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Redes sociais mantêm vivas imagens e histórias de João Pessoa

Rica em belezas naturais, arquitetônicas e culturais, a cidade de João Pessoa chega aos 435 anos, neste 5 de agosto de 2020, com uma vibração jovial e um fôlego imenso para se manter em pleno desenvolvimento em diversos setores, que se harmonizam em um ambiente acolhedor tanto para os residentes quanto visitantes. Um lugar cheio de encantos e particularidades, refúgio singular situado estrategicamente no ponto mais oriental das Américas.

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Tanta substância, tantas histórias, mudanças e memórias não merecem se perder no tempo e devem ser mostradas e valorizadas. Manter e enaltecer os patrimônios materiais e imateriais é um ganho para toda a sociedade. Orgulha as novas gerações, que passam a conhecer melhor a cidade e criar maiores identificações; causa um bom saudosismo em quem já viveu outras épocas e cresceu junto ao município; e honra aqueles cujas trajetórias se confundem com os destinos que levaram a população ao patamar atual de modernidade.

E no panorama em que vivemos, não é de se surpreender a importância da internet e das redes sociais nela inseridas para o resgate e divulgação de conteúdos que não costumamos ver com facilidade no dia a dia, nem mesmo em livros de história ou publicações especializadas da área de turismo. João Pessoa, na visão de seus moradores e admiradores, fica maior do que já é com tantos detalhes que passamos a conhecer através da criatividade e esforço de internautas que, cada um a sua maneira, separam um tempo precioso para homenagear nossa aniversariante.

Diversas páginas, sobretudo no Instagram, trazem diferentes olhares e abordagens sobre a cidade. Algumas destacam mais os aspectos da natureza e urbanos da atualidade, enquanto outras fazem um levantamento dos cenários de décadas ou até séculos atrás, gerando uma inevitável comparação com os dias de hoje, além de lembrarem alguns personagens que ajudaram a construir essa história, seus hábitos, costumes e lendas.

Para conhecer um pouco mais sobre este trabalho, conversamos com os administradores de duas dessas páginas, ambas no Instagram, a @joaopessoaparaiba e a @historiasdejampa, que tinham, à época da conclusão desta reportagem, 41,2 mil e 11,2 mil seguidores, respectivamente, sendo grandes vitrines para expor os belíssimos ângulos da cidade através de registros em fotografias e vídeos.

@joaopessoaparaiba

“Seja bem-vindo ao insta da cidade mais bela e aconchegante do Brasil”, diz a descrição da página, que não poupa adjetivos, administrada pelo professor de Educação Física Emilson Araújo. Segundo ele, a página aborda as belezas do litoral paraibano, de Norte a Sul, tanto de João Pessoa como também de sua região metropolitana, incluindo, por exemplo, Cabedelo, Conde e Pitimbu. A parte histórica da cidade também sempre tem destaque. “Não tem como falar de João Pessoa e não olhar para o passado. Parques, praças e o verde da cidade que sempre foi motivo de orgulho têm lugar garantido nas postagens”, afirma.

Emilson conta que o perfil foi criado em 2015, quando tinha como intuito apenas a divulgação de fotos pessoais, objetivo que foi se modificando com o tempo. “Sempre achei João Pessoa uma cidade muito fotogênica, fácil de fotografar por conta dos belos cenários naturais. Por onde andava eu tirava fotos, na praia, no Centro, nas praças, sempre por hobby, e acabei criando esse perfil porque queria mostrar a cidade de acordo com a minha ótica. As fotos foram fazendo sucesso e a página ganhando muitos seguidores. Hoje é uma das principais que divulgam as belezas de João Pessoa”, comemora.

Atualmente, de acordo com o professor de Educação Física, a @joaopessoaparaiba tem um ritmo de atualizações bastante movimentado, com uma ou duas postagens diárias. Ele explica que há produção de conteúdo própria para a página, mas que a maioria das postagens é fruto de materiais enviados pelos seguidores.

“Não existe uma parceria formal, mas alguns seguidores são fontes de conteúdo, podendo ser classificados como colaboradores fixos. Muitos deles são fotógrafos profissionais que marcam o perfil em suas fotos e disponibilizam para a divulgação. A interação com os seguidores tem sido ótima. Costumo falar que essa página é deles, apenas posto as fotos e faço as legendas, pois eles que mandam fotos, dão ideias de postagens, dão sugestões de lugares. Faço questão de responder a cada um. O feedback deles é muito importante. Recebo muitas fotos também por e-mail e nas mensagens privadas, tanto de turistas como também de moradores”.

O administrador da página também fala sobre a percepção que tem sobre a cidade, seus pontos positivos e diferenciais.

“Vejo João Pessoa hoje como uma cidade que está em ascensão, tem muito potencial turístico, a construção civil está em alta, além de já ter sido eleita como uma das melhores cidades para se viver. A tranquilidade, somada à qualidade de vida que a cidade proporciona, é uma vantagem que coloca João Pessoa à frente de muitas outras. Recebo muitas mensagens de turistas surpresos positivamente com a cidade, afirmando que a próxima vinda será para ficar de vez.”

Na interpretação dele, também há espaço para críticas sobre segmentos que poderiam ser aperfeiçoados.

“Acredito que sempre há algo a melhorar em relação ao patrimônio histórico e cultural, começando pela conservação e divulgação. O potencial turístico de João Pessoa não se resume apenas a praias. O Centro Histórico é riquíssimo. Não só turistas, mas muitos moradores não conhecem nosso sítio histórico. Muito comum me perguntarem onde fica o Hotel Globo, a Igreja de São Francisco, a Casa da Pólvora e outros lugares. Falta um pouco de incentivo para aproximar turistas e moradores a esses pontos que fazem parte do nascimento da cidade”, destaca.

@historiasdejampa

Assim como na página anterior, o objetivo desta também fica bem claro em sua descrição: “Um resgate às histórias e curiosidades da terceira capital mais antiga do Brasil, João Pessoa”. É assim que definem os criadores e administradores do perfil, o advogado Arthur Navarro e o publicitário Danilo Guedes.

“Criamos esse perfil pois sentíamos falta de algo nas redes sociais que resgatasse as histórias, os contos e a cultura da nossa cidade. Já admirávamos os trabalhos de perfis do mesmo segmento dedicados a outras cidades e resolvemos trazer a ideia para João Pessoa. O nosso principal objetivo sempre foi esse, valorizar a cultura e relembrar histórias que fazem parte da mística da nossa Capital. Mostramos o passado de praças, ruas, bairros, parques e todos os lugares relevantes da cidade. Também adoramos contar histórias sobre pessoas importantes de João Pessoa, fatos peculiares e históricos ocorridos aqui. Também estamos contando causos populares, ‘histórias que o povo conta’. Nossa intenção é sempre deixar o perfil repleto de variedades e com conteúdos que agradem o nosso público”, detalham os criadores.

Como abordam conteúdos históricos, algumas vezes raros e de difícil acesso a dados, o levantamento de informações precisas é constante nas publicações. “Fazemos um trabalho de curadoria, pesquisamos, buscamos referências, fontes e, claro, também recebemos materiais dos nossos seguidores. Nossas pesquisas acontecem quase que diariamente, em internet, revistas, jornais antigos. Às vezes algum amigo que possui um acervo também colabora. Vamos juntando, separando o que é mais relevante e, dessa forma, alimentamos o perfil”, dizem os idealizadores, que acrescentam que procuram manter uma frequência de três postagens por semana. “Às vezes acontecem pequenos hiatos, nada muito duradouro. Nos orgulhamos bastante do nosso compromisso com o conteúdo do perfil”.

Conforme evidenciam, o papel dos seguidores na geração de conteúdos é essencial: “Nossos seguidores são incríveis. Eles que nos dão forças para manter esse trabalho. Em todas publicações acontecem interações, eles nos mandam sugestões, fotos, dicas. Participam de verdade do projeto. Nosso objetivo é sempre fortalecer essa interatividade, afinal, um povo engajado e apaixonado pela cidade é o que faz ela ser ainda mais forte!”, asseguram.

Com um pé nos assuntos do passado, mas com os olhos voltados para o futuro, Arthur e Danilo fazem considerações sobre o trabalho que realizam e como veem a João Pessoa de 2020:

“Continua sendo uma cidade encantadora, uma das mais lindas do Brasil. Somos uma mescla de saudosismo e vanguarda. Admiramos o antigo, e queremos preservar isso, mas também acreditamos que o novo, a modernização, faz parte. Não apoiamos nada muito agressivo, o crescimento sempre tem que ocorrer pensando no âmbito e caráter social. Tem que existir um respeito pelo patrimônio, meio ambiente e pelas pessoas que residem em João Pessoa. Uma coisa que incomoda é a falta de preocupação e o descaso com alguns casarões. No nosso ponto de vista, uma falta de respeito mesmo. Mas também ficamos bastante felizes com o resgaste ao Centro, como ele pulsa e tem vida cultural atualmente, como essa nova geração abraçou essa causa e luta por isso. Vários pontos no Centro Histórico recebem atividades culturais e é isso que mantém a história viva de uma cidade secular”, concluem.

Outras páginas

Além da @joaopessoaparaiba e @historiasdejampa, há diversas outras páginas em redes sociais que têm como foco a cidade de João Pessoa e nas quais vale a pena dar uma conferida. Listamos abaixo algumas delas, com seus respectivos links de acesso:

Importância histórica

O registro das paisagens, personagens e acontecimentos marcantes de João Pessoa em um meio como a internet, massificando-se através das redes sociais, pode fazer com que fatos históricos e locais inexplorados por gerações e gerações possam atingir novos públicos, de diferentes faixas etárias, que poderão passar adiante o que absorveram com os contextos exibidos.

Essa realidade vem chamando a atenção de historiadores, como é o caso da professora Ana Leal, que opina sobre a caracterização de João Pessoa nas mídias sociais.

“Acho importante esse resgate porque percebo que a história de João Pessoa e da Paraíba é tratada muitas vezes de maneira superficial. Muitos moradores não têm ideia de como ou onde a cidade se originou, quem foram os responsáveis, quais as intenções deles, como foi o desenvolvimento. João Pessoa, por exemplo, foi uma cidade que se originou às margens do rio e cresceu em direção ao mar, já teve outros nomes e colonizadores, mas esses fatos são pouco conhecidos. Por isso, essas iniciativas com novas tecnologias são válidas para despertar o interesse da população”, avalia.

A historiadora, no entanto, alerta que os administradores das páginas devem ter o cuidado de reunir informações corretas para que situações históricas não sejam distorcidas. “A internet já é a cópia da cópia, do erro do erro. Podem facilmente ocorrer confusões com relação a datas, nomes etc.”

Ela reconhece que há certa dificuldade na obtenção de dados históricos. “Uma cidade que tem mais de 4 mil tombamentos, mas não tem um catálogo de fácil acesso para a população. Muitas vezes não há ao menos alguém que dê uma informação correta”, diz Ana Leal, referindo-se a setores de gestões públicas que, em sua observação, deveriam zelar mais pela conservação das heranças de mais de quatro séculos. “O mundo de hoje é assim. As pessoas não se interessam em buscar ou conservar adequadamente o patrimônio histórico e cultural”, reflete a professora.

Ainda sobre as publicações referentes a João Pessoa nas redes sociais, a historiadora oferece algumas recomendações de assuntos que ela julga ainda pouco explorados. “Não sinto profundidade, por exemplo, nas histórias das ruas, de seus moradores, de como ocorreram as construções, os monumentos, estátuas, quem eram aquelas pessoas e o que representaram para a cidade”.

Como fontes úteis de pesquisa, com acervos amplos e disponíveis para a consulta da população, a professora recomenda que se procure o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado da Paraíba (Iphaep), o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e a Fundação Espaço Cultural (Funesc).

“Gostaria de aproveitar a oportunidade da comemoração do aniversário de João Pessoa para ressaltar um reconhecimento que busco bastante como historiadora, que é o fato de que nesta mesma data também se comemora a fundação da Paraíba. Foi em João Pessoa que tudo começou e isso deve ser lembrado”, assevera Ana Leal.

Gestão pública do patrimônio

A Coordenadoria do Patrimônio Cultural de João Pessoa (Copac-JP), órgão vinculado à Secretaria de Planejamento, foi criada com a finalidade de preservar os bens materiais e imateriais, públicos e privados de interesse histórico, artístico, urbanístico, paisagístico, arquitetônico e arqueológico da capital paraibana. À frente dele está o coordenador Cássio Andrade, que nos fala sobre as ações do poder público nestes segmentos.

“A preservação e desenvolvimento do patrimônio histórico tem sido uma prioridade. Isso se deu através da requalificação e restauração dos espaços públicos e o incentivo à ocupação e utilização desses espaços”, resume Andrade.

Dentre as intervenções recentes, ele destaca duas com mais relevância: “A construção do novo Parque da Lagoa, criando um grande espaço de lazer e convivência de um local que é o coração do Centro, atraiu as pessoas para frequentarem também nos fins de semana, aproximando também as novas gerações; e a implantação da iluminação em LED, que traz segurança para a utilização de todos esses espaços.”

Ele também cita as restaurações contemporâneas dos seguintes espaços: Praça da Pedra, Praça João Pessoa, Praça da Independência, Praça 1817, Hotel Globo, Casa da Pólvora, Pavilhão do Chá, Villa Sanhauá, Praça Napoleão Wanderley, Praça 15 de Novembro, primeira etapa do Parque da Bica e recapeamento de vias importantes.

Conheça mais

A cidade de João Pessoa já foi tema de produções midiáticas variadas, desde documentários históricos até ficção baseada em fatos reais.

Entre as produções cinematográficas, destaca-se o drama ‘Parahyba Mulher Macho’ (1983), de Tizuka Yamasaki, estrelado por Tânia Alves, Cláudio Marzo e Walmor Chagas. A trama, baseada no livro ‘Anayde Beiriz, Paixão e Morte na Revolução de 30’, de autoria de José Joffily, é encenada no fim dos anos 1920. Anayde é uma jovem professora que não se conforma com as ideias e costumes da sociedade de sua época. Quando ela se apaixona por João Dantas, acaba se tornando o pivô do estopim da Revolução de 30.

Entre os documentários, podemos destacar produções da TV Câmara, da Câmara Municipal de João Pessoa, e da TV Assembleia, da Assembleia Legislativa da Paraíba, ambas com conteúdos hospedados no YouTube. Esta última, por exemplo, tem especiais que contam histórias específicas que fazem parte do imenso apanhado cultural pessoense, como o acidente náutico ocorrido na Lagoa em 1975, a Romaria da Penha, o presidente Epitácio Pessoa e o próprio João Pessoa. Os vídeos podem ser conferidos aqui.

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