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Rios de João Pessoa estão em situação preocupante, diz especialista

Especialistas defendem que o Dia Mundial da Água, comemorado nesta quinta-feira (22), é uma data para, sobretudo, refletir o que se tem feito para a preservação dos mananciais. Cidades ricas em rios, como João Pessoa, por exemplo, praticamente descartaram seus rios urbanos, tendo em vista o histórico de poluição e falta de planejamento.

Professor do Departamento de Sistemática e Ecologia da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), o pesquisador Gilson Moura avalia como preocupante a situação dos mananciais na Região Metropolitana de João Pessoa. A capital poderia ser referência em recursos hídricos, dado o rico volume de águas que cortam a cidade, entretanto o que se tem hoje são águas poluídas que passeiam por toda João Pessoa.

Rodeado por lixos dos mais variados possíveis, o Rio Jaguaribe encontra uma inconveniente realidade já na sua nascente, localizada na Zona Sul de João Pessoa.
A pouco mais de 6 metros de onde brota da terra, a água limpa se mistura a uma rede aberta de esgoto, poluindo o manancial já no seu berço. O local fica às margens da comunidade Boa Esperança, no bairro do Cristo Redentor.

Luta solitária

Morador há 28 anos daquela região, Ademir Simplício da Silva tem 57 anos. Toda semana ele tenta, com dificuldade, limpar a nascente do rio, uma forma de conseguir ver um pouco de água limpa ao menos no início do córrego. Filho do Sertão, ele sabe quanto um copo de água faz falta, por isso insiste numa luta que nunca parece ganhar.

Para o professor Gilson Moura, o Rio Jaguaribe é um termômetro que mede o tratamento do poder público em relação aos mananciais das cidades. “É um exemplo clássico. Existe na região um conjunto de construções a menos de dez metros da nascente. O esgoto da população cai direto na nascente, depositam seus lixos no entorno, a construção civil joga entulho. E tudo isso cai dentro do rio, quando chove”, destacou.

Outro trato aos mananciais no passado poderia ter criado um novo cenário para o presente, que com certeza enxergaria um futuro promissor para as águas que cortam a cidade. “É o que chamamos de usos incompatíveis e conflitantes. O Rio Jaguaribe poderia ser utilizado para pesca, para irrigação, para consumo humano, mas ao invés de preservar estamos jogando esgoto nele”, avaliou o pesquisador.

Gilson, que é doutor pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), explica que, por mais difícil que possa parecer, ainda é possível acabar com a poluição dos mananciais. “Não é impossível. Já estamos vendo, em várias partes do mundo, cidades que historicamente poluíram seus rios correndo atrás e limpando. Não é caro, só falta atitude política e respeito”, disse.

Mais estudos

Um dos órgãos responsáveis pela gestão e fiscalização das águas do Estado é a Agência Executiva de Gestão das Águas da Paraíba (Aesa). O presidente do órgão, João Fernandes da Silva, avaliou como problemáticos os mananciais urbanos, mas garantiu que estão sendo realizados pactos com diversas entidades para tentar resolver os gargalos da poluição ambiental.

“A AESA faz a gestão e fiscalização dos 126 mananciais na Paraíba, além do acompanhamento da Transposição do São Francisco. É um problema histórico, mas temos tentando estudar e mobilizar atores, como a universidade, para preservar o meio ambiente”, disse.
João Fernandes afirmou ser urgente a preservação dos mananciais, como o Rio Jaguaribe, tendo em vista sua atual situação. “Estamos trabalhando para mudar isso. Estamos ouvindo a universidade, quem está estudando isso, para mudar os fatores degradantes dos nossos rios, pois todos precisam ser protegidos, mas os rios urbanos principalmente”.
Sobre a preservação dos mananciais do Estado, a Coordenadoria de Medições Ambientais (CMA) da Superintendência de Administração do Meio Ambiente (Sudema) disse que vem desenvolvendo um trabalho progressivo com relação às nascentes e mananciais paraibanos destinados ao abastecimento.

Em relação aos mananciais de abastecimento humano, a Sudema informou que desde 2007 realiza o acompanhamento da qualidade da água para assegurar os múltiplos usos desses mananciais de forma que compatibilize com o abastecimento. O trabalho é desenvolvido em todo território paraibano, informou via assessoria de imprensa.

*Por Beto Pessoa, do Jornal Correio da Paraíba

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