Confesse, leitor: você tem dificuldade em pontuar textos. Quem não tem?
Pois a partir de agora, vou lhe apontar caminhos; trilhe-os e você se dará bem.
Antes de mais nada, é preciso ter consciência de que para aprender a pontuar bem é necessário ter noção de que não valem apenas a regras gramaticais; as regras são importantes, mas não são tudo; são apenas um ponto de partida. Às vezes (sobretudo no uso da vírgula), é preciso transgredir as regras. Pontuação é, principalmente, semântica e melodia.
Segundo: é fundamental ter domínio da análise sintática; sem noção dela, é impossível pontuar. Portanto, comece logo tirando seu preconceito em relação a tal assunto. Sim, sei que você os tem; não adianta negar.
Vamos lá, então:
Os sinais de pontuação classificam-se em dois grupos: o primeiro grupo engloba os que servem, principalmente, para marcar as pausas; o segundo, compreende os sinais cuja função é marcar a melodia; a entoação.
São do primeiro grupo:
Pertencem ao segundo grupo:
Observação:
Tal distinção não é rigorosa. Em geral, os sinais de pontuação indicam, ao mesmo tempo, a pausa e a melodia.
A VÍRGULA
A vírgula marca uma pausa de pequena duração. Emprega-se para separar partes de uma oração ou as orações de um período.
Usa-se, no interior das orações, para
Ex.: Ele vende livros, jornais, revistas (a vírgula separa objetos diretos).
A alegria, a tristeza, a riqueza, o poder são transitórios (a vírgula separa núcleos do sujeito).
Atenção: Quando houver diversos elementos e o último estiver ligado por e, não haverá a vírgula isolando o último, já que o e equivale a uma vírgula:
Ex. Ele levou livros, bolsas, ternos e camisas.
Torcedores, jogadores e o técnico criticaram o presidente do clube.
CUIDADO! Isso costuma cair demais em concursos.
O Sanhauá, rio de João pessoa, é muito bonito.
Atenção!
Não vá naquela história de que aposto “vem sempre entre vírgulas”; isso não é verdade. Há, inclusive, apostos que não admitem vírgula, como, por exemplo, o aposto especificativo: A cidade de Campina Grande é hospitaleira. (De campina Grande = aposto especificativo).
3.Para separar o vocativo
“Maria, não me apertes assim contra o teu seio” (Castro Alves).
“Não me apertes, Maria, assim contra o teu seio”.
“Não me apertes assim contra o teu seio, Maria”.
4.Para separar adjuntos adverbais deslocados:
(A posição normal do adjunto adverbial é no final da frase: depois do verbo e do objeto. Quando não estiver nessa posição, deverá ser isolado por vírgula):
Eles, no domingo, foram ao jogo.
No domingo, eles foram ao jogo.
Observações:
Ele foram ao jogo no domingo
ou
Eles foram ao jogo, no domingo.
Hoje irei ao cinema.
ou
Hoje, irei ao cinema.
Ela me traiu; não merece, portanto, minha confiança.
Tudo estava perdido; ele, porém, animava os companheiros.
Nós fomos ao cinema; eles, ao teatro.
Observação: não entendemos por que alguns professores ainda falam em zeugma, já que essa figura foi extinta, há tempo, pela NGB (Nomenclatura Gramatical Brasileira).
(isto é; ou melhor; a saber, etc.).
Estarei amanhã lá, ou melhor, depois de amanhã.
O ponto e vírgula também é aceito nesse tipo de construção:
Estarei lá amanhã; ou melhor, depois de amanhã.
João pessoa, 16 de fevereiro de 2010.
Não se usa a vírgula:
Os sonhadores, acreditam, na felicidade total.
As vírgulas não podem existir, porque a primeira separa o sujeito do verbo e a segunda, o verbo do objeto.
Eles não são favoráveis, à manutenção da obra.
A vírgula não pode existir, porque manutenção é complemento nominal de favoráveis.
3.O nome do adjunto adnominal:
O povo, de Campina Grande, é hospitaleiro.
As vírgulas não podem existir, porque de Campina Grande é adjunto adnominal de povo.
4.O nome do aposto especificativo:
A cidade, de Campina Grande, é hospitaleira.
As vírgulas não podem existir, porque de Campina Grande é aposto especificativo de cidade.
Entre as orações, emprega-se a vírgula:
1.Nas orações subordinadas adverbais:
Usa-se a vírgula quando a oração adverbial vier antes da principal ou no meio dela:
Quando o professor chegou, estava um pouco triste.
O professor, quando chegou, estava um pouco triste.
OBSERVAÇÃO:
A vírgula pode ser dispensada se a oração subordinada adverbial vier depois da principal:
O professor estava um pouco triste quando chegou à sala.
ou
O professor estava um pouco triste, quando chegou à sala.
Usa-se vírgula nas orações subordinadas adjetivas explicativas, mas não nas adjetivas restritivas:
Exemplos:
O homem, que é mortal, nem sempre cuida da saúde.
“Que é mortal” = oração adjetiva explicativa.
O homem que ama sofre
“Que ama” = oração adjetiva restritiva.
3.Orações subordinadas substantivas
Não se usa vírgula separando a oração principal da subordinada substantiva:
Todos os presentes afirmavam, que o show não estava bom.
Não haverá vírgula depois da expressão afirmavam, porque que o show não estava bom é uma oração subordinada substantiva.
4.Orações coordenadas
Usa-se a vírgula separando orações coordenadas, salvo as que se iniciam por e*:
Ela caiu de mal jeito, mas logo se recompôs.
*No caso das orações coordenadas ligadas por e, usaremos o seguinte critério:
ATENÇÃO:
Muita gente tem dificuldade em usar a vírgula nas orações ligadas por e e mas.
Na verdade, só haverá vírgula depois do e e do mas se houver intercalação de elementos (termos da oração ou oração). Observe:
O promotor se irritou e desrespeitou o juiz.
O promotor se irritou e, apesar de o juiz estar calmo, falou palavras desrespeitosas.
Eu iria à festa, mas não vou.
Eu iria à festa, mas, como não fui convidado, não vou.
Usa-se a vírgula para isolar a oração intercalada:
Aprender Português, disse-nos o professor, não é difícil.
(Continua na próxima semana)
* João Trindade