa Senhora de Lourdes, no Centro de João Pessoa, até o Santuário da Penha, onde é celebrada uma missa para milhares de pessoas.

A Basílica de Nossa das Neves, que começou como uma edificação simples, de taipa, foi reconstruída e tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado da Paraíba (Iphaep), em 1998. Enquanto isso, a Romaria da Penha, que, neste ano, completa 260 anos, se tornou Patrimônio Cultural Imaterial da capital paraibana no ano de 2013.

Festa das Neves acontece também nas ruas do Centro de João Pessoa (Foto: Reprodução)

“Patrimônio espiritual”

O modo como se tornou notável a devoção por essas duas santas pôde revelar dois modos de alcance na população religiosa. A primeira delas, por meio da padroeira Nossa Senhora das Neves, aconteceu de modo mais habitual. Isso porque João Pessoa, no dia de sua fundação, foi denominada Cidade Real de Nossa Senhora das Neves, em homenagem ao santo do dia em que foi fundada.

Por outro lado, o apego por Nossa Senhora da Penha vem de uma ala popular, de um povo mais humilde, composto em sua maioria por pescadores, que tomou proporções até se tornar um símbolo de fé. 

O historiador Wellington Oliveira comenta que todo esse contexto justifica a força da presença religiosa na rotina de João Pessoa.

“Essas devoções se enquadram num contexto de grande influência cultural e religiosa para o povo. Elas trazem um patrimônio espiritual muito grande, porque os fiéis católicos se identificam com a história, com a religiosidade e com a aproximação de Deus através de Maria, que é a mãe de Jesus, através do título das Neves e também da Penha. Esses contextos se abraçam e influenciam a rotina da cidade. Quando a gente se depara com essa circunstância, a gente vê como a presença da igreja acontece de modos diferentes”, explicou.

Catedral
Catedral Basílica de Nossa Senhora das Neves, em João Pessoa (Foto: Acervo/Jornal Correio)

Pároco da Catedral de Nossa das Neves, o Monsenhor Robson comentou sobre a identidade pessoense para com as duas santas.

“A titularidade é apenas uma dimensão da história da mesma mãe de Deus. A titularidade vai de acordo com a experiência que cada cristão faz de Nossa Senhora. Os pescadores encontraram em Nossa Senhora da Penha uma identidade do livramento de si mesmo. Isso não muda e nem diminui a devoção à nenhuma titularidade mariana”, disse.

Centro que emana arte e fé

O Centro de João Pessoa é um ponto da cidade que apresenta a história da capital da Paraíba. Ele também é inspirado pela arte estampada em diversos espaços. 

O conjunto arquitetônico e histórico do Centro Cultural São Francisco, por exemplo, é tombado em 1952 e oferece um percurso que passa pelo Adro, pela igreja, pelo cruzeiro e pelo Convento de Santo Antônio. 

Ao chegar no Adro da Igreja de São Francisco, por exemplo, é possível encontrar duas grandes muralhas antigas e azulejadas, com seis painéis representando as estações da Paixão de Cristo. A parte superior das muralhas é toda trabalhada em pedras. Já o piso é revestido em lajes antigas. Enquanto isso, o cruzeiro, que está entre os mais importantes da América Latina, é elaborado em cantaria e ornado com águias bicéfalas.

centro cultural sao francisco secom
Centro Cultural São Francisco, em João Pessoa (Foto: Divulgação/Secom-JP)

“São muitos os monumentos históricos. A catedral de Nossa Senhora das Neves não é a igreja mais antiga de nossa cidade, mas é um monumento arquitetônico importante para a história da cidade. Temos o Centro Cultural do São Francisco, que tem sua relevância arquitetônica, com elementos do barroco. E temos também o mosteiro e a igreja de São Bento, assim como a igreja do Carmo. São importantes espaços históricos e religiosos em João Pessoa. Podemos dizer que há uma cultura material e arquitetônica do ponto de vista cristão”, disse.

Todo esse conjunto que forma o Centro Cultural São Francisco encontra-se aberto para visitas, que contam com auxílio de guias capacitados, que trazem detalhes sobre todas as histórias que cercam o monumento. 

(VÍDEO AQUI)

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