A Polícia Federal concluiu um relatório que identifica a existência de uma organização criminosa instalada na Agência Brasileira de Inteligência (Abin), com atuação voltada à proteção do núcleo político do ex-presidente Jair Bolsonaro, ao monitoramento de adversários e ao desvio de recursos da estrutura estatal para fins particulares. As informações são do R7, parceiro nacional do Portal Correio.
O ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) retirou o sigilo do documento feito pela PF na tarde desta quarta-feira (18).
O relatório, elaborado pela Divisão de Operações de Inteligência Cibernética, detalha como sistemas da agência foram usados sem autorização judicial para vigiar opositores, jornalistas e servidores públicos.
A seguir, os principais pontos do relatório:
A organização utilizava os recursos técnicos e humanos da agência para executar ordens de interesse político. Mudanças em decretos entre 2016 e 2020 favoreceram a centralização das operações.
A cadeia hierárquica, que envolvia comandos diretos, evitava registros formais e rastreáveis.
O sistema israelense First Mile foi adquirido sem licitação por mais de R$ 5,7 milhões. A ferramenta explorava falhas em redes de telefonia para rastrear alvos em tempo real, sem autorização judicial.
A compra ocorreu na gestão de Janer Alvarenga e continuou sob o comando de Alexandre Ramagem, então diretor-geral da Abin. Técnicos omitiram o caráter invasivo do sistema nos documentos de contratação.
Durante um processo disciplinar interno, investigados ameaçaram expor o uso ilegal do First Mile. A direção da Abin buscou legitimar retroativamente o uso da ferramenta, inclusive com declarações contraditórias de servidores pressionados.
Ramagem interveio diretamente no procedimento, suspendendo demissões sem atribuição legal. O episódio foi descrito como “chantagem institucional”.
A estrutura clandestina produziu monitoramentos e dossiês sobre opositores, como os parlamentares Humberto Costa e Alessandro Molon, além do jornalista Leandro Demori.
Foram rastreadas lideranças de caminhoneiros, servidores do TSE, institutos de pesquisa, magistrados do STF e até familiares de Jair Bolsonaro, como Jair Renan Bolsonaro. O material alimentava narrativas de fraude eleitoral.
Uma reunião com Jair Bolsonaro, Augusto Heleno, Alexandre Ramagem e advogadas envolvidas no caso Flávio Bolsonaro tratou de estratégias para invalidar dados da Receita Federal.
A Abin buscava dossiês sobre auditores fiscais e tentou influenciar a nomeação de corregedores para bloquear investigações.
Policiais federais cedidos à Abin atuaram na campanha de Ramagem para deputado federal, com uso de recursos não declarados. Fontes internas da agência recebiam cargos em troca de informações políticas.
O ex-diretor obteve listas de inquéritos da PF no Rio de Janeiro e participou da manipulação de investigações envolvendo os casos Marielle Franco e Adélio Bispo.
A gestão atual da Abin, sob comando de Luiz Fernando Corrêa, adotou medidas que, segundo a PF, dificultaram a apuração. Houve atrasos na entrega de logs, tentativas de levar o caso ao STF e formatação de notebooks usados nas investigações.
A ex-corregedora Lidiane Souza dos Santos, que colaborava com a Polícia Federal e a CGU, foi alvo de assédio e dossiês internos.
A Polícia Federal indiciou nomes como Alexandre Ramagem, Felipe Arlotta Freitas, Henrique Zordan e outros por organização criminosa, peculato, fraude processual, corrupção passiva e violação de sigilo.
As ações foram classificadas como reiteradas e articuladas, com divisão de tarefas e uso da estrutura estatal em benefício de interesses políticos.
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