O Centro Estadual de Arte (Cearte) está promovendo a exposição “Kipupa –Caiana: de malungo pra malungo” aberta até o dia 31 de janeiro em horário comercial de terça à sexta, e programação especial nas noites de quinta, sexta, sábado e domingo.
Nas fotos, os professores Allan Luna e Helder Oliveira revelam a força e história de dois quilombos, um em Pernambuco e outro na Paraíba. A exposição, que faz parte das festividades da Semana de Arte do Cearte, está montada na Usina Energisa, tem curadoria de Thayroni Arruda e é realizada pela Galeria das Quinze Portas.
Allan Luna e Helder Oliveira registram nas fotos as facetas de dois emblemáticos grupos de população negra, respectivamente, Pernambuco – Quilombo do Catucá, na Zona da Mata
Norte, entre Recife e Goiana; e Paraíba – Quilombo de Caiana dos Crioulos, em Alagoa Grande. Em relação ao título da exposição os fotógrafos explicam: “Malungo é traduzido como “companheiro”, “amigo”, “camarada” e identifica as pessoas que vieram para estas terras no mesmo navio negreiro. Kipupa é união, associação de pessoas em torno de um objetivo. KIPUPA – CAIANA: de malungo pra malungo é uma ponte entre dois agrupamentos de resistência negra, de dois estados do Nordeste, e entre os vários malungos dessas duas localidades”.
“A narrativa visual, que costura as imagens do Kipupa e de Caiana, nos faz refletir sobre a alegria, a autoestima e a força da identidade e ancestralidade da cultura negra, em um constante lutar e resistir. A música, a dança, as relações que se constroem, são aqui registradas por ambos os artistas e em ambos os lugares de memória. Uma verdadeira dança de um povo, cheia de equilíbrio, força, delicadeza e musicalidade, sobre a qual se sustenta um enorme senso de comunidade e pertencimento”, frisa o curador da exposição Thayroni Arruda.
O Kipupa, um grande encontro espiritual, em nível nacional, de juremeiros e juremeiras, acontece anualmente no município de Abreu e Lima – PE e já se encontra na sua XIV edição. A celebração acontece nas antigas matas onde existiu e resistiu o Quilombo do Catucá (Zona da Mata Norte, entre Recife e Goiana), durante a primeira metade do século XIX.
Possivelmente, aproveitando as ebulições como a Revolução de 1817 e a Confederação do Equador, em 1824, os negros escravizados fugiam do Recife e região, e formaram comunidades na grande Mata do Catucá.
Neste quilombo viveu seu líder, mais conhecido como João Batista, assassinado em 1835, após ser amplamente perseguido pelo Estado – inclusive, com o governo provincial oferecendo uma recompensa de 100.000 réis pela sua captura. Visto como um marginal perigoso pela coroa, foi excluído das páginas da historiografia oficial. Hoje, entende-se que João Batista foi dos grandes personagens da História pernambucana neste período de conturbação política.
Neste trabalho, podem ser vistas imagens capturadas na mais importante Comunidade Quilombola da Paraíba, Caiana dos Crioulos, com área de mais de seiscentos e quarenta e seis hectares, situada nas serras da zona rural da cidade de Alagoa Grande.
O quilombo chegou a alcançar cerca de dois mil habitantes, descendentes diretos de cidadãos africanos escravizados, que se instalaram por lá entre os séculos XVII e XIX. A suposição é que tenham vindo de Mamanguape, após uma rebelião ocorrida em um navio negreiro que aportou em Baía da Traição nesse período.
Sobre seu surgimento, também há versões diversas: alguns afirmam que escravizados fugitivos de engenhos na cidade de Areia o compuseram; há ainda relações que remontam à dinâmica populacional de Palmares. Na ocasião do ensaio fotográfico, estava sendo festejado o dia 20 de novembro de 2006, momento em que a consciência negra é celebrada com muita música, dança, mística e calor.
Entre os inúmeros mestres da cultura popular oriundos deste celeiro, destacam-se: Firmo Santino, Zé Teó, João Teó, Vital, José Alves da Cruz “Zuza” (banda cabaçal); Dona Edith, Cida de Caiana (coco de roda e ciranda); Maria Narcisa da Silva, Dona Edith (parteiras).