Moeda: Clima: Marés:
Início Notícias

Professor João Trindade fala sobre anacoluto em nova coluna

Embora belo, o anacoluto é estranho e quase não é mais usado, nestes estranhos
tempos de desconhecimento e consequente desprezo ao estilo.

O que é o anacoluto?

É a mudança brusca e inesperada, por meio de uma pausa, da construção sintática, no meio do enunciado.

Vejamos um belo exemplo de anacoluto, extraído do “Hino da Independência do
Brasil”:

“Houve mão mais poderosa

Zombou deles o Brasil” (…)

Observe que a frase não mantém a estrutura sintática, trazendo uma aparente
falta de lógica:

“Houve mão (…)

Zombou deles (…)”

Eles quem?

Pois é…

“Mão mais poderosa” significa a mão do colonizador (ou representante) que desejava que o Brasil não se tornasse independente. Zombou deles (dessas pessoas ou representantes) o Brasil.

Observe que houve uma quebra na estrutura sintática:

“Mão” é objeto direto do verbo haver, enquanto que “O Brasil” é sujeito de zombou.

Mas o pior é que nessa selva de ignorância que reina no nosso país, atualmente, tem gente usando uma estrutura errada e estranha, que dá a aparência de anacoluto, mas não é. Houve até uma famosa professora que tentou justificar, em redes sociais, a estrutura absurda, afirmando ser aquela excrescência um anacoluto.

A estrutura a que me refiro e que está grassando no meio televisivo é este monstro:

“O preso, ele foi encaminhado à audiência de custódia”.

Ora, o mais simples (e correto) é afirmar:

O preso foi encaminhado à audiência de custódia.

Tal vício está criando algo inexistente na Língua: a figura do “sujeito pleonástico”. Até existe objeto pleonástico, mas sujeito, não!

Repita-se que “o preso” é sujeito do verbo “ser” “foi encaminhado”; ele, também: (ele) foi encaminhado.

Isso não é e nem poderia ser anacoluto, por um motivo muito simples: No anacoluto, as estruturas sintáticas são diferentes, como no exemplo dado no início e neste que vou dar agora:

As mulheres, quem há de nelas confiar?

Note que o termo “as mulheres” ficou “solto”, apenas aparentemente, porque é objeto indireto pleonástico de “confiar”:

Quem há de confiar nelas, as mulheres?

Observe que o sujeito de “confiar” é “quem”. Não se repetiu, portanto, a função sintática de qualquer termo, no anacoluto.

Até semana que vem.

publicidade
© Copyright 2024. Portal Correio. Todos os direitos reservados.