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João Trindade ensina regras de pontuação em nova coluna

Confesse, leitor: você tem dificuldade em pontuar textos. Quem não tem?

Pois a partir de agora, vou lhe apontar caminhos; trilhe-os e você se dará bem.

Antes de mais nada, é preciso ter consciência de que para aprender a pontuar bem é necessário ter noção de que não valem apenas a regras gramaticais; as regras são importantes, mas não são tudo; são apenas um ponto de partida. Às vezes (sobretudo no uso da vírgula), é preciso transgredir as regras. Pontuação é, principalmente, semântica e melodia.

Segundo: é fundamental ter domínio da análise sintática; sem noção dela, é impossível pontuar. Portanto, comece logo tirando seu preconceito em relação a tal assunto. Sim, sei que você os tem; não adianta negar.

Vamos lá, então:

Os sinais de pontuação classificam-se em dois grupos: o primeiro grupo engloba os que servem, principalmente, para marcar as pausas; o segundo, compreende os sinais cuja função é marcar a melodia; a entoação.

São do primeiro grupo:

  1. a vírgula (,)
  2. o ponto (.)
  3. o ponto e vírgula (;)

Pertencem ao segundo grupo:

  1. os dois pontos (:)
  2. o ponto de interrogação (?)
  3. o ponto de exclamação (!)
  4. as reticências (…)
  5. as aspas (“ ”)
  6. os parênteses (( ))
  7. os colchetes ({} )
  8. o travessão (– )

Observação:

Tal distinção não é rigorosa. Em geral, os sinais de pontuação indicam, ao mesmo tempo, a pausa e a melodia.

A VÍRGULA

A vírgula marca uma pausa de pequena duração. Emprega-se para separar partes de uma oração ou as orações de um período.

Usa-se, no interior das orações, para

  1. Separar termos coordenados (termos da mesma função sintática):

Ex.: Ele vende livros, jornais, revistas (a vírgula separa objetos diretos).

A alegria, a tristeza, a riqueza, o poder são transitórios (a vírgula separa núcleos do sujeito).

Atenção: Quando houver diversos elementos e o último estiver ligado por e, não haverá a vírgula isolando o último, já que o e equivale a uma vírgula:

Ex. Ele levou livros, bolsas, ternos e camisas.

Torcedores, jogadores e o técnico criticaram o presidente do clube.

CUIDADO! Isso costuma cair demais em concursos. 

  1. Separar o aposto explicativo:

O Sanhauá, rio de João pessoa, é muito bonito.

Atenção!

Não vá naquela história de que aposto “vem sempre entre vírgulas”; isso não é verdade. Há, inclusive, apostos que não admitem vírgula, como, por exemplo, o aposto especificativo: A cidade de Campina Grande é hospitaleira. (De campina Grande = aposto especificativo).

3.Para separar o vocativo

Maria, não me apertes assim contra o teu seio” (Castro Alves).

“Não me apertes, Maria, assim contra o teu seio”.

“Não me apertes assim contra o teu seio, Maria”.     

4.Para separar adjuntos adverbais deslocados:

(A posição normal do adjunto adverbial é no final da frase: depois do verbo e do objeto. Quando não estiver nessa posição, deverá ser isolado por vírgula):

Eles, no domingo, foram ao jogo.

No domingo, eles foram ao jogo.

Observações:

  1. a) Quando o adjunto adverbial não estiver deslocado, pode-se dispensar a vírgula. Portanto, podemos escrever:

Ele foram ao jogo no domingo

ou

Eles foram ao jogo, no domingo.

  1. b) Quando o adjunto adverbial for curto, pode-se dispensar a vírgula. Podemos escrever:

Hoje irei ao cinema.

ou

Hoje, irei ao cinema.

  1. Separar as conjunções adversativas e conclusivas deslocadas.

Ela me traiu; não merece, portanto, minha confiança.

Tudo estava perdido; ele, porém, animava os companheiros.

  1. Para indicar a elipse do verbo:

Nós fomos ao cinema; eles, ao teatro.

Observação: não entendemos por que alguns professores ainda falam em zeugma, já que essa figura foi extinta, há tempo, pela NGB (Nomenclatura Gramatical Brasileira).  

  1. Para indicar quaisquer expressões explicativas:

(isto é; ou melhor; a saber, etc.).

Estarei amanhã lá, ou melhor, depois de amanhã.

O ponto e vírgula também é aceito nesse tipo de construção:

Estarei lá amanhã; ou melhor, depois de amanhã.

  1. Na indicação de datas:

João pessoa, 16 de fevereiro de 2010.

Não se usa a vírgula:

  1. Separando:
  2. a) O sujeito do verbo e o verbo do objeto: 

Os sonhadores, acreditam, na felicidade total.

As vírgulas não podem existir, porque a primeira separa o sujeito do verbo e a segunda, o verbo do objeto.

  1. O nome do complemento nominal:                                                             

Eles não são favoráveis, à manutenção da obra.

A vírgula não pode existir, porque manutenção é complemento nominal de favoráveis.

3.O nome do adjunto adnominal: 

O povo, de Campina Grande, é hospitaleiro.

As vírgulas não podem existir, porque de Campina Grande é adjunto adnominal de povo.

4.O nome do aposto especificativo:

A cidade, de Campina Grande, é hospitaleira.

As vírgulas não podem existir, porque de Campina Grande é aposto especificativo de cidade.

Entre as orações, emprega-se a vírgula:

1.Nas orações subordinadas adverbais:

Usa-se a vírgula quando a oração adverbial vier antes da principal ou no meio dela:

Quando o professor chegou, estava um pouco triste.

O professor, quando chegou, estava um pouco triste.

OBSERVAÇÃO:

A vírgula pode ser dispensada se a oração subordinada adverbial vier depois da principal:

O professor estava um pouco triste quando chegou à sala.

ou

O professor estava um pouco triste, quando chegou à sala.

  1. Orações subordinadas adjetivas:

Usa-se vírgula nas orações subordinadas adjetivas explicativas, mas não nas adjetivas restritivas:

Exemplos:

O homem, que é mortal, nem sempre cuida da saúde.

  “Que é mortal” = oração adjetiva explicativa.

O homem que ama sofre

          “Que ama” = oração adjetiva restritiva.

3.Orações subordinadas substantivas

Não se usa vírgula separando a oração principal da subordinada substantiva:

Todos os presentes afirmavam, que o show não estava bom.

Não haverá vírgula depois da expressão afirmavam, porque que o show não estava bom é uma oração subordinada substantiva.     

4.Orações coordenadas

Usa-se a vírgula separando orações coordenadas, salvo as que se iniciam por e*:

Ela caiu de mal jeito, mas logo se recompôs.

*No caso das orações coordenadas ligadas por e, usaremos o seguinte critério:

  1. a) Se o sujeito for o mesmo, não haverá vírgula: O marido deixou a mulher no shopping, beijou-a e saiu. 
  2. b) Se os sujeitos forem diferentes, haverá poderá haver vírgula, dependendo do sentido da frase: O marido deixou a mulher no shopping, e ela foi fazer compras.

ATENÇÃO:

Muita gente tem dificuldade em usar a vírgula nas orações ligadas por e e mas.

Na verdade, só haverá vírgula depois do e e do mas se houver intercalação de elementos (termos da oração ou oração). Observe:

O promotor se irritou e desrespeitou o juiz.

O promotor se irritou e, apesar de o juiz estar calmo, falou palavras desrespeitosas.

Eu iria à festa, mas não vou.

Eu iria à festa, mas, como não fui convidado, não vou.

  1. Orações intercaladas

Usa-se a vírgula para isolar a oração intercalada:

Aprender Português, disse-nos o professor, não é difícil.

(Continua na próxima semana)


* João Trindade

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